‘A New Yorker ganhou prêmios por seus artigos sobre mudanças climáticas e a Vanity Fair publica uma edição ‘verde’, mas tente encontrar a política ambiental da empresa proprietária Conde Nast. Não dá. A Newsweek publicou uma capa sobre ‘O esverdeamento da América’, mas sua dona, a Washington Post Company, não revela os fornecedores da revista ou diz de onde vem o papel. Talvez Bob Woodward, do Post, devesse investigar.’
O trecho acima é de artigo do jornalista Marc Gunther, da Fortune [22/2/07], sobre como algumas publicações americanas não se importam na prática com as preocupações que recheiam suas páginas. Gunther tentou apurar com grandes empresas dos EUA que publicam revistas no país sobre suas políticas ambientais, levando-se em consideração os crescentes temores sobre o aquecimento global. O resultado não foi nada bom – mas há esperanças.
Evitar o problema
‘A hipocrisia na indústria de revistas é profunda’, diz Todd Paglia, diretor-executivo da organização Forest Ethics (Ética da Floresta), que protege florestas ao cobrar responsabilidade das empresas pelo papel de imprensa que compram. ‘A Conde Nast parece não notar a estranheza de se fazer uma série na New Yorker sobre mudanças climáticas enquanto contribui com o problema usando papel de proveniência irresponsável.’
Gunther encontrou relutância nas grandes editoras em falar publicamente sobre o impacto que sua produção tem no meio ambiente, o que, para ele, sugere como estas empresas não se preocupam com o problema – ou querem evitá-lo. Há, entretanto, exceções. A Hearst, que publica a revista da apresentadora Oprah Winfrey e a Cosmopolitan, está desenvolvendo um programa para compra responsável de papel – mas a empresa não divulga detalhes do programa.
Parceria pela diferença
Um projeto que inclui grandes companhias como a americana Time Inc., a editora alemã Axel Springer, a Random House UK e a empresa de embalagens Tetra Pak também promete fazer a diferença – pelo menos, é um começo. Todas as companhias são clientes da Stora Enso, fornecedora de papel finlandesa-sueca. As empresas formaram uma parceria com a Stora Enso para monitorar sua cadeia de fornecedores até as florestas da Rússia e tentar garantir que a colheita da matéria prima seja feita de maneira sustentável.
Gunther diz que evita escrever sobre a Time Inc., pois a editora é responsável pela publicação da Fortune, mas acredita que as práticas ambientais da empresa merecem reconhecimento. A Time Inc. se uniu, em 2003, com a Nike, a Staples, a Hewlett Packard e o grupo sem fins lucrativos Metafore para formar o Paper Working Group, com o objetivo de promover a comercialização e o uso responsável do papel. O grupo trabalhou em parceria com organizações ambientais para medir sua contribuição ao efeito estufa e estabeleceu objetivos de redução da emissão de gases. A companhia, diz Gunther, divulga seus fornecedores de papel e, em 2006, conseguiu comprar 70% de seu papel de fontes certificadas como sustentáveis.
Impacto
Gunther afirma que a empresa – maior editora de revistas do mundo – passou a se preocupar com o meio ambiente em parte para evitar se tornar um alvo de grupos ambientalistas como o Greenpeace, mas foi também influenciada pela paixão de David Refkin, hoje diretor de desenvolvimento sustentável da Time Inc. Refkin entrou na companhia em 1982 e se tornou responsável pela compra de papel no fim dos anos 80. O executivo é também presidente de uma organização chamada National Recycling Coalition (Coalizão Nacional de Reciclagem).
O projeto na Rússia, batizado de ‘Da Rússia com Transparência’, começou porque a Stora Enso importa madeira do país. Os parceiros da iniciativa encontraram duas companhias de corte e transporte de madeira locais e trabalharam com elas para que melhorassem suas práticas ambientais e pudessem obter o certificado do órgão independente Forest Stewardship Council (Conselho de Administração de Florestas). Dois grupos sem fins lucrativos, o Transparency International e o Centro de Pesquisa Karelian, da Academia Russa de Ciências, monitoram o projeto.
Para Florian Nehm, diretor de sustentabilidade da Axel Springer, que publica revistas e jornais, é importante que as empresas se preocupem não apenas com a qualidade visível de seus produtos, mas também com a qualidade ‘invisível’: seu impacto ambiental e social. ‘Há três mil jornalistas trabalhando para a Axel Springer. Eles criticam tudo e todos, e só podem fazer isso com credibilidade se a empresa para a qual trabalham tiver, ela própria, padrões adequados’, diz.
Isso deveria ser um chamado de alerta para as outras editoras, conclui Gunther. ‘Aquelas que ignoram suas questões ambientais podem estar colocando em risco sua reputação’.