Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Revista fechada por sátira de presidente

A revista iraniana Shahrvand e-Emrooz publicou, há um mês, um desenho em sua capa que mostrava sete homens ajoelhados. Um deles está falando, enquanto os outros o escutam atentamente. O cenário lembra uma pintura antiga. Mas nota-se que as figuras são personagens modernos do Irã.

O homem que fala é Esfandiar Rahim Mashaei, chefe de gabinete do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O desenho é uma sátira das lideranças políticas do país. O presidente aparece entre os homens que escutam o que Mashaei tem a dizer.

Esta semana, a Shahrvand-e-Emrooz foi fechada por ordem do governo. Acredita-se que por causa da imagem de um mês atrás. A publicação da revista já havia sido interrompida após as eleições de 2009, em uma onda repressiva que pôs fim a diversos títulos iranianos, mas ela havia voltado a funcionar há alguns meses.

Disputa por poder

A imagem que parece ter ofendido o governo representa o temor entre iranianos conservadores diante da crescente influência política de Mashaei, sogro do filho de Ahmadinejad. Seguidores do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, acreditam que o conselheiro presidencial pretende diminuir o poder do clero no Irã. Críticos de Mashaei, que defende a abertura cultural, dizem que ele tem o presidente sob seu “feitiço”.

A relação de Ahmadinejad e Mashaei, além de enfurecer a ala conservadora do país, custou ao presidente o apoio de Khamenei. Credita-se à influência de Mashaei a disputa de poder, nos últimos meses, entre Ahmadinejad e Khamenei.

A oposição acredita que, ao se juntar às ideias relativamente liberais de Mashaei, o linha-dura Ahmadinejad estaria tentando encontrar um meio de atrair votos e se manter no poder – a próxima eleição presidencial ocorre em dois anos.

Abertura relativa

Talvez por influência do próprio Mashaei, e com a aproximação das eleições parlamentares, marcadas para o início de 2012, o governo de Ahmadinejad tenha dado mais espaço para a atuação da imprensa de oposição – com o objetivo de amansá-la. Mas a Shahrvand e-Emrooz e o jornal Roozegar, também fechado esta semana, parecem, na visão das autoridades, pelo menos, ter exagerado nas críticas ao presidente. Acredita-se que o Roozegar tenha sido fechado pela publicação de uma entrevista com um analista político iraniano que falou sobre os protestos no país após as eleições de 2009.

A organização Repórteres Sem Fronteiras condenou o fechamento das publicações. “Apesar de alguns gestos conciliatórios, as autoridades iranianas continuam a reprimir a mídia e os jornalistas”. O Irã ainda é um dos países que mais prendem profissionais de imprensa, de acordo com dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas. De acordo com o censo de 2010 da organização, o país mantinha 34 jornalistas encarcerados. Informações de Saeed Kamali Dehghan [Guardian.co.uk, 6/9/11].