Apesar da crença de que o poder da internet para mobilizar revoluções sociais é algo superestimado, o governo da Tunísia acredita no velho clichê do ‘é melhor prevenir do que remediar’. Primeiro país árabe a ter internet, a Tunísia sofre hoje com ciber-contra-revolucionários, que combatem defensores da liberdade de expressão nos mundos real e virtual.
A última onda de distúrbios no país teve início com um protesto do jovem Mohamed Bouazizi, de 26 anos, contra seu desemprego. Bouazizi ateou fogo em si próprio na cidade de Sidi Bouzid, no sul da Tunísia. O assunto logo começou a ser debatido na internet, o que elevou o sistema de alerta das autoridades. ‘A polícia quer invadir as contas dos internautas com o objetivo de desmantelar redes de jornalismo cidadão que se formaram espontaneamente depois dos protestos em Sidi Bouzid’, escreveu Astrubal, co-editor do site independente Nawaat.
Repressão
Mas os jornalistas cidadãos que atuam na rede não não o único alvo da repressão do governo. Jornalistas independentes da mídia impressa, de rádio e TV são rotineiramente perseguidos. Novos pedidos para licenças de rádio e TV não são atendidos. O controle estatal do judiciário garante que as apelações sejam recusadas e críticos políticos, presos. Rádios e TVs privadas são controladas por amigos e familiares do presidente Abidene Ben Ali. Todas as cinco licenças emitidas desde 2003 foram para eles – o caso mais recente é o das estações de rádio Shems e Express, lançadas por sua filha, Cyrine Ben Ali, e Mourad Gueddiche, filho de seu médico particular.
No ano passado, uma emenda no artigo 61 do código penal determinou a pena de até cinco anos de prisão para tunisianos ‘em contato com agentes do poder de organizações estrangeiras’ que pudessem prejudicar a segurança econômica do país. O objetivo era restringir profissionais de trabalhar para veículos internacionais.
Pioneira
A Tunísia foi o primeiro país árabe a adotar a rede e, sem surpresas, o primeiro a reprimi-la. Depois da divulgação de uma seleção de 17 documentos secretos enviados da embaixada americana na Tunísia a Washington, ativistas do Nawaat criaram rapidamente um site – o Tunileaks. O governo também foi rápido no contra-ataque, bloqueando-o. Listas de emails, contas no Facebook e contas de email de supostos líderes também foram hackeados. Informações de Rohan Jayasekera [Index on Censorship, 5/1/11].