Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Paulo Rogério

“‘O leitor que precisamos conquistar quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude a tomar decisões.’ – Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação

O que em setembro de 2010 surgiu na mídia como apenas um fato de campanha eleitoral, ocupou agora espaço de destaque no O POVO. Dessa vez com caráter policial. Foram duas manchetes consecutivas: ‘Corrupção no Ceará está generalizada, diz promotor’ (23/6) e ‘80 prefeituras têm contratos com empresas fraudulentas’ (24/6). O jornal foi o único a, acertadamente, investir no assunto mesmo diante do feriadão, onde a maioria dos veículos de comunicação opta por matérias frias e balanços de trânsito. É verdade que houve um lamentável erro na contagem das prefeituras relacionadas na segunda matéria. Falha rapidamente corrigida na edição de ontem, como manda o jornalismo sério e imparcial. Incrível como uma apuração mal feita pode afetar a credibilidade da matéria.

Apesar do erro quantitativo, a qualidade da iniciativa rendeu avaliação positiva dos leitores no O POVO On Line, com mais de 60 comentários até sexta-feira. Grande parte sugerindo mais matérias. Não é de hoje que o esquema de fraudes no Ceará e as operações da Polícia Federal (PF) estão nas páginas do jornal. Em fevereiro, por exemplo, a editoria Política fez matéria especial mostrando todas as ações em andamento. A de Senador Pompeu estava entre elas. Acerta o jornal em investir no tema. Precisa só de atenção maior na apuração, o básico do jornalismo. Há, no entanto, algumas questões que a cobertura não respondeu.

Perguntas que persistem desde 2010 quando Raimundo Morais Filho, o Moraisinho, denunciou em revistas nacionais a existência de vasto esquema de fraudes e que necessitam de aprofundamento. O que houve com a delegada da PF, Laurélia Cavalcante, misteriosamente atropelada em Fortaleza? O que o governador Cid Gomes tem a dizer da ‘corrupção generalizada’? Qual a posição dos deputados? Eis uma boa oportunidade de o jornal arregaçar a manga e adotar postura mais analítica.

Imprecisões

O ex-jogador Nando (Fernando Antunes Coimbra) atuou no Ceará há 43 anos. Grande parte dos leitores do O POVO desconhece a história do atleta, além do fato dele ser irmão de Zico, ídolo do futebol brasileiro. Primeiro jogador profissional punido pela ditadura militar a ser anistiado, Nando recebeu várias homenagens na última terça-feira, em Fortaleza, incluindo entrega do título de cidadão cearense, descerramento de placas e lançamento de livro.

Apesar de ingredientes fortes para uma boa pauta, a cobertura do O POVO ficou aquém da expectativa e cheia de imprecisões. O jornal chegou a chamá-lo, dia 21, de Fernando Antônio e afirmar que o mesmo poderia ‘ter feito muitos gols e dribles pelo time alvinegro’. Ora, Nando foi preso em 1970, no Rio de Janeiro, depois que retornou de Portugal. O próprio ex-atleta afirmou, no dia seguinte, que nunca enfrentou problemas políticos no Ceará. A correção do nome foi feita.

Sem aprofundamento

Até mesmo os motivos da prisão do ex-jogador ficaram obscuros. Segundo o jornal ele foi perseguido por ser professor do Plano Nacional de Alfabetização -a matéria grafou como Programa. Mas professor de quê? Onde dava aulas? O plano foi extinto quando? Nada disso foi explicado. Não houve contextualização. Aliás, ninguém ficou sabendo nem sequer qual posição Nando atuava.

O pouco aproveitamento da pauta foi tamanho que até a presença de Zico acabou desprezada. Nem uma foto do ‘Galinho’ foi publicada no jornal. Como ex-ministro do esporte, ele teria muito a dizer sobre Copa do Mundo, escândalos na Fifa ou, seleção brasileira. Mas faltou alguém para fazer as perguntas.

Esquecido pela mídia

Multa aplicada a bancos no Ceará por longas filas nos caixas das agências em 2010.

FOMOS BEM

POLÍTICA

Matéria sobre parecer do TCM sobre uso de cartões corporativos por integrantes da Prefeitura.

FOMOS MAL

CAPA

Algumas chamadas da 1ª página viraram exercício de adivinhação.”