‘‘Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento da justiça.’ (Rui Barbosa).
Sábado, dia 5 de junho de 2010. De um lado, na Página 2, O POVO noticia que uma quadrilha de jovens da classe média alta que furtava veículos de luxo na Aldeota foi desarticulada. Do outro, na página seguinte, a troca de tiros entre policiais e jovens assaltantes no bairro da Serrinha. Em comum entre eles, o flagrante. Mas um fato não passou pela atenção do leitor. Enquanto na segunda matéria os nomes dos três envolvidos eram citados, na outra os jovens da classe média alta tiveram sua identidades preservadas. Foi o suficiente para o protesto geral. ‘Por que a diferença de tratamento? Os fatos, em sua origem, são semelhantes – assaltantes flagrados pela polícia. Omitir nomes de filhos da classe média alta envolvidos em delitos é orientação do jornal?’ indagou o jornalista Marcus Sá. ‘Se O POVO defende a cultura de paz, não me parece estar no caminho certo’ sentenciou ele. ‘Não era para existir um tratamento isonômico entre bandido rico e bandido pobre?’, questionou o leitor Victor Luis Meyer. O coro de insatisfação e desconfiança prosseguiu. ‘Não consigo perceber a diferença entre os dois casos. Será que a classificação ‘classe média alta’ pesou na decisão?’, indagou o leitor Cláudio Reginaldo. Já a leitora Iranilde criticou a diferença de tratamento nos dois casos. ‘Por que não nomeou os jovens da classe média. Há algo por trás disso?’. A confusão dos leitores tem seus motivos. Houve falhas no procedimento o que acabou aumentando a dúvida.
CRITÉRIOS DEFINIDOS
Pois bem. Na primeira matéria, o texto diz que ‘os dois suspeitos foram conduzidos ao 2º Distrito Policial (Aldeota) onde foram autuados em flagrante por furto’. E segue sem dizer o nome dos envolvidos. Na segunda, o texto é claro ao citar que o ‘terceiro acusado de ter participado do assalto foi preso e autuado em flagrante no 5º DP’. No incidente, um jovem morreu e outro foi baleado. Os nomes dos três foram revelados. Porque a diferença se houve o flagrante? Segundo a editora-executiva do Núcleo de Cotidiano, a jornalista Tânia Alves, responsável pela editoria Fortaleza, de acordo com os procedimentos do O POVO os nomes dos acusados em crimes só são citados em quatro ocasiões: prisão em flagrante, indiciamento, denúncia e prisão decretada. De acordo com ela, na primeira matéria a prisão em flagrante caiu na delegacia e por isso os nomes não foram publicados. Não é o caso da outra matéria ‘Assaltante morre após troca de tiros’. ‘O flagrante se confirmou e os acusados foram presos’. Na verdade, segundo informou um policial do Ronda do Quarteirão que diz participado da ação e mandou mensagem para o ombudsman, os jovens foram liberados porque a vítima do furto não quis registrar queixa. Isso ocorreu somente na madrugada de sábado, o que não dava tempo de ser publicado. Isso foi verificado só no dia seguinte. O erro do texto foi o uso do termo ‘autuado em flagrante’. Mais ainda em ter esquecido de avisar ao leitor os motivos de não identiificação dos envolvidos.
INFORMAÇÃO X PROPAGANDA
O leitor Cláudio Alexandre enviou um levantamento detalhado sobre a quantidade de anúncios publicados no jornal criticando o possível excesso de publicidade. Como exemplo, ele citou a edição do último dia 5 de junho. Pelas suas contas, O POVO chegou a um total de 40,62% do espaço da edição ocupado por anúncios contra 59,38% de informações. ‘Parece-me que estes números permitem a leitura de que a informação não está sendo privilegiada?’ questionou. Segundo a Chefia de Redação o leitor tem razão no levantamento. Neste dia específico, a taxa chegou a 44%. A reclamação foi repassada ao setor responsável para evitar repetição. De acordo com a chefia, o limite geralmente é de 35% de ocupação comercial no 1º caderno (primeiro bloco + desdobramento). Se ultrapassado, há o aumento do número de páginas. Exceções, no entanto, podem voltar a acontecer em períodos próximos a datas comerciais. Até o dia 9 de junho, a média de anúncios era de 28,5%.
MISTÉRIO EM ITATIRA
Com atraso em relação ao concorrente, O POVO publicou na última sexta-feira, na editoria Ceará, matéria sobre supostos fenômenos paranormais que estariam afetando grupo de jovens na cidade de Itatira, a cerca de 170 km de Fortaleza. O leitor Wanderley Neves não gostou da cobertura dada pelo jornal ao tema que, segundo ele, tem crescido no interesse da população. ‘Este jornal, que publica semanalmente textos obtidos através da psicografia deveria ter aproveitado a oportunidade para se diferenciar da concorrência’, afirmou. Para ele a única novidade é um ‘irrelevante’ início de acompanhamento dos jovens. ‘O POVO deveria, na verdade, ter buscado explicações para o caso na psicologia, no espiritismo ou em outra doutrina. Enfim, não se prender a uma fonte. Nesse caso, um padre’, explicou. Na realidade há no texto uma segunda fonte – uma assistente social que não quis se identificar – que avaliou o problema como um ‘contágio psíquico’. Sem entrar no mérito religioso, o leitor tem razão em cobrar maior ampliação do tema através da opinião de parapsicólogos e outros religiosos, por mais que o padre citado entenda do assunto.’