O gabinete do inspetor-geral do Departamento de Defesa dos EUA declarou, em um relatório divulgado na sexta-feira (16/1), que não encontrou falhas em um programa de relações públicas do Pentágono que inseria militares aposentados como analistas de assuntos de guerra em emissoras de rádio e TV americanas. A investigação sobre a questão foi conduzida depois que o New York Times publicou artigos, no ano passado, descrevendo um sofisticado plano do Pentágono, criado em 2002, para que analistas militares supostamente imparciais fizessem propaganda das políticas de guerra do governo de George W. Bush.
As matérias do Times relatavam os benefícios recebidos por estes analistas – muitos dos quais tinham laços com empresas ligadas ao Departamento de Defesa. Eles também eram levados em excursões para o Iraque e recebiam acesso a informações confidenciais do Pentágono. Em resposta aos textos, pelo menos 45 membros do Congresso pediram a abertura de um inquérito sobre o programa. Muitos alegaram que temiam se tratar de uma campanha ilegal de propaganda voltada ao público americano.
Sem provas
No relatório divulgado na semana passada, entretanto, o gabinete do inspetor geral afirma que não há ‘base suficiente’ para concluir que o programa violou as leis que proíbem que o governo americano faça uso doméstico de propaganda. Os investigadores também não teriam encontrado provas de que os analistas militares teriam usado seu acesso especial a informações, viagens e reuniões com oficiais do alto escalão do Pentágono para ‘obter vantagem competitiva para suas companhias’. O relatório ainda considerou que mensagens de e-mail e documentos citando os analistas como ‘representantes’ do governo não provam conduta inapropriada, refletindo apenas pontos de vista pessoais.
Alguns congressistas democratas expressaram rapidamente sua preocupação com a metodologia e a precisão das conclusões do relatório. Eles citaram o fato de pessoas-chave na criação do programa se recusarem a ser entrevistadas pelo gabinete do inspetor geral. Entre elas estão Victoria Clarke, chefe do departamento de relações públicas do Pentágono durante a invasão do Iraque, e Lawrence DiRita, assessor de Donald Rumsfeld, na época secretário de Defesa. A equipe que preparou o relatório também teria falhado ao não buscar outras mensagens de e-mail além daquelas divulgadas pelo Departamento de Defesa para o New York Times sob o Freedom of Information Act, lei de acesso a informações públicas.
Apuração falha
Segundo o jornalão, ainda que o relatório liste 43 analistas militares sem filiação com empresas que prestam serviços ao Departamento de Defesa, muitos deles possuem ligações documentadas com estas companhias, incluindo Barry R. McCaffrey, general aposentado e comentarista da rede NBC. De acordo com o Times, McCaffrey trabalha como consultor pago em diversas companhias militares e faz parte do conselho de outras. Questionados por que o general aparece na lista de analistas sem ligações com as companhias, membros do gabinete do inspetor geral responderam que seus ‘parâmetros de pesquisa’ podem não ter encontrado ‘todas as relações de negócios relevantes’.
Outros dois inquéritos sobre o programa do Pentágono ainda estão em andamento. Um é conduzido pelo Government Accountability Office, agência fiscalizadora dos EUA, e deve ficar pronto em fevereiro; o outro é de autoria da Comissão Federal de Comunicações, órgão que regula o setor de telecomunicações no país. Informações de David Barstow [The New York Times, 17/1/09].