Por dois anos, a novela turca Gumus ofereceu a telespectadores em países árabes cenas de preliminares sexuais, sequestros, acidentes de carro e muitas reviravoltas no enredo. Depois dela, melodramas, séries policiais e de suspense made in Turquia passaram a invadir as TVs do Marrocos ao Iraque. A exportação da cultura turca, não coincidentemente, ampliou suas ambições políticas – o país enviou, recentemente, uma flotilha para Gaza, desafiou os EUA nas sanções ao Irã e agiu duro com seu ex-aliado Israel.
Mulheres árabes mostram-se admiradas pelas personagens de Gumus, como a protagonista, uma empresária forte casada com um marido boa pinta. Um outro efeito foi o aumento do turismo árabe na Turquia. As pessoas querem conhecer o lugar onde a novela foi filmada. Recentemente, o proprietário da casa colocou-a à venda por US$ 50 milhões. Até pouco tempo, ele cobrava US$ 60 pelo tour, mais de quatro vezes o preço de um ingresso para o Palácio Topkapi.
Até mesmo os ‘fatwas’, decretos emitidos por clérigos sauditas, pedindo o assassinato dos distribuidores da novela, não desencorajaram uma loja na Cidade de Gaza a vender vestidos sem manga. Um cartum recente em um jornal saudita mostrava um mendigo visitando um cirurgião plástico com uma foto do marido da empresária da novela, para ficar igual a ele.
Contexto
Na opinião de Irfan Sahin, executivo-chefe da Dogan TV Holding, maior empresa de mídia da Turquia, o contexto muçulmano em que se passam os programas é crucial para o sucesso no mundo árabe. ‘As pessoas respondem ao que lhe é familiar. O que vende não é o global, mas o regional’, opina. Um recorde de 85 milhões de telespectadores assistiram ao capítulo final dde Gumus no canal saudita MBC.
Durante os últimos 20 anos, a Turquia consumiu tanta cultura americana que experimentou uma revolução sexual que a maior parte do mundo árabe não vivenciou, o que em parte explica por que a novela triunfou no Oriente Médio, mas foi considerada ‘fraca’ para a maior parte dos turcos. Na opinião da professora de televisão Sengul Ozerkan, a Turquia age como um intermediário entre o Ocidente e o Oriente Médio. Informações de Michael Kimmelman [New York Times, 17/6/10].