Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Repórteres querem processar empresa por espionagem

Três jornalistas que tiveram seus registros telefônicos espionados por investigadores a serviço da Hewlett-Packard pretendem processar a companhia por invasão de privacidade, noticia Damon Darlin [The New York Times, 7/5/07]. O caso veio à tona no ano passado, quando se descobriu que diretores da empresa, na época chefiada por Patricia Dunn, haviam contratado detetives particulares para tentar descobrir quais membros do conselho estariam vazando informações internas para a imprensa. Nove jornalistas tiveram seu sigilo telefônico violado e suas vidas – inclusive as de alguns de seus parentes – investigadas.


Os três repórteres que pretendem processar a HP, Dawn Kawamoto, Stephen Shank-land e Tom Krazit, trabalham para o CNet Networks, serviço online de notícias de tecnologia. A companhia informou que não pretende se unir à ação, mas não descarta a possibilidade de processar separadamente a HP. Segundo o artigo de Darlin, questiona-se agora se é adequado que uma organização jornalística ou seus funcionários editoriais entrem na justiça contra uma empresa que cobrem. ‘Certamente não é comum’, diz o jornalista do Times.


Segundo o advogado Kevin Boyle, que atua em Los Angeles e foi contratado pelos repórteres para dar início ao caso, não seria pedido nem um dólar por danos, e sim ações punitivas contra a HP, hoje uma das maiores companhias de computadores e impressão do mundo. Boyle deixou claro que, ainda que continuem empregados da CNet, seus clientes não têm mais permissão para cobrir a HP.


Tentativas de acordo


A ameaça legal surge depois de meses de negociações com a companhia. Em dezembro, o então procurador-geral da Califórnia Bill Lockyer se reuniu com alguns dos nove jornalistas envolvidos no caso na tentativa de estabelecer acordos. O encontro contou com a presença dos advogados dos repórteres e de advogados de algumas das empresas onde trabalham. O plano inicial era tentar conseguir a quantia de US$ 250 mil para cada jornalista. O dinheiro seria doado para algum programa estudantil de jornalismo.


Pelo menos sete repórteres do grupo se uniram para debater as possibilidades de entrar com ação legal contra a HP e tentar estabelecer que conseqüências isso poderia ter para suas carreiras. Os três profissionais da CNet acabaram se separando do grupo. Os outros quatro jornalistas – três da BusinessWeek e um do New York Times – continuam a discutir o assunto juntos, com apoio da New York Times Company. Em abril, eles teriam pedido US$ 7 milhões cada, com a promessa de que doariam a maior parte do dinheiro para caridade. A HP ofereceu US$ 10 mil por repórter, o que, segundo pessoas próximas ao caso, não cobriria nem as custas legais de um possível processo.


Outros dois repórteres, estes do Wall Street Journal, desistiram de tentar obter um acordo com a HP. O Journal indicou, em dezembro, que não tomaria parte em acordos nem abriria ações legais. A BusinessWeek também optou por não se envolver, e seus jornalistas são representados por um advogado de São Francisco, Terry Gross, que também representa o repórter do Times.


Questão ética


De acordo com Tom Bivins, professor de ética na mídia da Universidade do Oregon, o caso da HP é ‘um caso estranho’, mas não haveria nenhum problema ético se os jornalistas abrissem um processo contra a empresa que os investigou ilegalmente. ‘No fim das contas, um jornalista é um cidadão’, resume, completando que haveria sim um conflito se estes jornalistas voltassem a cobrir a HP.


A revelação da investigação conduzida pela HP levou à demissão de Patricia Dunn da diretoria do conselho e de dois advogados da empresa. Inicialmente, Patricia e outros quatro executivos foram acusados criminalmente, mas em março a acusação contra ela foi retirada e a contra os outros três foi reduzida. Três meses antes, a HP havia concordado em pagar US$ 14,5 milhões em acordo pela ação aberta pela procuradoria-geral da Califórnia por sua ligação com práticas de espionagem.