Nick Paton Walsh, do britânico The Guardian [11/04/05], reporta que um pequeno grupo de publicações ditas ‘liberais’ está em perigo na Rússia, país em que o governo controla amplamente os meios de comunicação. Esses jornais não têm grande circulação como, por exemplo, o Moskovski Komsomolets e Komsomolskaya Pravda, que hoje têm uma linha editorial conivente com o Kremlin. Somados, não ultrapassam o 1.1 milhão de leitores. Ainda assim, são importantes por serem o último bastião da imprensa independente na Rússia com coragem para desafiar Vladimir Putin.
No fim de março, um desses jornais, o pequeno Russki Kurier, que, apesar da tiragem de apenas 35 mil exemplares, se fazia notar pelos artigos agressivos contra o presidente, simplesmente fechou, sem maiores explicações da direção. O semanário Moskovski Novosti, sustentado por alguns dos proprietários do império petrolífero Yukos, sofreu uma revolta na redação e quase perdeu seu editor, o que fez seu principal mantenedor, o empresário Leonid Nevzlin, questionar se valia a pena financiar uma publicação que não dá lucro. Segundo rumores, outro jornal do grupo ‘liberal’, o Nezavisimaya Gazeta, também estaria com problemas financeiros. O bilionário exilado Boris Berezovsky afirma que continuará investindo nele, apesar de ser deficitário. Outras duas publicações, Novaya Gazeta e Noviye Izvestiya, estariam bem de caixa.
Berezovsky, além de dar dinheiro para a Nezavisimaya Gazeta, segue publicando o Kommersant, que ataca duramente o Kremlin, dá lucro e tem tiragem respeitável, de 117 mil exemplares. O Izvestiya, outro jornal de porte médio, que sai com mais de 300 mil exemplares e, portanto, também tem poder de arranhar a imagem do governo, já sentiu a pressão de Putin quando o desagradou por publicar fotos do ataque de terroristas chechenos a uma escola de Beslan, em setembro do ano passado. Seu editor-chefe, Raf Shakirov, teria sido demitido por causa da reação do presidente russo às imagens.