O repórter do New York Times Kurt Eichenwald sabia que seria criticado por sua decisão de convencer um adolescente a deixar o mundo da pornografia infantil para cooperar com investigadores federais. A reportagem sobre Justin Berry, hoje com 19 anos, foi publicada na semana passada. Estimulado por Eichenwald, o jovem – que antes era usuário de drogas e mantinha relações sexuais com pagantes em frente a uma webcam – cooperou com o Departamento de Justiça americano em uma investigação que levou a dezenas de prisões.
Segundo Howard Kurtz [Washington Post, 26/12/05], o jornalista claramente cruzou a fronteira entre a observação e a participação. ‘Eu sabia que nossa profissão olharia para isso e diria que levaria a resultados preocupantes’, afirma Eichenwald. ‘Mas qualquer resultado era preocupante. Eu entrevistava um menino que, de repente, começava a falar de outros meninos e contar onde eles estavam e o que acontecia com eles. Ele sabia qual criança estava sob controle de qual pedófilo’.
Eichenwald conta que teve que persuadir Berry, que estreou diante das webcams aos 13 anos, a deixar seu trabalho e abandonar as drogas para se tornar uma fonte útil para o jornal. O ex-parceiro de negócios do jovem, de 38 anos, foi preso. ‘Eu sabia que seria criticado por transformar uma fonte em testemunha federal’, diz ele, para completar que, como pai, sente ‘uma enorme culpa’ pelas outras crianças que continuam a participar da indústria da pornografia.
O jornalista afirma que, durante discurso em um encontro com editores e advogados da companhia, em julho, o editor-executivo Bill Keller disse que ‘nós temos que fazer a coisa certa’. ‘Seria mais fácil bolar todo tipo de explicação’ para não fazer o que fez, diz Eichenwald.
A história que parece de cinema já despertou o interesse de Hollywood.