Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Repórter é condenada a 50 chibatadas

Acusada de “difundir propaganda contra o governo” e “perturbar a ordem pública”, a jornalista iraniana Marzieh Rasouli foi levada à penitenciária de Evin, em Teerã, na terça-feira [8/7]. Condenada a dois anos de prisão, sua pena inclui ainda 50 chibatadas. A sentença foi divulgada pela própria jornalista em mensagem via Twitter, na qual ela dizia estar aguardando o momento de sua ida para a cadeia. Internautas lançaram uma petição online para que ela seja solta.

Nas últimas semanas, pelo menos seis outros jornalistas foram detidos no Irã. Embora o presidente Hassan Rouhani venha buscando uma política externa de reconciliação, a magistratura local e a Guarda Revolucionária ainda adotam uma postura mais conservadora.

Mazieh é bastante conhecida no Irã e já trabalhou para uma série de jornais reformistas, como o Shargh Daily e o Etemaad. Esta não é a primeira vez que ela é presa. Mazieh foi detida em janeiro de 2012, numa tentativa do governo de intimidar a população para desestimular protestos antes das eleições parlamentares que ocorreriam em março daquele ano. Após cerca de seis semanas – a maior parte deste período na solitária –, ela foi libertada depois de pagamento de fiança.

Rotina da repressão

Entre maio e junho deste ano, dezenas de jornalistas foram detidos ou acusados formalmente de crimes no Irã. Segue uma breve lista:

Saba Azarpeik, jornalista reformista dos jornais Tejarat-e Farda e Etemad, foi presa em 28/5. Saba já havia sido detida em 2013 sob acusação de escrever de forma crítica contra membros conservadores do governo.

A documentarista e cineasta iraniana Mahnaz Mohammadi foi condenada à pena de cinco anos de prisão em 7/6. O governo acusou Mahnaz de fazer propaganda e de conspirar contra o Estado, além de também acusá-la de trabalhar para a BBC – os conservadores do Irã veem a BBC como um braço da espionagem britânica.

Onze membros da equipe da empresa Pat Shargh Govashir (proprietária de sites de notícias sobre tecnologia bastante populares no Irã) foram condenados, em 19/6, de um a 11 anos de prisão sob acusação de “receber treinamento e produzir conteúdo para a BBC”.

O blogueiro Mehdi Khazali foi preso em 20/6 durante uma viagem para o norte do Irã. Embora não tenha havido a confirmação de acusações formais, suspeita-se que a prisão tenha sido decretada depois que Khazali publicou um post em seu blog acusando o aiatolá Mahdavi Kani de corrupção e peculato. Kani é chefe da Assembleia dos Peritos (corpo clerical cujo principal poder é eleger o Líder Supremo do país).

Reihaneh Tabatabaei, jornalista dos veículos Shargh e Bahar, foi condenada a seis meses de prisão, em 21/6, devido à “publicação de notícias sobre o Movimento Verde”.

O iraniano Mashallah Shamsolvaezin divulgou em sua página no Facebook, em 28/6, que havia sido acusado de “propaganda contra o Estado” – as acusações condenavam o teor de suas entrevistas e de seus discursos em conferências de jornalismo. Ele foi libertado após pagar fiança equivalente a 180 mil reais.

Uma das maiores prisões para jornalistas

Em 2010, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas listou o Irã como o país que mais encarcerava jornalistas em todo o mundo. Tal posição no ranking da organização se deu principalmente por conta das eleições presidenciais de 2009, ocasião em que houve uma série de protestos em massa no país.

À época, pelo menos nove jornalistas foram presos. Apenas 26 dias depois, este número havia subido para 39. Desde então, índices elevados como este têm se tornado normais no país, que continua entre os três piores do mundo em relação à prisão de jornalistas.