Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Paulo Rogério

‘‘A imprensa parece ter perdido a capacidade – ou o gosto – de fazer matérias que esgotem um assunto’ – Ligia Martins de Almeida. jornalista

Entra ano, sai ano as cenas de casas derrubadas, deslizamentos e vidas perdidas se repetem. Falta à imprensa aquilo que o leitor Renato Silva reclama: continuidade na cobertura. As enchentes no Rio de Janeiro voltaram a mostrar, semana passada, as consequências da falta de políticas públicas de moradia e ocupação do solo. E também de fiscalização da imprensa. As manchetes são dramáticas e as imagens provocam a comoção, mas o noticiário é igualzinho ao de anos anteriores.

O POVO repetiu o que a maioria da imprensa nacional produziu, com um mínimo de análises das causas das enchentes. Esqueceu, no entanto, de lembrar que há um ano o mesmo ocorreu em Angra dos Reis (RJ) e, menos que isso, disso no Morro do Bumba, em Niterói (RJ). Ainda assim publicou a melhor cobertura local.

Há cerca de dez dias choveu em Fortaleza 135 mm, um pouco menos do que se viu em Petrópolis (RJ). A cobertura fixou-se em mostrar pontos de alagamentos, trânsito caótico e problemas nas ruas. Nada de novo. No lugar de antever os problemas, cobrar soluções e fiscalizar promessas feitas em coberturas anteriores vai a reboque do factual. A tal falta de continuidade reclamada pelo leitor se refere também a esse caso.

Ao mostrar o caos nacional, faltou ao jornal discutir o problema no âmbito local. Como está a população afetada pelas chuvas que alagaram o Ceará em 2009? Naquele ano o Ceará registrou 17 mortes o maior número do Nordeste. Na época a editoria de Opinião do O POVO lançou a questão junto a estudiosos que defenderam a criação de comissão técnico-científica. De lá para cá, o assunto caiu no esquecimento. A imprensa só lembra das enchentes quando a água começa a bater na canela.

Desconfiar sempre

Na coluna do dia 25 de dezembro do ano passado – Desinformação geral – abordei o que considerei equívoco do jornal em embarcar na informação errada de Lúcia Teixeira da Superintendência Estadual do Meio Ambiente de Ceará (Semace), na edição do dia 21 daquele mês. No título da matéria sobre inspeção veicular, o jornal afirmou que ‘Semace quer criar taxa para veículos no Ceará’. O texto garantiu que ‘nova taxa vai ser aplicada aos proprietários de veículos’.

Apontei como falhas que a taxa já existe e que a Semace não tem competência para criar taxas. O repórter Andreh Jonathas, autor da matéria discordou da avaliação. Para ele o que houve foi um recuo da fonte. ‘Na verdade, confiamos nas pessoas que estão à frente das representações políticas do Estado’. Um velho jargão das redações prega que jornalista precisa desconfiar de todo mundo. Não basta transcrever o que o entrevistado diz. É preciso sempre questionar. Cabe ao jornalista esclarecer o leitor, mostrar as contradições das ‘autoridades’ e informar o correto.

Agressões mútuas

A diretora de Administração e Finanças do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará (Sindjorce), jornalista Deborah Lima, cobra do ombudsman, em nome da entidade, uma avaliação do que ela chama de ‘omissão’ de tumulto envolvendo grupo de funcionários do jornal e membros do Sindjorce e Sindicato dos Gráficos. ‘A matéria omite tanto a versão do jornal, de que funcionários foram agredidos por sindicalistas, quanto esconde a versão do sindicato, de que dirigentes foram agredidos por funcionários’, afirmou ela. Ao ombudsman ela pergunta se é ‘ético esconder do público o que houve’.

Antes, vamos aos fatos. No dia 8 de janeiro, foi publicada matéria mostrando dança de grupo de funcionários do jornal, na Praça do Ferreira. No último parágrafo, o texto informa que houve protesto do Sindjorce e Sindicato dos Gráficos. Na quinta-feira, 13, o jornal publicou nota explicando incidentes. Os sindicatos também lançaram nota. Em ambas há denúncias de agressões. Questionada se houve alguma decisão de não publicar a agressão, a Chefia de Redação disse que ‘não houve nada nesse sentido, tanto que noticiou as manifestações de funcionários e a dos sindicatos. Sobre o episódio (as agressões) foram publicadas as versões em notas oficiais’.

Primeira pedra

Não cabe ao ombudsman entrar na questão sindical que as duas notas enveredaram. Muito menos disciplinar quem está ou não certo ou quem deve ser punido. Há um foro legítimo para tal. Pelas versões divulgadas, fica claro que houve realmente agressão de ambos os lados, o que é lamentável para a categoria e a empresa. Assim como o leitor, só tomei conhecimento dos incidentes pelas notas divulgadas. Não vejo nada demais que a informação tivesse sido colocada no texto inicial ou destacada em outro ponto do jornal, até mesmo no noticiário policial, lugar ideal para violência. Falar em ética, neste caso particular, me parece fora do contexto. Ela foi perdida ao primeiro soco.

FOMOS BEM

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