Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Onde estávamos antes?

Acho que nós brasileiros, ou digo negros, mestiços, italianos puros, alemães puros? estamos falando de Brasil. Há uma hipocrisia gritante quando uma novela gera tanta polêmica hoje. E onde estávamos quando a escrava Isaura era Lucélia Santos, a própria personificação da mestiça brasileira? E quando em blocos de Salvador os negros não entram? Quando no Bahia Tennis até pouco tempo atrás negro só pela área de serviço? Quando a bailarina do grupo é negra e é trocada por uma morena? Quando a loira é uma sarará? Quando o ‘rei’ Pelé diz que negro com negro não vende capa de revista? Quando o presidente eleito anuncia com muito estardalhaço que o juiz que assume o tribunal superior é negro? Quando a ‘rainha dos baixinhos’ diz que os negros têm cabelos rebeldes? Quando o Sargenteli vendia as mulatas quentes? Quando a própria rede em questão fez matéria sobre o Ilê dizendo como os negros são racistas? Quando a revista dá destaque aos 10 negros mais ricos do Brasil? Onde estávamos até agora? Enfim acordamos? Por que as matérias sobre baiano e carioca falam de vagabundos que só gostam de samba, futebol ou de se embalar na rede? Não seria por concentrarem a maior população negra do país?

Clarice Freitas, digitalizadora, Porto Alegre

Melhor nos corrigirmos logo

A discriminação contra os negros no Brasil e as ações para sua eliminação têm provocado tantas polêmicas e interpretações que mereceriam da mídia uma discussão sincera e franca. É preciso esclarecer por que os homens negros ganham menos do que os homens brancos e por que as mulheres negras ganham menos do que as mulheres brancas, se não há preconceito racial contra os negros no Brasil como muitos insistem em dizer? É preciso esclarecer que só se faz justiça quando o ofensor repara tanto quanto possível os danos causados ao ofendido e deixa de ofender a partir deste momento. Enquanto não admitirmos que, como nação, exploramos os negros, não vamos entender o objetivo das ações afirmativas. E continuaremos a discutir o sexo dos anjos, em vez de nos corrigirmos. Mutatis mutandis, o mesmo vale para as mulheres, os índios, os estrangeiros e os excluídos em geral.

Vera Silva, psicóloga, Brasília



Será que é racismo?

Não podemos ser hipócritas e negar que em nosso país existe preconceito racial. Porém, creio que existe um certo exagero quando se fala na novela, em relação aos insultos da vilã à mocinha. A novela não mostra um terço do que realmente deveria mostrar para que os brasileiros possam entender a realidade vivida pela população negra no Brasil. Para que mascarar ou dar um ‘ar’ adocicado à trama se a realidade negra no Brasil é outra? Se fizermos uma pesquisa com os telespectadores da novela veremos que atitudes como a da vilã em relação à mocinha são repudiadas veementemente, e despertam o ódio do público em relação as atitudes da vilã. Hipocrisia seria mascarar a situação do negro no Brasil e mostrar negros felizes, ricos, e bem tratados pela população, quando a realidade é inversa.

Creio que racismo maior seja a obrigatoriedade de cotas para negros em universidades, por exemplo. Será que os negros são menos inteligentes do que os brancos? Será que um negro que entra numa universidade pelo sistema de cotas terá o respeito dos demais colegas universitários? Será que isso não seria um tipo de preconceito com os ditos brancos? E, por fim, será que isso não seria um autopreconceito?

Thiago Almeida, estudante de Jornalismo, Campina Grande, PB