‘‘Jornalista existe para levantar – não para derrubar – assuntos.’’ Geneton Morais Neto,
Distante cerca de 3 mil quilômetros do Rio de Janeiro, a imprensa cearense adotou uma cobertura bem burocrática nos conflitos envolvendo traficantes e a polícia. O POVO não fugiu à regra. O assunto só foi para a capa dia 25, quarto dia após início dos incidentes. De diferente, a editoria Brasil produziu um infográfico e um ponto de vista. A partir daí reproduziu material das agências de notícias, caprichando na diagramação. Um editorial foi publicado no sábado (27). O jornal acabou perdendo a oportunidade de contar a estória de cearenses que moram ou possuem parentes naquela cidade. Não interagiu com o Portal nem publicou os comentários dos leitores nas matérias. Cientistas políticos e sociólogos foram esquecidos. Pior mesmo foi a ausência de um correspondente no local.
O assunto só viraria manchete na edição de terça-feira (30) diante da hipótese de traficantes migrarem para o Nordeste. Só então o enfoque melhorou. Ainda assim nenhum repórter foi conferir se realmente a fiscalização nas fronteiras do Estado aumentou como a Polícia prometeu. É verdade que na capital cearense não há grandes favelas ou morros, mas o tráfico e a milícia estão presentes. Já há bairros ocupados, silenciosamente, por esse pessoal. Todos sabem onde ficam. Cabe a imprensa deixar a ‘espetacularização’ e cobrar ações mais eficientes.
Além da versão oficial
Após uma semana da deflagração da Operação Podium, que resultou na prisão de sete pessoas em Fortaleza acusadas de crime financeiro de R$ 50 milhões, a imprensa cearense silenciou. A leitora Fátima Teixeira achou postura esquisita. ‘Porque o nome dos envolvidos foi divulgado pelos jornais de fora e os daqui ficaram calados’ desabafou. É de se estranhar mesmo o silêncio, afinal a notícia foi manchete. O esquema envolve a Federação Cearense de Automobilismo (FCA) e empresários.
A Polícia Federal (PF), alegando segredo de Justiça, não divulgou qualquer nome. Diante disso não caberia ao jornal especular. Mas ir além da versão oficial. O argumento não impede que o jornalista busque outras fontes. Recentemente, na Operação Mão Dupla, a PF usou a mesma tese. Mesmo assim o jornal publicou os nomes dos envolvidos no desvio de recursos 10 vezes maior no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Informação pública
O próprio superintendente da PF, Aldair da Rocha, revelou em coletiva o envolvimento do atual presidente da FCA, Haroldo Scipião. Na sexta-feira, o site do O Globo revelou a prisão do piloto Hybernon Cysne, do advogado Armando Campos Junior e o envolvimento da empresa Marquise. O site do Estadão citou ainda a Newland Veículos. As informações estão disponíveis na Internet.
O POVO voltou a questionar a PF, sem sucesso. Publicou em uma ‘Breves’ a transferência de um dos presos, sem dizer quem. E só. Nada com dirigentes da FCA – disponíveis em uma corrida no domingo – para repercutir assunto. Internamente, o ombudsman cobrou a análise. Uma simples consulta ao site da Justiça Federal do Ceará confirmaria a participação dos três citados, já liberados de acordo com os processos 0012636-20.2010.4.05.8100, 0012637-05.2010.4.05.8100 e 0012638-87.2010.4.05.8100.
Vendeu e não entregou
A manchete ‘A escola de seu filho’ da edição de domingo (28) vendeu o que não tinha. A idéia era ajudar o leitor na escolha da nova escola tendo como base três pontos: proposta pedagógica, qualidade e preço atrativo. A matéria, no entanto, focou apenas o último aspecto, observando cuidados com orçamento e obtenção de descontos. Os ‘especialistas’ entrevistados – um profissional de Economia Doméstica, um representante do Procon e o representante do Sindicato das Escolas Particulares – só falaram do lado econômico. Nenhum pedagogo foi ouvido para falar, por exemplo, o que fazer diante do comércio da educação.
Esquecido pela mídia: Construção de radar meteorológico em Quixeramobim’