A Non Sequitur é uma popular história em quadrinhos publicada diariamente em centenas de jornais americanos, incluindo o Washington Post. A tirinha publicada na edição de 3/10, no entanto, não foi a que o cartunista Wiley Miller havia desenhado para aquele dia. Editores no Post e outros jornais optaram por não publicar o quadrinho planejado por Miller e repetiram um anterior. Eles ficaram preocupados que a tirinha pudessem ofender e provocar alguns leitores, especialmente muçulmanos.
Miller é conhecido por sua sátira social. À primeira vista, o quadrinho que ele desenhou não parecia ter nada demais. Era uma cena bucólica imitando o livro infantil Onde está Wally?, com um parque cheio de crianças brincando e comprando sorvete, animais de estimação e adultos pegando sol, sob a legenda ‘Onde está Maomé?’.
A tirinha era uma clara referência à polêmica causada em 2006 quando um jornal dinamarquês convidou cartunistas a desenhar o profeta Maomé. Depois da publicação dos cartuns, muçulmanos em diversos países fizeram protestos contra o que consideraram blasfêmia.
O desenho de Miller também foi uma referência ao ‘Dia de todos desenharem Maomé’, um protesto pela liberdade de expressão criado este ano por cartunistas diante do que foi amplamente interpretado como uma ameaça de morte feita por um clérigo islâmico aos dois criadores do desenho animado South Park, que mostraram Maomé usando uma roupa de urso em um episódio do programa. Os cartunistas idealizadores do movimento argumentaram que, se houvesse cartunistas suficientes para desenhar Maomé, não haveria como ameaçar todos.
Crítica precisa
O ponto na tirinha de Miller é que Maomé não está no desenho, então não é possível encontrá-lo. Ainda assim, o editor Ned Martel achou melhor não publicá-la depois de conversar com outros editores, entre eles o editor-executivo Marcus Brauchli, porque ‘poderia parecer uma provocação deliberada sem uma mensagem clara’. Além disso, ‘o motivo da piada não estava imediatamente claro e as pessoas poderiam pensar que Maomé estava representado por algo no quadrinho’.
Alguns leitores acusaram o Post de censura. Miller ficou enfurecido. O cartunista explicou que a ideia era satirizar a ‘insanidade de um grupo de pessoas que está protestando e uma mídia com medo de publicar qualquer cartum que tenha a palavra Maomé’. ‘A grande ironia é que jornais como o Post ficaram com medo de publicar a tirinha, o que valida a precisão da sátira’, comentou ele em e-mail enviado ao ombudsman do diário, Andrew Alexander.
Apesar de não ter aparecido no jornal impresso, a tirinha foi divulgada no site do Post. ‘A referência a Maomé é tão vaga neste caso que não vejo como ofensa’, opinou o diretor de comunicação do Conselho sobre Relações Americanas e Islâmicas, Ibrahim Hooper. Para Alexander, os editores erraram ao não publicar a tirinha. Fãs do Non Sequitur esperam que Miller seja provocador – e há uma diferença em provocar raiva e provocar os leitores a pensar. Ao contrário dos cartuns dinamarqueses, dificilmente o de Miller geraria protestos.