Na semana passada ocorreram mais três desdobramentos do vazamento do programa de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês) dos EUA: mais revelações sobre a abrangência da espionagem da NSA, novidades sobre as tentativas do ex-funcionário da NSA Edward Snowden para encontrar asilo e mais debates sobre os méritos jornalísticos de Glenn Greenwald, responsável por publicar a história.
Primeiro, um oficial da NSA disse a um comitê do Congresso que a agência está examinando informações de pessoas que estão a “duas ou três conexões” de distância de suspeitos de terrorismo, ou seja, uma rede de pessoas muito maior do que a agência havia reconhecido anteriormente. Isso significa, por exemplo, que a agência investiga os contatos dos contatos de todos os contatos de um suspeito de terrorismo. Em resposta à revelação, hackers do grupo Anonymous invadiram e roubaram informações do servidor da Agência Federal de Gestão de Emergência.
Enquanto isso, companhias de tecnologia estão pressionando ainda mais o governo sobre o uso de dados de seus usuários. Um grupo de grandes empresas, incluindo a Apple, o Facebook e o Google, e várias organizações não lucrativas escreveu uma carta ao governo Obama em que pediam mais transparência sobre os pedidos de informação. O Yahoo também ganhou uma ordem judicial que força o Departamento de Justiça a revelar documentos que mostram que a empresa lutou contra a exigência de entregar dados de seus usuários. A Microsoft também pediu ao advogado-geral da União para que um documento similar sobre a companhia fosse divulgado.
O segundo desdobramento refere-se ao fato de Snowden, em sua primeira aparição pública desde que chegou a Moscou, ter renovado seu pedido de asilo para o governo russo. O presidente Vladimir Putin disse que Snowden só poderá permanecer na Rússia se parar de vazar segredos americanos, mas alegou que o ex-funcionário quer na realidade ir para outro lugar assim que for capaz. Os EUA o prenderam na Rússia ao revogar seu passaporte.
Snowden não disse muito além de sua conferência de imprensa em Moscou, mas Greenwald deu diversas entrevistas dizendo que Snowden possui mais documentos sobre a NSA que, se divulgados, poderiam seriamente prejudicar os interesses da agência. Segundo o jornalista, esse fato mostra que Snowden está mais interessado no debate democrático do que em prejudicar os EUA.
Por último, Greenwald disse que toda a atenção voltada para ele e Snowden é meramente um “esforço para desviar atenção do conteúdo das revelações”. Marc Pitzke, da Der Spiegel, sugeriu que parte dos motivos pela cobertura da mídia americana é o medo da competição com o jornal britânico The Guardian, em que Greenwald trabalha. Jack Shafer, da Reuters, disse a reação de Greenwald foi gerada por uma servil devoção ao ideal de “jornalismo corporativista”, que trai o completo entendimento da história do jornalismo americano. Para Shafer, o jornalismo partidário sempre foi indispensável para os o jornalismo americano desde sua fundação.
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