Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Sotero

‘A reputação de demolidor de presidentes que o jornalista Bob Woodward adquiriu mais de três décadas atrás como co-autor, com Carl Bernstein, das reportagens que levaram ao escândalo de Watergate e à renúncia do presidente Richard Nixon, faz com que seus artigos no Washington Post e seus livros sejam recebidos com um misto de ansiedade e excitação na capital americana.

Plan of Attack (Plano de Ataque), o décimo segundo volume da crônica sobre a política e o poder em Washington, que ele começou em 1976, com Todos os Homens do Presidente, confirma o extraordinário acesso de Woodward aos que mandam e seu lugar de mestre do gênero ‘história imediata’, que ajudou a inventar.

Mas está longe de ser um livro contra o presidente George W. Bush ou uma confirmação dos corrosivos relatos que o ex-secretário do Tesouro Paul O’Neill e o ex-diretor de contraterrorismo da Casa Branca Richard Clarke escreveram sobre a fixação do presidente americano em iniciar uma guerra desnecessária para remover Saddam Hussein do poder e – agora se sabe – produziu o resultado que se pretendia evitar: uma cooperação maior entre a Al-Qaeda de Osama bin Laden e militantes islâmicos no Iraque e no Oriente Médio, e a antipatia mundial aos Estados Unidos.

Pelo contrário, Bush fica bem no livro de Woodward. Tanto que Plan of Attack está hoje no topo da lista de leituras recomendadas pelo site da campanha à reeleição do presidente, à frente mesmo do laudatório Ten Minutes to Normal (Dez Minutos para o Normal), a autobiografia de Karen Hughes, ex-diretora de Comunicação da Casa Branca e conselheira próxima de Bush.

Lançado no dia 19 de abril com um estardalhaço publicitário que prometia a versão definitiva da verdade revelada, o livro baseia-se em mais de três horas de entrevistas gravadas com Bush, e mais entrevistas com 75 pessoas diretamente envolvidas nos preparativos da invasão do Iraque, iniciados dois meses depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

As mais de 450 páginas de Plan of Attack descrevem um líder autoconfiante, avesso a opiniões diferentes das suas e totalmente no comando de seu governo – e não a caricatura do político estúpido manipulado por conselheiros de extrema direita escolados no exercício do poder que os adversários fazem de Bush e, segundo Woodward, ele usa em benefício próprio.

Retrato parecido de Bush é encontrável em American Unbound, um cuidadoso exame da revolução de Bush na política externa americana, publicado no início do ano. Os autores, dois ex-conselheiros do presidente Bill Clinton, Ivo H. Daalder e James M. Lindsay, alertam para o engano que cometem os que subestimam o presidente americano e acreditam que ele não passe de marionete nas mãos do vice-presidente Dick Cheney e do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.

A visão de mundo de Bush captada por Woodward nas conversa no Salão Oval e na fazenda dele em Crawford, Texas, confirma a imagem que Bush projeta em suas políticas e discursos e que alimenta a caricatura. O universo mental do presidente americano é limitado e descomplicado. De um lado há o bem, representado por ele, por Deus e pelos EUA. Do outro, está o mal, personificado por Saddam e pelos ‘terroristas’. Quem não está com Bush e com o bem está contra e, portanto, é aliado do mal e dos terroristas, como ele disse no discurso que fez no Congresso depois do 11 de setembro.

Nesse universo rarefeito, em que as convicções são religiosas e não políticas ou filosóficas, não há espaço para dúvidas. O próprio Bush afirma não tê-las, mesmo quando Woodward lhe fala sobre o discurso que seu maior aliado, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, fez nos primeiros dias da guerra, contando as dúvidas que o assaltaram quando recebeu as primeiras cartas enviadas por parentes dos soldados ingleses mortos no Iraque. ‘Eu não sofro de dúvida’, disse Bush. ‘Nenhuma?’, insistiu o jornalista. ‘Não, e sou capaz de transmitir isso às pessoas, àqueles que perderam filhos e filhas na guerra. Espero que o tenha feito com humildade.’

A impermeabilidade de Bush à dúvida faz com que ele não pergunte uma única vez a qualquer de seus assessores ou aliados estrangeiros se eles acham que invadir o Iraque é uma boa idéia. Suas perguntas têm o único objetivo de assegurar o apoio de seus subordinados. O menor e mais remoto indício basta para resolver as indagações que possam existir sobre a existência do arsenal de armas de destruição em massa de Saddam, o motivo oficialmente alegado para justificar a invasão.

Como enviado do bem, o presidente americano está absolutamente convencido, desde o início, de que os iraquianos receberão os soldados americanos como libertadores e erguerão sobre os escombros da ditadura de Saddam um regime democrático em Bagdá.

Se é assim, não havia por que preparar um plano de estabilização e reconstrução que previsse os conflitos que já mataram milhares de iraquianos e mais soldados americanos do que os que morreram durante a invasão. Os estrategistas do Pentágono não previram tal possibilidade, o que fica patente pela escassez de informações sobre o assunto nos depoimentos e documentos recolhidos por Woodward. O assunto não toma sequer quatro páginas do livro.

Não importa para Bush que, um ano depois da invasão, não se tenha encontrado uma única arma de destruição em massa. ‘Isso pode levar dez anos’, diz ele.

Espantosamente, nem tampouco o atormenta o julgamento da história. Quando Woodward levanta o assunto, nos momentos finais da entrevista, Bush dá de ombros. ‘Não saberemos. Estaremos todos mortos’, diz.

A exemplo de seus livros anteriores, Woodward recria cenas e diálogos e dispensa as notas de rodapé – uma licença jornalística permitida apenas a um profissional com o acesso que ele tem e a influência que exerce como cronista-mor do establishment e chefe da equipe de jornalismo investigativo do Post. As tentativas de três fontes de Woodward – o secretário de Estado, Colin Powell, a conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, e Rumsfeld – de desmentir as poucas passagens mais controvertidas de Plan of Attack caíram no vazio e apenas ajudaram a campanha de marketing do livro, que manteve o autor durante dez dias em programas de entrevistas no horário nobre da televisão.

Cheney, o supostamente todo-poderoso vice-presidente, refere-se a Bush como ‘o homem’. É a personagem mais cinzenta e dissimulada do livro. Segundo Woodward, é sempre consultado, mas perde batalhas internas. A conselheira de Segurança Nacional aparece como uma figura medíocre, desprovida de luzes ou de idéias que ultrapassem os instintos maniqueístas de Bush. Powell é a figura trágica de Plan of Attack, um experiente general da reserva e diplomata que compreende as implicações negativas da invasão do Iraque desde o início, tenta levá-las a Bush, mas, no fim, apóia, por uma questão de lealdade e disciplina, a guerra que desaconselha.’



Pedro Doria

‘Bush segundo Woodward’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 29/04/04

‘Poucos meses antes do início da guerra que deporia Saddam Hussein, um agente da CIA hospedado no território curdo do Iraque encontrou ouro: dois irmãos e seu pai, importante líder religioso, com contatos profundos nas mais altas esferas do regime. O agente, codinome Tim, um milhão de dólares em notas de cem aos pés, começou a distribuir-lhes dinheiro.

Em semanas, tinha oficiais espalhados pelo país com telefones via satélite que os iraquianos não tinham tecnologia para rastrear. Através deles, a CIA descobriu que alguns de seus agentes eram duplos, levantou a posição de artilharia anti-aérea que poderia ameaçar caças norte-americanos e, no dia 20 de março, em 2003, recebeu notícia de que Saddam e os filhos estavam numa fazenda próxima a Bagdá. Estavam para acabar as 48 horas de ultimato que o presidente dos EUA, George W. Bush, havia dado ao regime. A notícia chegou rápido a Washington, um ataque de mísseis imediato foi autorizado.

Segundo o jornalista Bob Woodward, em seu livro recém-lançado Plan of attack – Plano de ataque – Saddam estava na fazenda, mas sobreviveu – ou, ao menos, a CIA garante que estava. São 399 páginas carregadas de bastidores que começam em 2001, quando a guerra no Afeganistão está em rumo e Bush decide puxar para uma saleta de seu rancho em Crawford, no Texas, seu secretário de Defesa Donald Rumsfeld. Pedia planos de guerra para o Iraque. Termina com o ataque à fazenda de Saddam, deslanchando a guerra. São mais 42 páginas de epílogo, com as considerações e reminiscências dos principais atores.

É também um livro polêmico. Muitos volumes vêm saindo nos últimos tempos, sobretudo mais recentemente, a respeito do governo Bush e suas guerras. Como piada, a revista conservadora norte-americana ‘National Review’ passou a publicar uma lista mensal de best-sellers dividindo-os em duas categorias, não as típicas ficção e não-ficção, mas em Liberais (de esquerda) e Conservadoras. Vão ter problema com o livro de Woodward: não é pró nem contra, apenas relata.

Num típico manual de redação é isto exatamente o que se espera de um repórter: isenção. E, num campo de emoções tão intensas como este no qual se transformou a política dos EUA, Woodward teve de partir de alguns princípios. Um, o pressuposto de que todos no governo Bush agiram de boa-fé; que tudo o que falaram sobre o que sentiram e como chegaram a determinadas conclusões foi sincero; que seu jogo político foi duro, como cabe à política de alto escalão, mas limpo. Dois, que concentraria sua apuração apenas no núcleo do governo norte-americano. Se tivesse de ouvir todo mundo envolvido na discussão, o trabalho seria insano. Só que ficou só um lado da história.

O resultado é um livro carregado de informação e cenas. As personagens enchem-se de nuances. O vice-presidente Dick Cheney está na linha duríssima – pegou a febre neoconservadora, diz o secretário de Estado Colin Powell – este, o militar pragmático que sente-se na obrigação de dar opiniões apenas quando perguntado; o secretário de Defesa Donald Rumsfeld é cauteloso, uma águia que nunca se compromete com qualquer decisão, obcecado, principalmente, com revolucionar a burocracia e o planejamento militar. Condoleezza Rice é uma sombra que observa tudo, alguém que só se manifesta quando a sós com o presidente, quase um Iago para o Othelo de Bush. E Bush, um chefe que incentiva a discussão e que gosta de respostas o mais simples e bem justificadas possíveis. Desconfia da complexidade.

Não é um livro necessariamente agradável de ler. Correto, mas falta um quê da melhor tradição do jornalismo de fôlego norte-americano. Não tem o ritmo visceral dum Truman Capote, a ginga dum Gay Talese ou mesmo, para citar um que escreve sobre política, que é de fato um assunto árido, a habilidade de encadear uma história dum David Halberstam. Isso quer dizer pouco, claro. Porque se Capote e Talese são heróis do texto do novo jornalismo, Woodward está como que um patamar acima: é um herói essencial do jornalismo – e ponto; ele e Carl Bernstein, numa série de reportagens ao longo de um ano para o ‘Washington Post’, trouxeram abaixo o governo Nixon, desvendando o envolvimento do presidente com a invasão do escritório do Partido Democrata no edifício Watergate.

Um dos críticos de seu livro, no entanto, é outro herói essencial da profissão: Seymour Hersh, cujos relatos da aldeia de My Lai no Vietnã mostraram aos EUA pela primeira vez a brutalidade de seu exército. ‘Eu tenho problemas com a maneira pela qual ele cita as fontes’, disse ao Baltimore Sun referindo-se a Woodward. Em suma, não cita. Quase que todo o livro é em off, uma ou outra vez Bush, Rumsfeld ou um senador são citados, o resto da reconstrução passa ao largo. O leitor tem duas escolhas, ou acredita que Woodward é confiável e isento e que soube avaliar o que era sincero e o que foi uma, digamos, adaptação de seus entrevistados para que parecessem melhor nas cenas – ou não confia. Em tratando-se de Bob Woodward, não há por que desconfiar. Mas alguns ombudsmen do jornal onde ele trabalha, o mesmo ‘Washington Post’ de sempre, reclamaram já mais de uma vez. Porque se ele escreve tudo em off, serve de exemplo. E a imprensa dos EUA está se atolando de escândalos um pouco por conta desta cultura.

No caso de Plan of attack, é mais que firula técnica. Como tudo é recriado a partir de entrevistas com membros do governo, não se sabe quais ao certo, o retrato é um bocado abonador de Bush e de seu gabinete. Woodward, por exemplo, não cita que pelo menos uma agente da CIA foi desmascarada por gente do governo para o próprio ‘Post’ como ato de vingança – seu marido havia revelado que uma informação usada por Bush num discurso era falsa, e que a Casa Branca sabia que era falsa. Em todo o seu livro, ele cita fato após fato, inclusive o uso de dados que sabiam-se incertos, e apenas no fim, e muito de leve, questiona a atitude do presidente. Fica parecendo que, discorde-se ou não das decisões destes homens, são todos honrados. Parece às vezes, até, que os franceses foram os vilões da história, estes sim cheios de intenções escusas.

Como história oficial, no entanto, é provavelmente uma obra definitiva. O relato de como, do ponto de vista da Casa Branca, deu-se a decisão para atacar o Iraque. E é neste ponto – talvez – que Woodward marca um xeque-mate jornalístico. Em todo o livro, reitera-se o risco, a aposta, nas armas de destruição em massa. Ao lançá-lo quando já é notícia velha que não existiam, sutilmente o mestre jornalista do ‘Post’ está dizendo: eles apostaram, foi assim que apostaram. Estavam errados.’



TIME WARNER NO AZUL
Gazeta Mercantil

‘Time Warner deve ter quinto trimestre com lucro’, copyright Bloomberg News – Gazeta Mercantil, 29/04/04

‘Analistas norte-americanos prevêem que a Time Warner divulgaria ontem seu quinto trimestre consecutivo de ganhos de vendas e lucro, auxiliada pelo vigor de sua atividade de cabo, a unidade que cresce mais rápido na empresa. A Time Warner, a maior empresa de mídia do mundo, relataria que o lucro do primeiro trimestre subiu para 9 centavos a ação, excluindo alguns itens, de 8 centavos a ação em igual período do ano passado, segundo estimativas. De acordo com as previsões, a receita da empresa sediada em Nova York deve crescer 3%, para US$ 9,51 bilhões.

O principal executivo da Time Warner, Richard Parsons, depende da divisão de cabo para vender serviços adicionais, como internet de alta velocidade, à medida que desacelera o crescimento da base de assinantes do serviço de cabo. Parsons revelou em 2003 planos para oferecer serviço de internet por telefone para todos os mercados de cabo da empresa até o fim deste ano, um projeto que poderia chegar a custar US$ 80 milhões.

A Time Warner tem a flexibilidade de fazer compras após saldar a dívida e vender operações deficitárias como a unidade de música. A empresa estuda investir em atividades de ‘crescimento elevado’, como sistemas de TV a cabo, entretenimento filmado e redes de cabo.

Comcast desiste da Disney

Brian Roberts, principal executivo da Comcast, maior operadora mundial de televisão a cabo, retirou uma oferta não solicitada de US$ 54,1 milhões pela Walt Disney, arquivando seu plano de criar a maior empresa de comunicações do mundo. ‘Ficou claro que não existe interesse por parte do gerenciamento e do conselho da Disney em unir-se à Comcast’, disse Roberts.

A Disney possui ativos do setor de entretenimento, estúdios cinematográficos e parques temáticos. A retirada da oferta da Comcast é um retrocesso no plano de Roberts de somar conteúdo aos seus sistemas a cabo, que atingem 21,5 milhões de lugares no mundo. Antes de anunciar a retirada da oferta ontem, a Comcast divulgou que captou US$ 65 milhões no primeiro trimestre.’



COMCAST SEM DISNEY
Stacy Cowley

‘Comcast abandona idéia de comprar a Disney’, copyright IDG News Service, EUA – IDG Now!, 28/04/04

‘A Comcast informou nesta quarta-feira (28/04) que descartou oficialmente a aquisição da Walt Disney Company, alegando que a diretoria da companhia não manifestou interesse no negócio.

A maior operadora de TV a cabo dos EUA surpreendeu o mercado, quando fez, em fevereiro, proposta por um valor inicial de US$ 66 bilhões. O negócio previa US$ 54 bilhões em ações na ocasião, valor que recuou para US$ 48 bilhões posteriormente.

Alguns analistas e investidores apoiaram a proposta, que juntaria os serviços de rede da Comcast com o conteúdo da Disney. Para os executivos da Comcast, a união representaria uma força dominante de mídia. A diretoria da Disney, entretanto, rejeitou a proposta sob o argumento de que a oferta não correspondia ao real valor da companhia.

‘Ser disciplinado significa saber a hora de ir embora [da negociação]. E essa hora é agora’, afirmou o Chief Executive Officer (CEO) da Comcast, Brian Roberts, nesta quarta-feira, em um comunicado à imprensa.

Depois da proposta feita em fevereiro, a Comcast articulou em silêncio suas negociações. Investidores descontentes com o andamento das conversas, fizeram com que o CEO da Disney, Michael Eisner, fosse destituído do cargo de presidente da mesa de diretores.’



Portal Exame

‘Comcast desiste de comprar a Disney’, copyright Portal Exame, 28/04/04

‘A americana Comcast, dona da maior rede de cabos ópticos para TV e internet dos Estados Unidos, desistiu de comprar a Walt Disney, pela qual havia oferecido 54,1 bilhões de dólares. A proposta, feita em fevereiro, envolvia 43 bilhões em troca de ações e a incorporação de um dívida de 11 bilhões.

Em comunicado oficial divulgado nesta quarta-feira (28/4), o presidente da Comcast, Brian Roberts, afirmou que ‘ficou claro’ que não há interesse por parte do comando da Disney na união das duas companhias. ‘Nós sabemos quando é hora de desistir e a hora é agora’, afirmou ele. Desde quando a proposta da Comcast foi feita, o preço das ações da empresa já caiu 12%.

De acordo com reportagem publicada na edição de hoje do britânico Financial Times, a direção da Disney rejeitou a oferta da Comcast há poucos dias, num encontro informal entre Roberts e Michael Eisner, presidente da empresa de entretenimento. O argumento, diz o Financial, foi que a oferta subestimava o valor das ações da Disney.’