Há dois anos, os editores do Washington Post receberam um memorando no qual eram alertados para a importância da expansão da diversidade racial e étnica dos profissionais da redação, conta o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [28/3/10]. Quem assinava o documento era o então subchefe de redação, Milton Coleman, que havia observado a rápida mudança racial e étnica na área de circulação do jornal. ‘Já sabemos que estamos perdendo leitores negros e não estamos ganhando asiáticos e hispânicos’, escreveu ele na ocasião. ‘A imigração está contribuindo com o crescimento populacional, especialmente nas periferias’. Coleman ocupa hoje o cargo de editor sênior.
Na semana passada, quando o Post submeteu-se a pesquisas para o censo anual da redação, conduzido pela Sociedade Americana de Editores de Notícias (Asne, sigla em inglês), o memorando foi relembrado: os números do Post foram preocupantes, embora não tenham ficado abaixo das normas da indústria jornalística – até pelo contrário, o jornal permanece líder no número de minorias na redação. O editor-executivo Marcus Brauchli, que é branco, assumiu o posto cinco meses após o memorando de Coleman e logo formou uma equipe mais diversa que a de qualquer outro jornal metropolitano. No seu grupo de editores há equidade de gênero e, no que se refere a raça, três são afrodescentes, um é asiático, um tem ascendência sul-asiática e outro, espanhola. Em toda a redação, 24% dos profissionais pertencem a minorias étnicas, bem acima da medida do censo da Asne, que registrou 13% nos últimos anos.
Mas aí está o problema: as minorias representam 43% da área de circulação do Post e grande parte da região está aderindo ao status ‘maioria de minorias’, ou seja, formado por menos de 50% de brancos. Para o Post, ser ‘bom na diversidade não é o bastante’. Brauchli e sua equipe compartilharam esta visão em um novo memorando à redação, na semana passada. ‘Estamos arriscando perder posição se não tentarmos consistentemente recrutar os melhores jornalistas de minoria’, escreveram.
Hoje, tentar reconquistar rentabilidade e manter assinantes, alcançando as minorias, representa uma oportunidade de negócio e talvez a sobrevivência do Post. ‘Acredito que, quanto mais importante você for para a comunidade, mais sucesso terá’, observou Brauchli. ‘Não dá para cobrir a comunidade se você não for como ela’, opina Bobbi Bowman, ex-repórter e editor do Post que é atualmente consultor de diversidade da Asne.
Grande desafio
A região de Washington apresenta uma população crescente que tem o espanhol como primeira língua. Ainda assim, hispânicos no Post incluem apenas oito repórteres e quatro editores. Os negros são 12% da equipe do jornal, mas quatro vezes este número na população da área de circulação do diário. Diversos jornalistas de minoria já reclamaram com o ombudsman que há poucos jornalistas negros em cargos hierárquicos superiores, especialmente aqueles que decidem a pauta. Por isso, o que é notícia pode acabar sendo sempre visto pelo ‘prisma branco’.
A diversificação da redação constitui, em um momento de crise na indústria jornalística, um desafio, já que as redações estão cada vez mais enxutas. Nos últimos anos, o Post passou por algumas ondas de demissão e por programas de demissão voluntária. ‘Não creio que houve um registro grande de contratação de minorias no ano passado’, diz Peter Perl, que cuida deste setor no diário. ‘Ainda assim, reter e promover minorias é mais difícil que contratá-las’.