Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Que bom-dia miserável eu recebi

Acordo, como sempre atrasado, e corro para o banho. De dentro do chuveiro ouço Zileide Silva falando que Dilma e os deputados estão pensando em criar um novo imposto para ajudar a Saúde. Lembro da CPMF que os políticos de oposição trataram de sepultar meramente para cortar a verba do Ministério da Saúde e enfraquecer o governo Lula. Indignado com a notícia, volto ao meu banho e procuro pensar no cliente que me espera às 9:00h.

Porém, a mesma Zileide insiste em perturbar meu momento a sós, com a água. Dessa vez falando sobre a absolvição de Jaqueline Roriz. Aí foi demais para mim. Parei o banho para ouvir a matéria. Ouvi a defesa da “nobre deputada” e perdi de vez a paciência. A deputada do PMN/DF defende-se de não ter ferido o decoro parlamentar, pois não era parlamentar quando aceitou dinheiro ilícito para a sua campanha. Desqualificou o vídeo onde aparece recebendo dinheiro vivo, chamando-o de “clandestino”. Disse ser vítima de perseguição por parte de mídia. Para terminar afirmou ter recebido dinheiro ilícito quando era apenas uma “cidadã comum”. Vamos por partes.

Caríssima Jaqueline (realmente muito cara para se comprar). A nobre deputada, bem como outros representantes de sua família, não quebrou o decoro parlamentar. A senhora talvez nem saiba o que é isso. A vossa simples presença no Parlamento já é sinônimo de falta de decoro. Decoro, nobilíssima deputada, significa decência, respeito próprio, dignidade, coisas que um vídeo gravado de forma clandestina mostrou que a senhora não possui. Ou seja, a presença de alguém sem decoro, no parlamento, é uma quebra, sim.

Uma cassação que poderia abrir precedente

Outra coisa, caríssima Jaqueline. A senhora não é uma cidadã comum. É filha do “ex-dono” de Brasília, sr. Joaquim Roriz, aquele mesmo que renunciou ao cargo de senador em 2007 por participação no escândalo Banco de Brasília (lembram?), deflagrado pela Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal. E se Vossa Excelência é uma “cidadã comum”, sinceramente, me recuso ao título de “cidadão comum”, pois teria asco em estar navegando no mesmo barco que a senhora.

Mas Vossa Excelência pode ficar tranquila. Ainda há “cidadãos comuns” como a senhora. Ao menos 265 brasileiros. Todos eles “nobres deputados”, corporativistas com rabos presos, que se esconderam atrás do voto secreto para livrar uma corrupta confessa e pega em flagrante de uma cassação que poderia abrir precedente na Câmara.

Sujeira demais, por hoje

A política nacional está cada vez mais asquerosa. Na Bahia, um prefeito de uma cidadezinha destinou 4 milhões de reais para a merenda escolar de 11.000 estudantes. Merenda, leia-se, kisuco com biscoito Cream Cracker. Ainda na Bahia, nosso governador está chegando ao oitavo mês da construção de uma passarela (próximo ao Estádio de Pituaçú), mas nesse ínterim foram inaugurados quatro absurdos postos de pedágios que irão receber o dinheiro dos verdadeiros cidadãos comuns para só depois melhorar as estradas. Na prefeitura de Salvador, o metrô teve mais data de inauguração que casamento do Fábio Jr.

Contudo o Bom Dia Brasil me brindou com uma pérola. Alexandre Garcia culpou o eleitor por ter votado na ficha-suja Jaqueline Roriz. E sabe o que é pior? Vou concordar com ele pela primeira vez.

Ano que vem tem eleição e pergunto a vocês, amigo (e)leitor: vai votar em quem? Vão pensando enquanto eu vou tomar outro banho. Afinal, a televisão jogou sujeira demais na minha cara, por hoje.

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[Erick Cerqueira é publicitário e editor do site TipoRevista.com.br]