Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Paulo Rogério

‘A apuração jornalística é parte íntima e necessária da técnica jornalística. ‘Jornalista tem que saber apurar corretamente, e ponto.’

Antônio Lemos Augusto, jornalista, advogado e professor universitário

A morte de um casal de empresários na Prainha chocou a população cearense e mobilizou a atenção da mídia durante a última semana. Os três principais jornais da cidade deram o mesmo assunto como manchete por dois dias, usando quase as mesmas palavras. Uma infeliz coincidência. Apesar do mesmo tema, ficou visível o problema de apuração nos três impressos. O POVO descreveu que o assassinato foi a golpes de foice e picareta, que o carro do casal era um Chrysler Stratus – um sedan – e que uma testemunha, um vizinho, teria entrado na casa assim que os suspeitos saíram, visto os corpos e chamado a Policia. Tudo errado. Os dois foram mortos a golpes de enxada e pauladas, o carro era um Bramont/Scorpio 4×4 – um off road – e os corpos foram encontrados somente à noite, quando a Polícia achou o veículo abandonado e decidiu investigar. Os outros jornais também mostraram problemas de apuração. São pequenos detalhes é verdade, mas que para o leitor fazem uma grande diferença. Por isso a boa apuração é um dos principais desafios para o jornalista em busca da credibilidade. Segundo a editora executiva do Núcleo de Cotidiano, Tânia Alves, os dados da matéria foram obtidos no local do crime com a polícia e uma testemunha. ‘Veiculamos a informação atribuindo-a a fonte. Estamos cientes que o objetivo é sempre o acerto, tanto que continuamos no caso e, ao tempo, O POVO fez os reparos necessários’ explicou ela. Realmente, no dia seguinte, o jornal fez o reparo necessário e deu um exemplo de cobertura ouvindo psicólogos, especialistas em comportamento e manchetando a edição com uma frase retirada de entrevista com o assassino – ‘Matei os dois. E daí?’. Agora sim, uma elogiada apuração, apesar de vender a entrevista como exclusiva, o que não foi.

DESSERVIÇO?

Revelar como está a segurança de onde você mora e usa é um desserviço? Até onde vai o limite da imprensa? Para o leitor Sérgio Sales, O POVO errou ao divulgar, na editoria Fortaleza, na edição da última terça-feira (13) que o motorista de um coletivo evitou o assalto ao acionar o alarme ligado diretamente com a polícia. ‘Agora todo bandido sabe que os ônibus possuem este sistema’ afirmou, indignado. Para ele nem tudo deve ser divulgado. Acusação semelhante aconteceu na semana anterior quando o major Marcus Vinicius Saraiva, assessor de Comunicação Social da PM/CE enviou nota reclamando da matéria ‘Baixo efetivo policial facilita assaltos a banco no Interior’, publicada dia 8 de julho, na editoria Ceará, que utilizou informações obtidas nos postos da Polícia Militar em oito municípios vitimas de assalto a banco, ao invés de procurar o setor de comunicação competente da PM. ‘Lamentamos que um órgão de comunicação conceituado como O POVO tenha prestado tamanho desserviço à segurança pública, divulgando dados imprecisos’ disse ele, ressaltando que os dados deixaram a população das cidades expostas às quadrilhas. A editora executiva Tânia Alves garante não ter problema em buscar as fontes oficiais ‘mas em busca da boa informação nenhum repórter pode parar ai. Podemos sim buscar outros tipos de fontes’ afirmou ela, lembrando que naquele dia o setor foi procurado, mas não deu retorno. A editora discorda de qualquer desserviço em ambos os comentários. ‘A matéria serve sim de alerta para que medidas sejam tomadas’ acrescentou.

ADEUS ZEZINHOS E DOSACLOROS

‘Na semana em que o jornal anuncia que é o portal mais visto, bem que se poderia dar um presente aos leitores retirando os comentários de baixo calão’. O desabafo do leitor Hiran Nogueira parece ter sido a gota d’água que faltava para acabar com as inúmeras reclamações com baixo nível dos comentários do O POVO online. Desde a segunda-feira, 12, um moderador está avaliando as mensagens postadas no portal. A alteração visa qualificar o espaço, cada vez mais poluído com insultos, palavrões e expressões vulgares. Já não era sem tempo. O que se lia era de desestimular qualquer manifestação inteligente. Houve até caso de internauta fazendo publicidade de sua empresa em todo portal. Segundo a editora de Convergência, Marília Cordeiro, uma escala de moderadores foi montada para analisar e liberar comentários. Não serão aceitas manifestações de racismo, preconceito, ofensas, propaganda política ou de serviços e, principalmente, palavrões. A notícia foi bem recebida pelos internautas que sugerem até mais restrições. ‘Não aceitar apelidos. Colocar o nome da pessoa e o e-mail de identificação, ai sim, teremos comentários sérios’ afirmou Hilton Frota. ‘Não vejo nessa medida nenhuma ameaça à livre manifestação’ acrescentou Mário. A expectativa é que essa moderação realmente funcione.’