Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa recria cenas históricas

Documentários históricos costumam contar com entrevistas de especialistas no assunto, simulações e imagens de arquivo – quando elas existem. Mas agora os documentários acabam de atingir um novo patamar. Graças à tecnologia, momentos históricos podem ser reconstruídos com uma qualidade impressionante, diz Jamie Wilson [The Guardian, 19/7/04]. A novidade pode revolucionar o modo de aprender história, mas pode também criar conflitos éticos sem fim.

Feitas a pedido do Discovery Channel, a recriação de momentos históricos foi desenvolvida pela Moving Picture Company, maior criadora britânica de imagens geradas por computador. Já em produção, há cenas da tentativa de assassinato de Hitler em julho de 1944, e a visão de outros líderes mundiais na ocasião, como Roosevelt durante um ataque do coração, Stalin dando ordens e Churchill trabalhando de pijama em seu quarto. Segundo Wilson, ‘a qualidade é tanta – desde a coloração do filme até a granulação das imagens’, que as filmagens parecem realmente reais, não fosse pelo fato de que nunca foram feitas.

A técnica consiste em usar imagens reais de arquivo como base para a reconstrução. Historiadores foram chamados para prestar consultoria e fazer com que o trabalho seja fiel à realidade. Atores com semelhança física com os personagens históricos atuam nas cenas que não existem nos arquivos e, finalmente, é usado o programa de computador para recriar a face dos líderes e fazer com que o filme moderno se pareça com as imagens reais.

A nova técnica, porém, pode levar muitos historiadores e documentaristas a longas discussões por questões éticas. Afinal, é correto recriar o passado em vídeo? Alguns historiadores, como Richard Evans, da Universidade de Cambridge, dizem que, desde que seja feito com cuidado e responsabilidade, não há problema. Phil Dolling, produtor-executivo do rival BBC History, compartilha da mesma opinião. ‘A idéia soa fascinante e não posso esperar para ver, mas é preciso ser muito cuidadoso com o que é mostrado e os telespectadores devem ser informados – não apenas no início, mas durante o programa – de que as imagens são recriações, ou então há o sério risco de se enganar o público’.