Após enfrentar sua mais grave crise institucional, causada pelo incidente envolvendo o repórter Andrew Gilligan e o especialista em armas David Kelly, a BBC acaba de publicar um documento de 135 páginas, intitulado Construindo Valor Público, em que propõe mudanças estruturais em seu funcionamento e tenta justificar a manutenção de seu financiamento. A companhia pública, cuja atual concessão vence em 2006, funciona graças aos quase US$ 5,5 bilhões que a população britânica paga em taxas de licença. Seu presidente, Michael Grade, defendeu o recolhimento de ‘imposto de TV’ como a melhor maneira de garantir que a BBC produza conteúdo diferente daquele feito por emissoras comerciais.
De modo geral, o texto publicado pela BBC propõe maior controle sobre a programação, maior preocupação com a qualidade e menor atenção aos índices de audiência. O board of governors, comissão que supervisiona a emissora, passaria a ter poderes mais específicos, determinando, por exemplo, os orçamentos dos programa.
Cada atração da BBC seria submetida a um ‘teste de valor público’, que levaria em conta seu alcance, qualidade, impacto e relação custo/benefício. Ainda não está claro como isso funcionaria na prática. O que ficou evidente é a intenção da emissora de dar menos espaço a produções voltadas apenas a conseguir muita audiência, baseadas em idéias copiadas, como os reality shows. A BBC fará um esforço para ressuscitar a dramaturgia no rádio e na TV. Foi proposta também a criação de uma segunda comissão de controle independente além do board of governors
O documento faz referência ainda à implantação da TV digital. O governo britânico havia marcado para 2010 o fim das transmissões analógicas no Reino Unido. A BBC, no entanto, afirma que não será possível fazer isso antes de 2012. A emissora também assumiu o compromisso de não se expandir mais – algo que agrada as redes privadas. Elas viviam se queixando da concorrência desleal que representa uma rede pública que dispõe de um imposto exclusivo para financiar seu crescimento. Com informações do Guardian e da Reuters [29/6/04].