O website da Columbia Journalism Review (revista de jornalismo da Columbia, universidade dos Estados Unidos, casa do Prêmio Pulitzer) pergunta qual o valor de notícias publicadas semanalmente neste ambiente de mídia propagando de segundo em segundo?
Luciano Martins Costa anotou neste Observatório que a Newsweek estaria à venda, mas avisava que, até o momento em que redigia a nota, nada estava confirmado. Porém na segunda-feira (2/8) o negócio havia sido fechado de fato, pela bagatela de US$ 1,00, com o magnata de aparelhos estéreos Sidney Harman, marido da democrata da Califórnia Jane Harman. O homem tem 91 anos ou 92 (de segunda a quarta-feira a Columbia Journalism Review revisou a idade do rapaz) e outra pergunta que a revista faz é o que ele fará com a Newsweek, especulando se conseguirá manter o padrão da ‘venerável’ revista (adjetivo da CJR).
Tudo muito rápido, embora o negócio viesse sendo comentado há muito tempo nos bastidores da imprensa americana, especialmente na ponte aérea Washington-Nova York. Aliás o New York Times dera o furo, na segunda-feira (2), sem confirmar, e o Washington Post (ex-dono da Newsweek) também não confirmava nem revelava valores, apenas ecoava o otimismo do futuro comprador, de que a coisa iria se concretizar.
Aí o CJR informa (na quarta-feira, 4/8) que o furo saíra na terça-feira pelo The Daily Beast, e a coisa se tratava de, à la Tanure, aquisição de um cadáver financeiro cuja perda operacional para 2010 está projetada em 20 milhões de dólares.
Mês passado, o Observatório da Imprensa já havia soltado a pergunta que plagio agora: o que faz um sujeito que não tem nada a ver com jornal, adquirir um veículo da imprensa? Se ele quer exposição, não seria o caso de comprá-la sob demanda? Pergunto eu: quem seria capaz de desamarrar este nó górdio para todos nós?
Pergunta relevante
Sobre a questão da importância de notícias semanais, sendo um fanático da crônica (autor de Crônico – a história da crônica), eu comentei no blog da revista que a análise contextualizada da notícia com a opinião de especialistas só é possível quando a poeira baixa um pouco, ou as apurações são reapuradas pela própria renovação de fatos. Que os repórteres e cidadãos jornalistas façam a sua parte, que nós crônicos pela leitura mais profunda façamos a nossa.
E, enquanto o mundo digital gira disponibilizando notícias à razão da computação de nuvens (cloud computing), tudo remoto e instantâneo à mão de quem quer acessar, em qualquer lugar, no computador, no palmtop, no telefone celular, nos emaranhamos em mais perguntas. Pelo menos a CJR estimula o questionário com a seguinte:
– Como deveria ser uma revista semanal de notícias?
Vários jornalistas enviaram palpites, mas Ean Smith, editor-chefe e CEO do The Texas Tribune, que inovou recentemente cobrando por comentários de internautas (uma forma de selecionar comentários obscenos), deu uma resposta em que eu acrescentaria muito pouco. Ei-la:
‘1. Relembre que todos nós hoje em dia temos nossas notícias não semanalmente, nem a cada dia, mas a cada segundo. O valor real que a Newsweek traz para a mesa é o jornalismo de contexto e uma rotação de análises, que eu chamo de espiral [tradução deste observador para ‘analysis-forward-toration-journalism’, porque é assim que eu tento escrever, em espiral]. Eu já sei o que aconteceu antes deles me contarem; o que eu preciso saber é por que e como e o que acontecerá em seguida;
2.
Igualmente importante, preciso inovação na apresentação: plataforma de jornalismo agnóstico verdadeiramente do século 21. Me impressione com ferramentas de Flash; me surpreenda inteiramente com aplicações de dados; me engaje com história em áudio e vídeos;3.
Aproprie-se do espaço de conteúdo alimentado automaticamente. Utilize mídia social agressivamente para colocar o seu conteúdo na cara de audiências dispostas a absorvê-lo. Colabore e associe-se com parceiros tantos quantos sejam os seus antigos concorrentes, para produzir um bom trabalho e distribuí-lo através de suas redes, assim como de sua própria rede. E nos diga, pessoalmente, como pensar sobre as notícias, através de eventos pelo país afora, de modo que nos engaje, literalmente, onde vivemos.’Bela resposta, cada linha dá pelo menos uma boa discussão. Mas, e aquela pergunta que não quer calar (o lugar comum é providencial, com o seu perdão): por que gente que não é do ramo quer um veículo de imprensa (mesmo falido) nas mãos?
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Jornalista e escritor