Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rebekah Brooks e Andy Coulson na berlinda

Acusados de envolvimento no escândalo dos grampos telefônicos no tabloide News of the World, os ex-editores Rebekah Brooks e Andy Coulson acabaram, ironicamente, tendo sua vida privada exposta na primeira semana de seu julgamento. Na quinta-feira [31/10], a acusação trouxe à público a informação de que os dois tiveram um caso durante mais de seis anos, enquanto eram casados com outras pessoas.

O promotor Andrew Edis afirmou que não pretendia constranger os réus, invadir sua privacidade ou fazer julgamento moral; queria apenas demonstrar a ligação próxima entre eles durante os anos em que ocorreram os grampos. “Durante o período relevante, o que o senhor Coulson sabia, a senhora Brooks também sabia. O que a senhora Brooks sabia, o senhor Coulson também sabia. Este é o ponto”, justificou.

Os dois são acusados de conspiração para grampear telefones e para subornar oficiais públicos, além de obstrução da justiça. Os outros réus são o detetive particular Glenn Mulcaire; Neville Thurlbeck, ex-correspondente-chefe do News of the World; o ex-editor assistente James Weatherup; o ex-editor Greg Miskiw; e o ex-diretor-executivo Stuart Kuttner. O atual marido de Rebekah, Charlie Brooks, é acusado de ajudá-la a esconder evidências. Todos se declararam inocentes.

O promotor, no entanto, lembrou que quatro dos réus – Glenn Mulcaire, Neville Thurlbeck, James Weatherup e Greg Miskiw – já haviam admitido participação nos grampos em um estágio anterior das investigações. Segundo Edis, a admissão de culpa mostra que “existia uma conspiração que envolveu um significativo número de pessoas”.

Trocas de mensagens

A acusação lembrou de algumas vítimas de grampos, e ressaltou o caso da adolescente Milly Dowler, sequestrada e assassinada em 2002. O jornal invadiu sua caixa postal enquanto a menina de 13 anos ainda estava desaparecida para ouvir mensagens deixadas para ela. Foi o caso de Milly Dowler que provocou o fechamento do News of the World em julho de 2011. Mas, além dela, políticos, atletas, socialites, membros da família real e até jornalistas de veículos rivais tiveram seus telefones grampeados.

A acusação alega que trocas de emails de Coulson e Rebekah com funcionários do jornal sugerem que eles “deviam saber” da prática ilegal. Com base nestas mensagens, Coulson – que ocupou o cargo de editor-chefe do News of the World de 2003 a 2007 – teria, por exemplo, autorizado um pagamento em dinheiro no valor de mil libras (cerca de 3,7 mil reais) para um policial em troca de um caderno de telefones com os números da família real. Depois de deixar o grupo de mídia do empresário Rupert Murdoch, Coulson tornou-se diretor de comunicação do primeiro-ministro David Cameron, até renunciar ao cargo em janeiro de 2011 por causa da exposição causada pelo escândalo dos grampos.

Rebekah, que chefiou o News of the World de 2000 a 2003, também teria autorizado pagamentos a servidores públicos em troca de informação privilegiada quando era editora do Sun [de 2003 a 2009]. Foi citado um pagamento de 40 mil libras (cerca de 147 mil reais) a um oficial com amplo acesso a informações do Ministério da Defesa. De 2009 a 2011, ela atuou como executiva-chefe da News International [hoje rebatizada de News UK] e era considerada “protegida” de Murdoch.

A previsão é de que o julgamento dure seis meses. Já na primeira semana, a acusação fez questão de ressaltar que trata-se de um processo contra jornalistas individuais e funcionários da News International, e não uma condenação da imprensa como um todo. “Este processo não é um ataque à liberdade de imprensa ou à prática do jornalismo ou nada parecido”, afirmou Edis. “A acusação aceita o fato de que é importante, em um país livre, que haja uma imprensa livre. Mas jornalistas não têm mais direito a violar as leis do que qualquer outra pessoa. A lei serve para todos nós”.