Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Políticos e celebridades substituem jornalistas

O documentarista Michael Moore foi amplamente vaiado pela platéia presente na convenção do Partido Republicano em Nova York, evento em que também foi atacado em discurso do senador John McCain. Como notório opositor de George W. Bush, já era de se esperar que algo assim aconteceria. Moore estava na tribuna de imprensa como comentarista do USA Today e o episódio foi apenas mais uma evidência de um fenômeno que tem atingido amplamente a imprensa dos EUA: o entra-e-sai na TV e nos veículos impressos de políticos, artistas e pseudocelebridades de todos tipo que fazem as vezes de jornalistas.

Casos como o de Moore são comuns. O gerente de campanha do pré-candidato democrata Howard Dean, Joe Trippi, deixou seu cargo e poucas horas depois já era anunciado como comentarista político da MSNBC. Outro pré-candidato, Al Sharpton, agora trabalha para a CNBC. O ex-porta-voz do presidente Bill Clinton, Joe Lockhart, também era analista na CNBC até ser chamado para ajudar na campanha de John Kerry. Peggy Noonan, redatora de discursos do ex-presidente Ronald Reagan, escrevia no Wall Street Journal e comentava na MSNBC até entrar na campanha para reeleger George W. Bush. No intervalo entre suas duas tentativas de concorrer à presidência, Pat Buchanan, que agora está na MSNBC, participou do programa Crossfire, da CNN. Segundo reporta o New York Times [10/9/04], a campanha republicana acaba de se queixar com a emissora por manter como comentaristas da mesma atração James Carville e Paul Begala, conselheiros do democrata Kerry. E há muitos outros exemplos.

Howard Kurtz, do Washington Post [6/9/04], mostra que esse tipo de prática pode até ser popular e conquistar audiência, mas não garante respeito ou credibilidade aos veículos. Um exemplo a ser seguido seria de David Gergen, que trabalhou com Bill Clinton na Casa Branca, e foi lecionar por seis meses antes de trabalhar na imprensa. ‘Se você tem um alto cargo político e entra na mídia, é inevitável que suas atitudes e emoções sejam fortemente influenciadas pelo que acaba de fazer’, explica Gergen, que atualmente é editor da revista U.S. News & World Report.