Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paquistão rebate ataques da mídia indiana

Os atentados que deixaram mais de 180 mortos em Mumbai, na semana passada, já geraram pelo menos um conflito. Enquanto os governos da Índia e do Paquistão tentam investigar os ataques com calma para evitar uma tragédia ainda maior, a imprensa dos dois países deu início a uma verdadeira guerra de palavras.


A mídia paquistanesa respondeu ao tom sensacionalista dos veículos de comunicação indianos, que não pouparam detalhes dramáticos ao reportar a suposta ligação dos terroristas com o Paquistão. Em editoriais, artigos de opinião e comentários de âncoras televisivos, a mídia da Índia passou a ser acusada de jornalismo irresponsável por aceitar, sem questionamentos, informações incendiárias de ‘fontes anônimas’ da polícia e do setor de inteligência do país.


Análises


Talk shows políticos no Paquistão passaram a dedicar edições inteiras à análise da cobertura indiana sobre os atentados da última quarta-feira (26/11), em que terroristas fortemente armados invadiram hotéis, uma estação de trem e um centro judaico, entre outros locais com grande concentração de estrangeiros. ‘No primeiro dia, a mídia indiana começou a fazer alegações contra o Paquistão. No dia seguinte, a mídia paquistanesa começou a rebater as acusações. Agora, eu acho que foi dado início a uma guerra entre Índia e Paquistão’, afirma Hamid Mir, um dos mais populares âncoras paquistaneses. ‘Os Exércitos dos dois países podem não estar lutando, mas a mídia da Índia e do Paquistão estão envolvidas em uma grande briga. Para mim, o processo de paz entre os dois países é a grande vítima desta guerra’.


Segundo o também apresentador de TV paquistanês Talat Hussain, o problema da mídia indiana é que, por não reportar as falhas de seu próprio governo, acaba sendo obrigada a preencher o noticiário televisivo com mentiras e informações imprecisas. ‘Só porque você já esgotou sua cobertura, não significa que tenha licença para levar os dois países à beira da guerra. Somos países com armas nucleares’, afirma. O clima indigesto gerado pela imprensa é tão ruim que, tentando aliviar um pouco a situação, o presidente paquistanês, Asif Zardari, participou por telefone de um programa de TV político indiano, no fim de semana, prometendo que ações duras serão tomadas contra qualquer ligação terrorista com o Paquistão.


Onda de ataques


Em artigo no Times of India, o colunista Gautam Adhikari afirmou que ‘muito do terrorismo global de hoje, e não só o que atingiu a Índia, emana ou é planejado do Paquistão’. O jornal paquistanês Dawn rebateu. ‘Segmentos da mídia indiana se envolveram em uma onda de ataques ao Paquistão, misturando fatos com teorias para apresentar ‘provas’ da malícia e da perfídia do Paquistão’, alertou, em editorial publicado no sábado (29/11).


Além dos comentários e editoriais indianos criticando o Paquistão, os jornalistas paquistaneses também se irritaram, na última semana, com a grande quantidade de informações atribuídas a fontes anônimas. O jornal indiano Hindustan Times noticiou que ‘os corpos dos terroristas encontrados eram todos de paquistaneses’. O Hindu reportou que uma mensagem de e-mail que assumiria a autoria dos ataques teria vindo de um computador no Paquistão. O Indian Express divulgou que ligações interceptadas de celulares de dois terroristas gravaram pelo menos 11 diálogos entre os homens e seu suposto líder, que estaria na cidade paquistanesa de Karachi. Antes disso, a imprensa indiana noticiou que o único terrorista capturado vivo teria confessado pertencer a um grupo militante paquistanês chamado Lashkar-e-Taiba. A maioria dos dados da cobertura tinha como base as tais fontes anônimas da polícia e inteligência. Os jornalistas indianos se defendem, alegando que apenas repassam as informações destes oficiais. Informações de Saeed Shah [The Guardian, 1/12/08].