Vi e confesso que não li um artigo do Brizola, publicado na Folha de Londrina na semana, sobre o caso Lula-NYT. Nesta altura só se investe tempo em ler quem tem algo a dizer. Não é o caso. Como não são Diogo Mainardi e Cláudio Humberto Rosa e Silva (nosso derradeiro ‘adido cultural’, numa sinecura de US$ 8 mil em Lisboa e porta-voz da turma Collor-PC). Pois os citados acima são as fontes de Larry Rohter para a tal matéria sobre a ‘preocupação do país’ com as cervejas e a cachaças’ que Lula consome. Segundo diz o Planalto, o New York Times nem cogitou direito de resposta para uma matéria tola, feita com fontes sem credibilidade e leviana e diletante. Deve ter sido escrita após o terceiro drinque, num dia sem pauta. O editor, cheio de espaço, nem deve ter lido, como ocorria com as matérias de Jayson Blair, que tornaram o NYT um jornal de ficção.
Então o governo brasileiro tomou a medida extrema de cancelar o visto do sujeito. Será que errou? Eu não conhecia Rohter, fiz uma busca rápida na internet e as coisas ficaram mais claras: o correspondente do NYT está mais para aventureiro inconseqüente do que jornalista. Além da matéria que reporta um suposto separatismo da Patagônia da Argentina, o Larry andou aprontando no Rio, denunciando que tinha recebido uma carta com antraz (moda na época). ‘Denunciou’ invasão de terras ianomâmis pelo Exército brasileiro e estupros de índias por soldados, matéria explosiva refutada pelo Exército. Andou fazendo matérias sobre ‘terroristas na Tríplice Fronteira’ em Foz, num verdadeiro festival de barrigas. O estilo é o mesmo: ouve algumas fontes, não checa nada e publica.
Ou seja, é um aventureiro, não um jornalista. Concluí que a cassação do visto está correta, conforme analisa o jurista Dalmo Dallari. ‘Para Dallari, ‘foi absolutamente correta a interpretação tanto jurídica quanto política’, adotada pelo governo brasileiro ao decidir cancelar o visto do jornalista americano. Na sua avaliação, a matéria não se qualifica como jornalística e nem é informativa e tampouco transparece a opinião do profissional’. (Agência Brasil, 12 de maio).
Também me espanta a facilidade das entidades representativas de jornalistas em defender automaticamente aventureiros como Larry Rohter. Fenaj, Abraji, ACE e outras entram em frenesi corporativo. Saem em defesa de picaretas como Larry. Da mesma forma que não dão a mínima para os nossos próprios picaretas, que estão tornando o jornalismo brasileiro um lixo. Descobriram que o Larry ganhou um prêmio de jornalismo, o Embratel. Mas o que tal fato muda? Há muito que os prêmios de jornalismo, inclusive o antigamente respeitado Esso, deixaram de ser referencial de qualidade. Há prêmios para todo lado, banalizou-se a coisa. Os caçadores de prêmios perdem mais tempo em busca de inscrições do que trabalhando. De modo que a minha opinião é simples: nesse caso acertou o governo Lula.
Quanto ao NYT, o jornal poderia mandar o Jayson Blair para cá para substituir Larry Rohter. Manteria o famoso padrão NYT.
Marcos Cesar Gouvêa, jornalista, Londrina, PR
Paradigmas de Wall Street
A minha concordância com este artigo de Alberto Dines é total. Mas falta dizer uma coisa muito importante: estes ‘grandes’ jornais norte-americanos e estes ‘grandes’ jornalistas norte-americanos não são tão grandes como muita gente pensa e aceita. Basta vermos a cobertura que fazem da questão do Iraque para nos apercebermos de que, para além da evidente manipulação, a falta de bases culturais sólidas de muitos dos seus jornalistas é uma constante. Eles não conseguem raciocinar fora dos paradigmas de Wall Street. Este caso do presidente Lula é um exemplo, mas contém algo mais. De uma forma mais ou menos subliminar, está ali patente aquela atitude de olhar para o Brasil como Terceiro Mundo e para o seu presidente, seja este ou qualquer outro, como líder de uma qualquer república das bananas.
E isso me deixa indignado. Todos sabemos, mesmo os não-brasileiros, que o país tem muitos problemas, que tem longas batalhas pela frente, que necessita de décadas para as vencer. Mas não é – nunca foi – um país terceiromundista. É hoje um grande país, cada vez mais respeitado e influente na cena internacional. E esse é o grande problema do Império: que uns milhares de quilômetros a Sul esteja a despontar uma grande potência servida por uma base cultural humanista. Como português e europeu senti-me indignado e triste por ver um jornal como o NYT resvalar para o nível dos tablóides amarelos.
Augusto Vilela, jornalista, Lisboa
No mínimo tendencioso
Todos estavam criticando o correspondente do New York Times, de repente a maré virou e agora todos criticam Lula. Qualquer jornalista decente sabe que o correspondente passou longe do que se pode chamar de ética jornalística. Basear-se na opinião de três pessoas para presumir ‘uma preocupação nacional’ é algo, no mínimo tendencioso. Quando se considera, então, quem são essas pessoas a coisa fica ainda mais escancarada. A indignação de Lula tem motivo, e muito. Sua atitude também, mas não foi a melhor escolha. O presidente devia ter jogado com as mesmas armas do seu ‘opositor’ (pois isso foi uma oposição despropositada e clara ao Lula), já que o resto da mídia estava a seu favor. Ele devia usar essa fatia para desmoralizar o correspondente e seu jornal, buscando um alcance tão grande ou maior do que a infeliz matéria por eles publicada.
Afinal esse ‘tipo de jornalismo’, nada concreto, não deve ter vez. E no país do New York Times a objetividade e a imparcialidade são defendidas como superlemas dos jornais. Ultimamente algumas pessoas chamaram a atitude de Lula de prepotente. Prepotente é um bom adjetivo pra qualificar a atitude do New York Times e de seu correspondente, que ainda não foram capazes nem mesmo de assumir seu erro.
Luciana Pacheco
Contra Bush pode
Muito interessante nosso governo processar o jornalista americano do NYT. Ora, não há um só dia em que em nossa mídia falada e escrita não se vejam nossos jornalistas acusarem Bush de burro, nazista, louco etc.. O Arnaldo Jabor, no Jornal Nacional, e diversos colunistas. E nunca o governo americano processou ninguém.
Dirceu Santos, jornalista, Brasília