‘A leitora Ana Dal Lago escreveu para esta Ouvidoria cobrando cobertura democrática e imparcial das eleições: ‘É inaceitável o fato de que apenas os grandes partidos estejam sendo cobertos nestas eleições por esta empresa jornalística que, afinal de contas, é pública! Por que não cobrem o PSOL, o PSTU e o PSDC? ‘, perguntou ela.
A Agência Brasil respondeu: ‘estamos fazendo a cobertura dos partidos mencionados de acordo com a agenda de evento dos mesmos. Se a leitora procurar em nosso sistema de busca encontrará as matérias.’
A Resolução nº 04/2010 do Conselho Curador da EBC, dispõe sobre o Planejamento da Cobertura das Eleições 2010:
3.2 Equilíbrio, isenção, tratamento isonômico aos candidatos: Esta regra fundamental do jornalismo dos canais públicos ganha maior relevância e pertinência no momento eleitoral. Todos os responsáveis pela gestão e todos jornalistas da empresa deverão estar bem advertidos sobre a importância desta regra e todos os responsáveis pela supervisão estarão atentos à sua observância.
5.2 Telejornais e radiojornais: Seguindo as diretrizes conceituais acima definidas, os telejornais darão tratamento isonômico aos candidatos realmente competitivos, segundo o desempenho nas pesquisas e a expressão política de suas coligações, registrando a movimentação dos candidatos chamados ‘nanicos’ quando produzirem atos e fatos merecedores de registro jornalístico.
Como os leitores podem observar, não há diretrizes editoriais específicas do Conselho Curador para a cobertura da Agência Brasil em relação aos partidos designados como ‘nanicos’. Portanto entendemos que para o webjornalismo deve prevalecer a regra 3.2, acima citada, sendo feita com equilíbrio, isenção e tratamento isonômico aos candidatos.
Os problemas da cobertura da ABr começaram com a publicação da agenda dos candidatos trazendo apenas os três melhores colocados nas pesquisas eleitorais nos períodos compreendidos entre os dias 05 a 09 e 12 a 14 de julho.
Leitores como Eduardo d´Albergaria protestaram: ‘Na agenda dos presidenciáveis consta a programação de apenas 3 concorrentes. Qual o critério para uma agência pública rifar os outros 6 cadastrados no TSE conforme a legislação exige?’
A Agência Brasil respondeu: ‘As observações do leitor procedem. A partir de hoje estamos deixando de publicar a agenda dos três candidatos com maior índices de referência dos eleitores nas pesquisas. Voltaremos a publicá-la quando tivermos a agenda de todos os candidatos.’ Nos dias 15 e 16 a publicação das agendas foi suspensa. No dia 19 ela foi retomada, desta vez com as agendas de todos os nove candidatos.
Mas, se o problema com as agendas foi corrigido, nas matérias sobre os candidatos a diretriz 3.2 não está sendo respeitada. Vejam os números da cobertura, em ordem crescente, em relação a todos os candidatos durante o período compreendido entre os dias 05 e 28 de julho :
Rui Pimenta (PCO): 17 matérias, das quais 8 (47%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (12%) às traduções da agenda. Das 7 matérias restantes, uma (6% do total) trata das propostas do candidato.
José Maria Eymael (PSDC): 18 matérias, das quais 8 (44%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (11%) às traduções da agenda. Das 8 matérias restantes, uma (6% do total) trata das propostas do candidato.
Ze Maria (PSTU): 19 matérias, das quais 8 (42%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (11%) às traduções da agenda. Das 9 matérias restantes, três (16% do total) tratam das propostas do candidato.
Ivan Pinheiro (PCB): 20 matérias, das quais 8 (40%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (10%) às traduções da agenda. Das 10 matérias restantes, quatro (20% do total) tratam das propostas do candidato.
Levy Fidelix (PRTB): 21 matérias, das quais 8 (38%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (10%) às traduções da agenda. Das 11 matérias restantes, duas (10% do total) tratam das propostas do candidato.
Plínio Sampaio (P-SOL): 29 matérias, das quais 8 (28%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (7%) às traduções da agenda. Das 19 matérias restantes, seis (21 % do total) tratam das propostas do candidato.
Marina Silva (PV): 101 matérias, das quais 8 (8%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (2%) às traduções da agenda. Das 93 matérias restantes, 27 (27 % do total) tratam das propostas da candidata.
José Serra (PSDB): 128 matérias, das quais 8 (6%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (2%) às traduções da agenda. Das 118 matérias restantes, 37 (29 % do total) tratam das propostas do candidato.
Dilma Rousseff (PT): 134 matérias, das quais 8 (6%) correspondem à ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e 2 (1%) às traduções da agenda. Das 124 matérias restantes, 18 (21 % do total) tratam das propostas da candidata.
No total das matérias em que cada candidato é citado, a média de citações para os seis candidatos ‘nanicos’ é 21, enquanto a média dos três candidatos principais é 121, quase seis vezes mais. Se forem excluídas desta comparação as matérias que correspondem a ‘Agenda dos Presidenciáveis’ e as traduções da agenda para o Inglês, a média para os seis candidatos ‘nanicos’ é de 11 citações, enquanto que a mesma média para os três candidatos principais é 111, dez vezes mais. A média do numero de matérias, onde são apresentadas propostas dos candidatos, dos seis chamados ‘nanicos’ é 3, enquanto que a média do número de matérias para os três candidatos considerados ‘principais’ é 27, nove vezes mais.
As diferenças no tratamento dos candidatos, em parte, deve-se ao fato de que na EBC mídia gera mídia. Ou seja, devido a uma decisão editorial da TV Brasil apenas os três melhores colocados nas pesquisas eleitorais foram convidados a participar do programa ‘3 a 1’, conforme a diretriz 5.2, acima citada. No entanto a repercussão das entrevistas na ABr renderam 7, 8 e 10 matérias para os candidatos Dilma, Serra e Marina, respectivamente. Neste caso, os ‘nanicos’ não produziram ‘atos e fatos merecedores de registro jornalístico’, provavelmente porque não foram convidados a participar.
Este Ouvidor estará de férias nas próximas semanas. Retornaremos com nossa coluna semanal dia 03 de setembro.
Até lá.’