Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quando a morte ronda a mídia

Quase 300 pessoas morreram no Iraque desde a invasão americana, em 2003, simplesmente porque trabalhavam para veículos de mídia. Deste total, 135 eram repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e produtores. A maioria era iraquiana. O resumo acima é o início de artigo de Hugh Sykes publicado no sítio da BBC News [29/9/08] sob o título ‘A mídia iraquiana na indústria da morte’.


O jornal diário al Sabaah, em Bagdá, serve de exemplo para a rotina de desafio e medo enfrentada pelos jornalistas no Iraque. Pelo menos 22 funcionários do jornal foram assassinados nos últimos cinco anos. A redação e a sala de impressão são cercadas por paredes de concreto anti-explosões, e há um posto de controle na entrada do edifício. Ainda assim, dois carros bomba já conseguiram entrar, matando duas pessoas.


Murtala Salah trabalhava no setor de tradução do diário quando um dos carros explodiu – estava a poucos passos de uma sala destruída no atentado. Questionado por que continua a trabalhar em um ambiente tão arriscado, ele responde que este é seu destino. ‘Jornalistas têm apenas suas canetas. Nós contamos a verdade. E isso é perigoso para os terroristas, porque os torna criminosos aos olhos do público’, afirma. ‘Os jornalistas no Iraque não trabalham apenas para viver. Eles querem revelar a verdade, e é por isso que são alvos’, completa, em coro, o editor Falah al Mashal. Apesar de ser propriedade do governo, o al Sabaah, diz Mashal, é um jornal independente que nunca apoiou algum partido político. ‘Independência é essencial’, defende.




Instituto londrino vai treinar jornalistas


O Institute for War and Peace Reporting (IWPR, Instituto para a Cobertura de Guerra e Paz, tradução livre), com sede em Londres, abrirá uma filial iraquiana até o fim de 2008. O instituto pretende ensinar os jornalistas locais a reportar em ambientes hostis e a ter objetividade na cobertura.


Hoje, muitos jornais e emissoras de TV, financiados por grupos políticos ou religiosos, acabam adotando uma parcialidade extrema. Segundo Hiwa Osman, diretor do IWPR no Iraque, é preciso ler seis ou sete jornais iraquianos por dia para se ter uma noção completa de uma notícia. ‘Nós precisamos, urgentemente, treinar os jornalistas daqui para que possamos dar as notícias inteiras, sem inclinações políticas, religiosas ou sectárias’, afirma. Osman acredita que muitos assassinatos que ocorrem no país são estimulados pela propaganda veiculada pela mídia.