A direita americana anda com força total na mídia: o canal conservador Fox News é líder de audiência em seu segmento, radialistas direitistas como Rush Limbaugh atraem hordas de ouvintes e as livrarias estão repletas de obras de baluartes do conservadorismo como Bill O´Reilly. Mas, em pelo menos uma modalidade de mídia de não-ficção, eles estão perdendo feio: os filmes documentários.
Fahrenheit 9/11, o estrondoso longa-metragem anti-George W. Bush deve ultrapassar a marca dos US$ 100 milhões em arrecadação doméstica. É um feito sem precedentes para um documentário. Em geral, essas produções atingem públicos muito mais modestos que este último filme de Michael Moore. Ainda assim, a predominância do pensamento esquerdista neste filão é patente desde os anos 60, segundo reporta Tommy Nguyen [The Washington Post, 22/7/04], citando, como exemplos, filmes contra a Guerra do Vietnã, Henry Kissinger e administrações Republicanas anteriores.
Mas por que os conservadores americanos não conseguiram fincar o pé no universo dos documentários? O professor da Universidade Berkeley, Jon Else, aponta que existe todo um circuito para os documentários liberais: os prêmios sempre vão para os filmes esquerdistas porque são concedidos por júris de lugares como Los Angeles e Nova York, onde predominam os Democratas. Fahrenheit 9/11 entrou amplamente em cartaz nos EUA, mas há muitos filmes que só são exibidos em cidades menos conservadoras, onde os distribuidores sabem que serão bem recebidos. Else se diz preocupado com a possibilidade de que isso possa afetar a imparcialidade do conteúdo destas obras, pois os diretores podem passar a ignorar argumentos e evidências que contrariem a preferência do público de esquerda nos assuntos que estão retratando.
Os documentários de direita até existem, mas ainda não se definiu um ambiente propício para sua exibição. ‘Há pessoas por aí os fazendo. O problema é achar o estilo e a técnica para conseguir romper as barreiras e fazer o barulho que fez Michael Moore. Saíram vários filmes anti-Clinton nos anos 90, mas seus faturamentos foram insignificantes – acho que nenhum deu lucro’, conta Michael Franc, vice-presidente de relações governamentais da Heritage Foundation, uma organização conservadora. Ele acredita que a falta de um mercado definido para filmes não-ficcionais direitistas dificulta seu financiamento.