‘ ‘A sociedade precisa de informação e análise e quem tem feito esse papel tem sido a imprensa escrita’ – Matías Molina, escritor e jornalista espanhol
Escândalos, denúncias de corrupção, promessas, ameaças e bravatas. Grande parte da imprensa brasileira não fugiu a regra na cobertura do 1º turno das Eleições 2010 e investiu nestes temas. Alguns veículos até com certa irresponsabilidade pela falta de apuração, outros com imparcialidade duvidosa o que serviu para abrir discussão sobre liberdade de imprensa, liberdade que não faltou em todo processo eleitoral. O POVO preferiu fincar a cobertura no leitor, porém sem deixar de discutir os fatos nacionais. Esse foi o principal desafio proposto pela Redação para 2010.
A aposta foi certa e O POVO encerrou o 1º turno com uma das melhores coberturas da história do jornalismo cearense. Não só pelas matérias de conscientização ao eleitor, como também nas análises das tendências políticas, na movimentação de bastidores e no espaço aberto para a discussão de temas polêmicos como, por exemplo, maconha e casamento homossexual. ‘Como já é tradição decidimos por estabelecer um calendário próprio e fugir das pautas ‘eleitoreiras’, fundamentadas em factóides e nos interesses estratégicos das candidaturas’ ressaltou o editor executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George.
Positivo x negativo
De fato várias matérias marcaram positivamente a cobertura. Temas que só O POVO publicou. Entre elas as pesquisas exclusivas do Datafolha, a sabatina enviada a candidatos ao governo e ao senado sobre temas atuais, o flagrante de troca de voto por consulta médica e o caderno sobre o que faz um deputado – serve até de ajuda ao Tiririca – com um raio-x do que cada parlamentar fez em 4 anos de mandato. Guálter considera que houve três aspectos positivos. ‘Primeiro, que o eleitor/cidadão dividiu espaço com os candidatos, permitindo que o fluxo do debate se desse nas duas vias.’ explicou. Os outros fatores foram, segundo ele, a convergência entre jornal, portal, blogs, rádio e TV – com destaque para o debate promovido pelo Grupo O POVO e a cobertura do dia da eleição, com esforço concentrado de todos os profissionais. ‘O que garantiu um material focado no pós-resultado, apresentando leituras e prospecções’ explicou.
Por outro lado, a prometida cobertura com foco na Região Nordeste não saiu como o planejado. A ideia era noticiar o que acontecia nos estados nordestinos, sempre muito fora da abrangência das agências de notícia. Porém, a tal ligação com os outros jornais não funcionou e o que se viu foram pequenas matérias secundárias. Um correspondente nos principais estados poderia ter evitado tal falha. Guálter concorda com a ausência. ‘Ficou aquém, dentro do que colocamos no papel e até anunciamos ao leitor’ lembrou.
Insinuações
Da parte dos leitores, grande parte das observações foi com erros nos números e gráficos das pesquisas. Insinuações de parcialidade foram pontuais e comprometidas por paixões políticas. Não registrei nada nesse campo, fora alguns excessos de colunistas. O leitor Edilberto Freitas criticou, por exemplo, destaque dado à visita surpresa da candidata Dilma Roussef a Fortaleza. ‘Nunca vimos tanta parcialidade apresentando manchete e quase uma página interna inteira (contei 7 fotografias) e o repórter dizendo que o jornal foi pego de surpresa. Um deboche ao bom senso dos assinantes. Será que no 2º turno irá ocorrer o mesmo’ indagou ele. Ou mesmo outro leitor, que preferiu não se identificar, ao comentar a manchete ‘Tasso Jereissati fala em decepções e desilusões políticas com ex-aliados’. ‘É muito espaço para ele. Isso é jogo de cena de um cara que tem poder na mídia’ afirmou. Tasso não se elegeu.
A falha final ficou na falta de aviso com relação às mudanças na navegação – disposição das editorias – do jornal. A primeira dia 23 de setembro quando Brasil e Mundo migraram para o início do caderno e no dia seguinte voltaram para o desdobramento, seu lugar original. A outra dia 4, quando a cobertura das Eleições 2010 ocupou toda a primeira parte, deslocando as demais editorias. A coluna Vertical, uma das mais lidas, simplesmente não foi publicada. Nada foi anunciado. Um desrespeito ao leitor. ‘A regra é avisar sempre que houver mudança. Aliás, alterações na navegação devem ser exceção, como efetivamente tem sido. Os dois casos citados foram um erro, pelo que pedimos desculpas ao leitor’ justificou o editor chefe executivo Erick Guimarães.
Repetido, de novo
Duas semanas depois da repetição de artigos entre as editorias Opinião e Vida & Arte, novamente um articulista tem o mesmo texto divulgado no jornal. Pior, na edição do mesmo dia – domingo, 3 de outubro. Desta vez foi o artigo do sociólogo André Haguete abordando o tema Educação. Só mudou mesmo o título, o resto era igual. Em Opinião saiu como ‘Prioridades: Da Pré-escola à Universidade’. Já em Política, como ‘A Educação e a busca da qualidade’. A editora executiva do Núcleo de Opinião, Manoella Monteiro, assumiu o erro. ‘Recebi o artigo por e-mail e publiquei. Quanto à repetição de artigos sobre Edgar Morin, ocorreu de fato um erro de comunicação entre a universidade e o jornal. O assunto já foi tratado com a Uece. Aproveito para pedir desculpas ao leitor’ afirmou.
Esquecido pela mídia: Auditoria que Tribunal de Contas dos Municípios iniciou em maio para investigar repasse de dinheiro público para clubes de futebol.’