A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou, na semana passada, o primeiro relatório detalhado sobre o exílio forçado de jornalistas iraquianos após a invasão americana ao país, em 2003. De acordo com uma pesquisa realizada por Angélique Ferrat e Hajar Smouni, que entrevistaram diversos repórteres exilados, centenas de jornalistas iraquianos se tornaram alvos de milícias xiitas e sunitas, da al-Qaeda, da polícia e das forças de coalizão americanas e, por esta razão, optaram por deixar o país e tentar levar uma ‘vida normal’ no Oriente Médio, Europa e América do Norte.
Segundo dados da RSF, 210 profissionais da mídia foram mortos no Iraque desde março de 2003, quando teve início a guerra. Os jornalistas também são vítimas de seqüestradores, seja por motivações políticas ou financeiras: foram registrados, pela organização, 87 seqüestros de jornalistas desde o começo do conflito. O destino de 15 deles, incluindo um britânico, é desconhecido até hoje.
A maior parte dos jornalistas exilados foi para a Jordânia e a Síria, após receber ameaças ou sobreviver a tentativas de assassinato. ‘A Síria e a Jordânia estão sobrecarregadas com o fluxo de refugiados iraquianos. Países da Europa, da América do Norte e outros do mundo árabe deveriam receber os refugiados. A França, em especial, deveria fazer um esforço para aceitá-los. Um total de 9.300 iraquianos pediu asilo na Suécia no primeiro semestre de 2007, depois de receber visto para ir morar lá. Apenas 93 conseguiram um visto francês no mesmo período’, informa a RSF, que tem sede em Paris. ‘Mesmo com nossas cartas para o Ministério francês, quatro jornalistas iraquianos tiveram o pedido de visto recusado em outubro do ano passado’.
Problemas sem solução
O exílio, no entanto, não significa o fim dos problemas para estes profissionais de imprensa. Segundo a organização, a grande maioria dos exilados não consegue emprego em sua área e muitos chegam a desistir da profissão. As autoridades em Amã e Damasco permitem o trabalho dos jornalistas iraquianos, desde que não sejam feitas críticas aos países que os acolhem. Apenas uma pequena parcela de jornalistas que está na Europa consegue manter-se na profissão.
Ahmed Al-Allef trabalhou como freelancer no Iraque para diversos diários, incluindo o Le Monde. Agora que vive na França, procura uma vaga em alguma empresa jornalística. ‘Perdi minha casa, meu carro e minhas economias. Minha família está espalhada pelos quatro cantos do mundo. Ainda assim, quero recomeçar minha vida’, diz ele, que já conseguiu visto de refugiado por sete meses.
O relatório está disponível na íntegra, em inglês, aqui. Informações da RSF [19/3/08].