O Brasil é espelhado. A Bahia é o Rio-calorosa, musical e extrovertida. Baianos e cariocas vivem no centro do mundo. Minas é o Ceará – conservadores, desconfiados, jeito humilde que esconde sabedoria.
Até pouco tempo, terras dos banqueiros do país.
São Paulo reflete Pernambuco.
Sobrenomes de 400 anos, orgulho de Guararapes, de 32, de bandeirantes, senhores de engenho e industriais. Mania de grandeza. Capibaribe e Beberibe se encontram no Recife para formar o oceano Atlântico. A Rádio Jornal do Recife fala do Recife para o mundo.
Parque de diversão
A TV Cultura de São Paulo também fala para o mundo.
Chega a todo o Estado e a boa parte do Brasil. Foi fundada durante o governo militar. O governador Abreu Sodré tratou de protegê-la dos governos, criando conselho de notáveis para garantir a autonomia da programação.
Antes da internet, a televisão podia ser usada para difundir programas de interesse especifico que podiam ser vistos em qualquer lugar, mas atraíam segmentos específicos; como o rádio amador que, antigamente, espalhava sinais pelo mundo inteiro para ser ouvido apenas por Rondon enfiado na floresta amazônica.
Com a internet, a situação mudou. O público interessado em ópera barroca pode ouvir em casa, no celular ou na própria tela da televisão, na hora e no lugar em que quiser. Este o desafio de todas as televisões: como continuar relevante diante de tantas outras mídias, com conteúdos os mais variados, que podem ser acessadas e vistas quando e onde o telespectador quiser? A TV Cultura precisa ser diferente; nem melhor nem pior do que as emissoras comerciais.
Tem a missão de atingir o público com programação atraente: ‘programas populares transformados em programas de qualidade e programas de qualidade que se tornem populares’. Se o objetivo é falar para o público, as consequências são importantes.
Deve adotar a linguagem da televisão que é vista por telespectadores ‘armados’ com controles remotos, que mudam de canal ao mais leve sinal de chatice. A televisão usa linguagem de parque de diversão – anuncia aos gritos a mulher barbada, o ‘blockbuster’, o programa de auditório.
Dinheiro dos contribuintes
A televisão precisa atrair o telespectador da mesma forma para o debate sobre reforma política, para a quinta sinfonia de Mahler, para a musica caipira ou para o hip hop.
Trabalhamos desde junho na reformulação da programação da TV Cultura, para melhorar a qualidade dos programas, cuidando da produção, dos cenários, da estética e do prestígio dos apresentadores.
Mudamos horários para que o telespectador saiba o que vai encontrar na Cultura a cada minuto do horário nobre e não ‘mate’ o trabalho de tanta gente com um tiro do controle remoto. Administramos posições e cargos de jornalistas, artistas e produtores artísticos -profissionais de comunicação. E não nos comunicamos de forma adequada. Quem não se comunica, se estrumbica.
Mudanças geram ansiedade. Cada proposta de mudança aparece em blogs, nos jornais e na internet como um desastre. Fala-se em desmanche da TV Cultura, demissões em massa, destruição da TV tão querida. Não é verdade.
O dinheiro dos contribuintes paulistas que financiam a TV Cultura merece todo o respeito. Trabalhamos para que a TV ofereça o que há de melhor. Blogueiros que difundem especulações e maldades, tenham um pouco de paciência. Assistam à nova programação e avaliem o resultado. Ouviremos com respeito todas as críticas e continuamos abertos às boas ideias. As mudanças começam hoje.
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Doutor em economia pela Universidade Yale (EUA), é presidente da TV Cultura de São Paulo. Foi secretário da Cultura do Estado de São Paulo (gestão Serra), secretário de Finanças e Desenvolvimento da prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy), secretário da Fazenda do Estado de São Paulo (governo Montoro) e ministro do Planejamento (governo Sarney)