Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Paulo Rogério

‘A ética não é uma condição ocasional no jornalismo, mas deve acompanhá-lo sempre, como o zumbido acompanha a abelha – Gabriel Garcia Márquez, escritor.’

Sai o futebol entra a Política.

Com o fim da Copa do Mundo, o noticiário sobre as eleições 2010 ganha força e espaço na imprensa. A preocupação agora dos veículos de comunicação é garantir a imparcialidade e evitar que paixões ou interesses interfiram no jornalismo. A meta é dar um tratamento isonômico aos candidatos e às tendências. As insinuações, no entanto, parecem inevitáveis. O leitor Carlos Castelo Branco, logo na largada da campanha eleitoral, acusou O POVO de favorecer outros nomes, na ilustração da capa de domingo, 4, onde seis candidatos ao governo tentam fazer um gol sobre o governador Cid Gomes, que busca a reeleição. Ele questionou por que Lúcio Alcântara aparecia como quarto colocado da fila de ‘atacantes’. ‘Acho que está sendo direcionado. Ele não é a quarta força’ reclamou. Dois dias depois, o mesmo leitor elogiou o fato de Lúcio ter foto publicada ocupando mesmo espaço (1 coluna e meia) que os demais.

Para que o processo seja esclarecido aos leitores, O POVO está finalizando uma cartilha de conduta para os profissionais da empresa durante todo processo que será divulgada aos leitores. Com relação à chamada ‘paixão’ dos leitores, o editor-executivo do núcleo de Conjuntura, Gualter George, prometeu respeito dentro dos limites do jornalismo. ‘Evidentemente que, da nossa parte, haverá o cuidado de ser justo nas escolhas editoriais’, explicou. A busca será o equilíbrio. ‘O sentido de justiça que aplicamos exige que um fato seja apresentado na sua dimensão. Ou seja, uma foto terá o destaque que merecer pela sua relevância jornalística’, afirmou ele. O mesmo valendo para charges, textos etc.

CARTILHA PARA JORNAIS

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) publicou uma cartilha para os associados – O POVO é um deles – com orientações para as eleições 2010. Destaco algumas que considero importantes para o leitor tomar consciência. Como, por exemplo, o tratamento com os candidatos. A entidade recomenda que os veículos busquem dar tratamento igual às candidaturas. Isso não significa espaços idênticos ou posições semelhantes nas páginas. É permitido ainda ao jornal manifestar opinião favorável a um candidato, partido ou coligação, em editorial. Um fato comum em jornais dos Estados Unidos. O material, entretanto, não pode ser utilizado pelos candidatos.

Há uma preocupação especial com as chamadas ‘notícias sociais’. Nada impede que saiam fatos sobre candidatos considerados relevantes e de interesse público, mas não todo dia. Em colunas sociais, pode-se falar da pessoa, não da candidatura. A cartilha completa pode ser obtida no site www.anj.org.br.

OPINIÕES DIVIDIDAS

‘‘A manchete de arquibancada de domingo do O POVO é de empolgar o mais fanático torcedor brasileiro que odeia a Argentina. Não é esse o papel da imprensa’. O desabafo é do professor universitário Reginauro Catunda criticando a manchete do jornal (2º clichê) do último domingo, 4, sobre a desclassificação dos argentinos do Mundial: ‘Ruim sem a gente, melhor sem eles’. Para o leitor, o jornal estimula a violência entre torcedores. ‘Ela (a imprensa) existe para informar, para opinar, não para torcer e tirar onda de outra torcida’ justificou.

Já a jornalista Isabelle Bento disse que ficou decepcionada com a editoria. ‘Merecemos mais do que uma visão ‘senso-comum’ de jornalistas que se dão o direito de apontar os erros da seleção, de cada jogador’, afirmou. Ela chama de deplorável a manchete do último dia 5 de julho, em referência à saída do técnico Dunga (DE-MI-TI-DO!). A jornalista Tânia Alves, editora-executiva do Núcleo Cotidiano, não vê excessos. ‘Dunga foi demitido mesmo. A demissão foi publicada em nota oficial no site da CBF’ citou. Ela aponta ainda como criativo o título sobre a desclassificação da Argentina, sem ser desrespeitoso, mas ressaltando a rivalidade normal do esporte. Uma criatividade que mereceu elogios do leitor Marcelino Mendes em relação à manchete de sábado: ‘Faltam 1.471 dias para o hexa’. Para ele o título valorizou o esporte. ‘Vislumbra já a próxima competição, sem ficar remoendo o passado’.

LISTA CRITICADA

Jornalismo baseado em previsões é sinônimo de confusão. Já havia dito isso semana passada em referência à coluna Alan Neto, publicada aos domingos, na Página 2. Ironicamente, foi o que aconteceu. Na nota ‘Bola de cristal’, do último dia 4, seis nomes são citados como vencedores de eleição que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE) fará para formação de lista de indicados ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça. ‘Como 20 são os concorrentes, quero saber qual o critério e fonte que o senhor utilizou para a ‘previsão’, desmerecendo os demais!’ desabafou o leitor e advogado André Studart.

A advogada Darlene Braga, uma das candidatas que não estava na lista citada também protestou. ‘Definir previamente quem seriam os seis nomes nada mais é do que exercício de adivinhação ou de predileção. A não ser que tal informação seja confirmada ou referendada através de pesquisas idôneas’ afirmou ela. O jornalista Alan Neto afirmou que trabalha com fontes que têm o sigilo garantido pela legislação. ‘Ademais, o texto começa dizendo que é bola de cristal. Apenas uma previsão e não certeza, sem jamais querer, em tempo algum, comprometer a qualidade dos demais concorrentes’, explicou ele. A Chefia da Redação, por sua vez, considera que não houve excesso. ‘Dentro de um estilo próprio e já consolidado, ele traz um conteúdo de bastidor. Toma o cuidado de prevenir o leitor que não trata de dados definitivos e ainda o convida a conferir’ lembrou. ‘De todo modo, O POVO respeitas todas as considerações e pede desculpas a todos que tenham se sentido atingidos’, finaliza.’