Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Presidente russo assina artigo sobre crise na Síria

O presidente russo, Vladimir Putin, elaborou o “conteúdo básico” de um artigo de opinião publicado no New York Times, na semana passada, alertando sobre uma possível intervenção militar americana na Síria. Embora assinado por Putin, o texto teve seu teor “aprofundado” por conselheiros governamentais, como informou ao jornal britânico The Guardian Dmitry Peskov, porta-voz do presidente.

Peskov declarou que o artigo foi completamente idealizado pelo líder russo. “O conteúdo básico foi escrito por Putin, e seus assistentes se encarregaram de desenvolver o texto”, ressaltou.

O artigo critica a intervenção militar dos EUA na Síria e ironiza a alegação feita por Barack Obama de que a capacidade americana de combater injustiças por todo o mundo é o que torna os norte-americanos “excepcionais”. O artigo foi publicado logo antes de uma reunião na quinta-feira [12/9] entre o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, para discutir um plano apresentado pela Rússia para colocar as armas químicas do governo sírio sob controle internacional.

A decisão de publicar

O artigo foi oferecido ao Times na quarta-feira [11/9] pela empresa de relações públicas Ketchum, que trabalha em nome dos interesses do governo russo nos EUA e em todo o mundo. O editor de Opinião do Times, Andrew Rosenthal, concordou em revisar o artigo e, rapidamente, decidiu publicá-lo. “Achei que estava bem redigido, bem argumentado”, declarou. “Não concordo com muitas das alegações presentes, mas isso é irrelevante”. “Os acontecimentos na Síria são importantíssimos e Putin tem um papel fundamental neles”, o que confere ao artigo grande valor jornalístico, explicou o editor.

Um leitor escreveu à ombudsman do Times, Margaret Sullivan, dizendo-se “horrorizado” com a decisão do jornal de publicar o artigo e acusou os jornalistas do diário nova-iorquino de agir em “cumplicidade com um antigo adversário dos EUA”. Rosenthal discorda desse argumento. Um artigo de opinião não precisa passar “por um teste ideológico”, afirma ele. A intenção não é ajudar ou ferir o governo americano, mas apresentar uma variedade de pontos de vista jornalisticamente interessantes, abarcando entre eles os de opinião contrária à expressada nos editoriais do jornal.

O Times publicou poucos artigos assinados por chefes de Estado em sua história, lembrou o editor. Mas este era distinto, pois “todos queriam saber o que passava pela cabeça do presidente russo naquele momento”, além de ser “fascinante e detalhado”, oferecendo novas informações.

Do ponto de vista de Margaret Sullivan, a publicação do artigo foi legítima. Quer concordemos com ele ou não, quer aprovemos Putin ou não, são raras as declarações de tamanho interesse e valor jornalístico. Assim como com qualquer outro artigo de opinião publicado pelo Times, a publicação deste não endossa suas ideias ou seu autor.

Reações

Os comentários de Putin causaram estarrecimento entre políticos e comentaristas americanos. O senador Robert Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, declarou na rede de TV CNN que “quase vomitou” quando leu o artigo durante o jantar. O texto do presidente “levanta muitas dúvidas quanto a seriedade da proposta desarmamentista russa”, criticou Menendez.

“Estamos satisfeitos por termos recebido reações positivas e críticas”, destacou Peskov a respeito da resposta ao artigo nos EUA. “O que significa que ninguém permaneceu indiferente a ele”, concluiu.