O secretário da Justiça dos EUA, Eric Holder, convidou executivos de grandes organizações de notícias como parte de uma investigação em andamento sobre como autoridades federais investigam repórteres. As reuniões serão realizadas após o presidente Barack Obama ter ordenado uma revisão das normas do Departamento de Justiça no trato com jornalistas. Promotores federais disseram ter obtido registros telefônicos de repórteres da agência Associated Press e também de um correspondente da rede de TV Fox News em Washington.
O primeiro encontro, na quinta-feira (30/5), reuniria chefes dos escritórios de grandes organizações jornalísticas em Washington. Depois, serão feitos encontros com um grupo diverso e representativo de organizações e associações de mídia, assim como defensores da Primeira Emenda. Não foi divulgado quantos foram convidados e quem compareceria no encontro nesta sexta-feira (31/5).
O New York Times e a Associated Press informaram que não compareceriam ao encontro por ser “em off”, ou seja, seu conteúdo não poderia ser divulgado pelos participantes. Fox News, CNN, Huffington Post e Reuters também rejeitaram o convite. “Não é apropriado para nós irmos a um encontro ‘em off’ com o secretário da Justiça. Nossa sucursal de Washington está cobrindo agressivamente o modo como o Departamento está lidando com investigações dos vazamentos nesse momento”, disse a editora-executiva do NYTimes, Jill Abramson.
Estiveram no primeiro encontro James Warren, do New York Daily News; Jane Mayer, da New Yorker; John Harris, do Politico; Gerald Seib, do Wall Street Journal; e Martin Baron, diretor-executivo do Washington Post. Baron disse que preferia uma reunião “on the record”, mas alegou que “jornalistas participam frequentemente de encontros ‘em off’ e continuam a escrever sobre os temas”. Holder disse aos presentes que estava aberto a mudar o modo como sua unidade lida com investigações que podem prejudicar a liberdade de imprensa.
Esclarecimento de envolvimento com espionagem
Holder também enfrenta uma investigação pelo Comitê Judiciário da Câmara devido às declarações que deu em uma audiência no dia 15/5. Nela, foi questionado por que promotores obtiveram registros telefônicos de repórteres da AP e sobre o uso da Lei de Espionagem para condenar jornalistas. Em resposta, disse que as acusações contra repórteres geralmente não vão adiante e que ele nunca esteve envolvido na acusação potencial de um jornalista que tenha revelado informações secretas. “Isso é algo em que eu nunca estive envolvido ou pensaria que seria uma política inteligente”, afirmou.
Dias depois, o Post divulgou em primeira mão detalhes do caso envolvendo o chefe dos correspondentes da Fox News em Washington, James Rosen. Como parte de uma investigação de possíveis vazamentos de informações secretas sobre a Coreia do Norte em 2009, investigadores obtiveram registros de e-mail e telefone de Rosen, além dos seus registros de acesso ao Departmento de Estado. O governo chegou a classificar Rosen como possível “cúmplice de conspiração” por supostamente solicitar informação secreta do ex-especialista em armas do Departamento de Estado Stephen Jin-Woo Kim – acusado de vazamento de informações. O Departmento de Justiça confirmou posteriormente que Holder estava pessoalmente envolvido em assinar o mandado para apreensão dos registros de Rosen.
Em carta, o presidente do Comitê Judiciário da Câmara, Bob Goodlatte, e James Sensenbrenner Jr., que preside um subcomitê de crime e terrorismo, expressaram “grande preocupação” com o depoimento de Holder e pediram que ele esclarecesse se o Departamento de Justiça havia planejado condenar Rosen sob a Lei de Espionagem; explicasse seu envolvimento pessoal em aprovar os mandados de busca para Rosen; e esclarecesse por que ele disse sob juramento que nunca esteve envolvido na potencial condenação de jornalistas.
A investigação acontece quase um ano depois de a Câmara, de maioria republicana, ter votado pela condenação de Holder por desacato ao Congresso depois de ele ter se negado a ceder documentos que republicanos haviam pedido para uma investigação sobre uma operação conhecida como “Velozes e Furiosos”, sobre o tráfico de armas para o México.
Em declaração, o Departmento de Justiça disse esperar descrever suas políticas sobre investigar repórteres e “estabelecer que o testemunho do secretário referente à acusação potencial da imprensa estava consistente com os fatos subjacentes” do caso Rosen.
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