Ombudsmans e críticos de mídia reclamam, frequentemente, sobre o uso excessivo e desnecessário de fontes anônimas – mas, na realidade, a imprensa as usa com menor frequência hoje do que na chamada “era de ouro” do jornalismo.
O uso de fontes não identificadas nos EUA atingiu seu auge nos anos 70, nas vésperas do escândalo Watergate. Em 2008, o uso caiu para a frequência de 1958, segundo um estudo realizado pelos professores Matt J. Duffy, da Universidade de Abu Dhabi, e Ann E. Williams, da Universidade do Estado da Geórgia. “Achei que fosse descobrir que fontes anônimas eram usadas agora mais do que no passado”, afirmou Duffy.
O estudo revelou ainda que jornalistas, hoje em dia, descrevem as fontes anônimas mais do que apenas como “fontes confiáveis”. Em 1958, 34% das matérias com fontes não identificadas ofereciam somente uma vaga descrição; este número caiu para 3% em 2008. Atualmente, repórteres fazem um trabalho melhor ao explicar por que concederem anonimato a determinada fonte. Em 2008, cerca de ¼ das matérias continham alguma explicação. Para Duffy, este número ainda é baixo, mas já é um acréscimo aos 10% das matérias com explicações, em 1998. Além disso, os pesquisadores descobriram que não foi alterada a prática de verificar, de maneira independente, todas as informações das fontes anônimas – o que é feito na maioria dos casos, mas não em todos.
Duffy e Ann são os primeiros a rastrear o uso de fontes anônimas por tanto tempo com a mesma metodologia. Eles analisaram uma amostra representativa (14 dias) de matérias de capa do New York Times e do Washington Post, analisando um ano por década.
Ainda é possível melhorar
Andrew Alexander, ex-ombudsman do Washington Post, disse não estar surpreso que o índice de uso de fontes anônimas tenha caído. “Ao longo das últimas décadas, está havendo uma maior conscientização na indústria de mídia sobre o fato de que o uso excessivo de fontes anônimas prejudica a credibilidade. Mas, antes de comemorarmos, vamos ter em mente que o estudo disse que o uso de fontes anônimas permanece ainda inaceitavelmente alto”, afirmou. Leonard Downie, que ocupou o cargo de editor-executivo do diário de Washington durante parte do período estudado, disse estar satisfeito com o resultado. Bill Keller, editor-executivo do New York Times, afirmou ter ficado animado pela melhoria observada no estudo.
A pesquisa identifica o escândalo Watergate como uma das razões para o aumento de fontes não identificadas nos anos 60 e 70. Downie, que estava envolvido na cobertura, concorda. “Era um período em que repórteres, especialmente jovens repórteres, eram tentados a usar fontes anônimas com uma vaga referência apenas porque soava bem.” O problema, segundo Duffy, é que jornalistas passaram a usar estes exemplos “idealizados” para defender sua prática. O ex-agente do FBI Mark Felt foi identificado, apenas em 2005, como o “Garganta Profunda”, fonte anônima do repórter Bob Woodward no caso Watergate. Felt, na ocasião com 91 anos, concedeu entrevista à revista Vanity Fair. Ele morreu em 2008. Com informações de Steve Myers [Poynter, 9/8/11].
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