A equipe do jornal francês Le Monde decidiu entrar em greve na próxima segunda-feira (14/4), por 24 horas, em protesto aos planos de corte de empregos do diário. Na semana passada, a administração do Monde anunciou a eliminação de 130 cargos para que o jornal consiga cortar custos e enfrentar a crise financeira que atinge a indústria jornalística como um todo. Dois terços dos cortes serão feitos na redação, o que significa um em cada quatro jornalistas – ou 87 pessoas.
A própria administração concordou que a medida é ‘drástica’, mas defendeu que é necessária para a sobrevivência financeira do Monde. Em uma ação complementar, a editora LaVie-Le Monde também irá vender alguns bens, entre eles a conceituada revista de cinema Les Cahiers du Cinema, uma publicação mensal de dança, uma cadeia de livrarias de literatura religiosa e um braço editorial.
Os cortes, segundo o editor Laurent Greilsamer, são essenciais. ‘É um plano agressivo, que reflete a política falha dos últimos anos’, diz ele. ‘Decisões difíceis que tinham que ter sido tomadas não o foram’. Greilsamer faz parte da equipe gerencial que recentemente assumiu o controle do jornal. ‘A redação está em choque’, admite. ‘Iremos passar por um período muito complicado’.
Resposta
Segundo Christiane Chombeau, representante dos jornalistas do Monde, a greve de 24 horas é vista como ‘a única resposta ao violento plano [de cortes] que nos impuseram’. ‘Nós sentimos que estamos tendo que pagar pela falta de responsabilidade de líderes anteriores do diário’, completa ela. Além de protestar contra as demissões, a equipe editorial também se preocupa em como irá funcionar uma redação tão reduzida. ‘Nós já não temos uma editoria investigativa, e nossas editorias de política, sociedade e Europa foram reunidas na editoria de `notícias domésticas´’, diz Christiane.
O Monde já enfrenta sua crise financeira há bastante tempo – não vê lucro há sete anos. Em 2003, o jornal tinha circulação diária de 398 mil exemplares; em 2007, este número chegou a 358 mil cópias. Também no ano passado, foram perdidos 15 milhões de euros, acumulando uma perda total de 150 milhões de euros. A situação reflete a enfrentada pela imprensa francesa em geral, com circulação e lucros em declínio.
Se não for publicado na segunda-feira – o Monde é vespertino -, será a segunda vez que isso ocorre em seus 64 anos de história. Em 1976, os jornalistas interromperam o trabalho em solidariedade aos colegas do jornal France Soir, que havia sido vendido. Informações de Gwladys Fouché [The Guardian, 11/4/08].