Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programas ocidentalizados escandalizam a Malásia

Um jovem e sua candidata à namorada se divertem em uma noite no boliche e seguem para um jantar com os pais da moça. A descrição parece, à primeira vista, o mais inocente dos encontros – se não tivesse sido acompanhado por milhões de telespectadores, no Looking for Love (À Procura do Amor), mais novo sucesso do gênero reality show na Malásia.

O boom deste tipo de programa vem despertando críticas no país de maioria muçulmana por parte de líderes religiosos e do governo, que alegam que os reality shows inspirados na cultura ocidental ameaçam os valores tradicionais e corrompem os telespectadores moral e culturalmente, informa Sean Yoong, da AP [8/9/05]. A Malásia é um dos países mais modernos e liberais do mundo islâmico, mas oficiais do governo vêm alertando há muito tempo que a popularidade de filmes, programas de TV e músicas provenientes dos EUA podem contribuir com a obscenidade sexual e com a diminuição da crença religiosa dos jovens.

Reality shows americanos como Survivor e American Idol fizeram muito sucesso no país, levando à produção local de programas do gênero com algumas adaptações. Uma versão planejada de Survivor foi abandonada porque a idéia de colocar homens e mulheres no mesmo alojamento seria inadequada para os muçulmanos. Malaysian Idol e outros shows de calouros foram repreendidos porque os participantes – muçulmanos e membros de minorias budista, cristã e hindu – geralmente vestem roupas justas e se abraçam no palco. Apesar das críticas, o Malaysian Idol foi elogiado por promover a tolerância racial quando um indiano cristão ganhou a primeira temporada. No recém-lançado Fear Factor Malaysia, os participantes vão ser poupados de comer insetos, larvas e órgãos de animais – tarefas comuns na versão americana – porque isto é contrário às regras alimentares islâmicas.

No Looking for Love, 10 solteiros competem para ficar com Elly Zakaria, de 29 anos. Eles tentam conquistá-la dando presentes em encontros inocentes; ela elimina um deles a cada episódio. O vice-primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, que chefia um grupo do governo que vai considerar se impõe regras formais para os cerca de 30 reality shows do país, declarou que ‘cenas de abraço não são adequadas’ e alertou que os participantes devem ‘agir decentemente’. O programa é exibido pelo canal privado TV3 e mostra o papel da família e da religião na escolha de um parceiro. Em um dos episódios, os homens freqüentaram aulas de instrução sobre casamento islâmico e debateram se considerariam a poligamia, permitida pelo Islã.