Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Paulo Machado

‘O leitor José Ivan Mayer Aquino é um assíduo frequentador das páginas da Agência Brasil. Ele acompanha o que é publicado e nunca perde a oportunidade de uma crítica salutar visando contribuir para a qualidade da informação. Foi a partir de uma demanda deste mesmo leitor que em 26 de novembro passado publicamos a Coluna do Ouvidor – Leitores pedem contrapontos na qual observamos a necessidade de contrapor diversas opiniões quando trata-se de um assunto complexo como a política de comércio exterior brasileira.

Agora José, atento como sempre, volta a fazer observações importantes sobre o assunto a partir da matéria ‘Dilma passará quatro dias na China para negociar acordos econômicos e comerciais’, publicada dia 21 de março: ‘Lu é a mullher do governador [do presidente chinês]. Se os empresários querem equilíbrio na balança comercial com a China, onde

somos superavitários nesse momento com o nosso maior parceiro comercial, significa que teremos que importar mais da China? O centro da reunião é o Fórum BRIC-Ásia no momento em que o Japão arrasado será uma oportunidade ímpar para o mundo em desenvolvimento, para uma re-interpretação nuclear de Hisoshima a Fukushima, do re-alinhamento mundial conjunta BRIC + Alemanha contra a invasão da Líbia pelos outros 4 dentre as maiores economias mundiais…’

Nosso amigo José Ivan tem razão: o nome do presidente chinês é Hu Jintao, não Lu Jintao, que é o nome de sua esposa. Pela lógica, se ‘os empresários [brasileiros] estão pedindo equilíbrio na balança comercial com a China’, conforme consta na referida matéria, e o Brasil teve um superavit no comércio bilateral em 2010, realmente não faz sentido a presidente Dilma buscar ‘um acordo sobre o acesso de produtos brasileiros ao mercado chinês’, a menos que se contextualize quais são esses produtos.

Em uma breve consulta às páginas eletrônicas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC constatamos que o superavit obtido pelo Brasil na balança comercial entre os dois países, em 2010, de US$ 5,2 bilhões, ligeiramente superior ao superavit de US$ 5,1 bilhões no ano anterior, deu-se principalmente em função do grande aumento do preço do minério de ferro. Em termos de volume, as exportações do Brasil para a China diminuíram entre 2009 e 2010 – e em 2007 e 2008 o superavit foi a favor da China (US$ 1,9 bilhões em 2007 e US$ 3,5 bilhões em 2008).

A falta de contextualização do assunto, tanto em relação às tendências em um prazo mais longo quanto em relação à qualidade das exportações, coloca o leitor diante de um aparente paradoxo que a matéria não fornece elementos para entender. Assim, é possível que o ‘equilíbrio’ desejado refira-se à composição da pauta de produtos que integram o comércio bilateral, onde o Brasil exporta matérias-primas com baixo valor agregado – mais de 75% das exportações do Brasil para a China são de apenas três commodities –minério de ferro, soja e petróleo bruto, e importa manufaturados – 98% das importações brasileiras da China são de produtos manufaturados de alto padrão como os três principais: televisões, telas LCD e telefones.

Os dados do MIDC ao longo do tempo demonstram também como a qualidade das exportações veio deteriorando-se desde 2003 em termos do valor agregado das mercadorias comercializadas. Naquele ano, matérias primas e produtos industrializados tinham praticamente o mesmo peso. Na pauta de 2010 esta relação mudou na proporção de cinco para um, o que reflete um crescimento no valor das exportações de matérias primas da ordem de onze vezes, enquanto que o valor das exportações de manufaturados cresceu pouco mais de duas vezes. Sem aprofundar o assunto não há como explicar esse fato aos leitores, tampouco suas implicações no processo de desindustrialização e o conseqüente impacto na qualidade do emprego. Portanto o desiquilíbrio comercial realmente existe, mas está muito aquém das informações contidas na matéria da ABr.

A Agência Brasil ainda não respondeu à demanda do leitor.

Até a próxima semana.’