A Sociedade Italiana de Pediatria vem denunciando os prejuízos que anúncios televisivos podem causar à infância, argumentando que as crianças são usadas abusivamente, sem freio algum, na publicidade. Há um investimento de 6 bilhões de euros anuais na propaganda de comida, merendinhas e roupas destinadas às crianças. Em 80% dos casos a dupla mãe e filho aparece promovendo produtos alimentícios. A grande maioria dos adolescentes (81,5%) compra alimentos sob influência da propaganda (55% gastam toda a mesada em gulodices). Segundo a psicóloga do desenvolvimento Maria D’Alessio (Universidade La Sapienza, Roma), esses fatos são terreno para uma cultura de doenças sociais, como a bulimia e a obesidade.
Essa é uma parte da história, a outra parece mais grave. A televisão e a internet são os principais violadores dos direitos da infância e da adolescência, seguidos bem de perto pelos jornais e o cinema. São dezenas de milhares de protestos pelos abusos na televisão, até nas ditas faixas protegidas entre 16h e 19h. A grande maioria das crianças entre 7 e 14 anos tem televisão no quarto, e muitas são induzidas, justamente pela proibição, a assistir programas indevidos, com grande preferência por reality shows e filmes pornô, em que se vê e se ouve de tudo: violência, sexo, vulgaridades, palavrões, voyeurismo, e ainda confusões entre fantasia e realidade, com proposta de modelos negativos, incitamento a comportamento lesivo, banalização de sentimentos, desfrute da imagem feminina.
A cada 5 minutos ouvem-se ouvem gritos e insultos, a cada 9, ameaças, a cada 21 minutos, palavrões, a cada 7 se vêem armas, atos violentos a cada 11 minutos e homicídios a cada 35.
Leis não pegam
Na internet italiana, onde 3 milhões de crianças e adolescentes navegam no mínimo uma hora por dia, há 19 mil sites de pornografia ou pedofilia, com ofertas de fotos pornô e serviços eróticos, dando às crianças uma visão distorcida sobre a sexualidade própria e a dos outros, fazendo com que amadureçam patologias e desvios de caráter. O perigo online para as crianças vai das imagens da decapitação de reféns, repetidas ao infinito, passa por sites que incitam ao suicídio, que ensinam a usar drogas, a construir armas, a praticar atos ilícitos ou macabros, indo até a possibilidade de entrar em contato com pedófilos.
Nos cinemas a situação não melhora. No ano passado foram lançados dezenas de filmes discutíveis e desaconselhados para menores de idade, sem a classificação etária.
Na Itália há 18 entidades, a nível nacional, para garantir o respeito à infância na mídia, empregando mais de 450 funcionários; 27 leis e códigos destinados a tutelar a presença infantil e juvenil na mídia, da Constituição de 1947 até a Lei Gasparri, de 2004, que estabelece os princípios gerais que regulam o sistema nacional, regional e local de rádio e TV. Também regula outros setores de comunicações interpessoais e de massas, inclusive a internet. O artigo 4° dessa lei disciplina as transmissões, garantindo ao usuário que os programas respeitem os direitos fundamentais do indivíduo, sendo portanto proibidas as transmissões que tenham mensagens cifradas ou de caráter subliminar, ou que contenham incitamento ao ódio de qualquer gênero. Sobre os horários dos programas, estabelece que não podem prejudicar o desenvolvimento físico, psíquico ou moral dos menores, que apresentem cenas de violência gratuita, repetidas e brutais, ou pornográficas.
Pode-se portanto ver que não é só no Brasil: também na Itália existem leis que não ‘pegam’.
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Jornalista