Dois canais de TV muçulmanos xiitas do Líbano cancelaram, na semana passada, uma série polêmica sobre Jesus Cristo, alegando que não gostariam de incitar um conflito sectário no país, noticia Bassem Mroue [AP, 13/8/10]. A série, com 17 episódios, foi produzida no Irã e mostra Jesus de um ponto de vista islâmico. Muçulmanos acreditam que Jesus era um profeta e um professor, porém não filho de Deus. O tema é considerado controverso no Líbano, nação árabe de quatro milhões de pessoas com uma severa história de disputas sectárias. A população do país é dividida em 18 facções, incluindo sunitas e muçulmanos xiitas, cristãos e drusos.
O al-Manar, canal administrado pelo Hezbollah, e a emissora NBN começaram a exibir o seriado na semana passada, no início do mês sagrado muçulmano do Ramadã. Rapidamente, padres e políticos cristãos protestaram, alegando que ele poderia prejudicar a coexistência nacional. Na opinião do arcebispo católico maronita Bechara el-Rai, o programa não respeita Jesus, nem a Igreja e o cristianismo. Os dois canais defendem-se e dizem que a série ‘mostra a grande personalidade do profeta de Deus, Jesus, filho de Maria’. Ainda assim, eles acharam melhor interromper a exibição, em respeito a outras seitas libanesas.
Mesmo se dizendo contrário à censura, o ministro da Informação, Tarek Mitri, concordou com o cancelamento, por conta da diversidade religiosa da nação. ‘O Líbano é considerado um país de diálogo e onde cristãos e muçulmanos se encontram’, afirmou. Depois que ganhou independência do governo francês, em 1943, o país foi dominado por cristãos. Pedidos de muçulmanos por uma reforma ajudaram a desencadear a guerra civil de 1975 a 1990. Um acordo em 1989 colocou fim à guerra e os dois lados, desde então, dividem o poder. A presidência vai para um católico maronita, o primeiro-ministro deve ser um muçulmano sunita, e um muçulmano xiita deve ser o presidente do parlamento. Os 128 assentos do parlamento são divididos igualmente entre cristãos e muçulmanos.