Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Revista-símbolo da cultura hip hop fecha as portas

Na semana passada, a revista independente R&B: Vibe, fundada pelo produtor musical Quincy Jones em 1992, anunciou seu fim, em meio à crise que atinge a indústria jornalística americana. A publicação, de propriedade do grupo de investimentos Wicks desde 2006, tinha tiragem de 800 mil cópias e era leitura obrigatória entre os amantes de hip hop nos EUA. A última edição, publicada no dia 30/6, homenageou o cantor Michael Jackson, morto cinco dias antes.

A primeira edição da revista foi uma ‘edição-piloto’ publicada pela Time Warner – Jones e Steven J. Ross, então presidente da companhia, eram amigos. Somente no ano seguinte a Vibe começou a ser distribuída regularmente. Com foco em hip hop, R&B e cultura urbana jovem, a publicação teve papel importante no final da década de 90, pois constituía um espaço que valorizava a música negra, permitindo que ela ocupasse o espaço cultural que ocupa hoje. ‘Acho que mudamos de mãos tantas vezes que seus proprietários nunca entenderam a missão da Vibe. Fomos ameaçados de fechamento desde o começo. Cada edição era uma batalha por respeito’, resume Rob Kenner, editor que trabalhou na revista desde sua criação.

Black Music

Há 16 anos, poucos artistas negros recebiam destaque nas publicações americanas – exceto na Vibe. ‘Cada vez que eu vejo um negro do ramo de entretenimento na capa da InStyle ou da Cigar Aficionado, penso na Vibe. É preciso lembrar que este tipo de cobertura que vemos hoje não existia antes dela’, diz Danyel Smith, editor-chefe da revista.

Naquela época, a publicação era lida não só por negros, mas pelos fãs de hip hop e R&B. ‘Acho que a revista definiu um momento cultural que tomou conta de todo o país. Os jornalistas e colaboradores da Vibe eram participantes da comunidade hip hop, iam a shows e às mesmas festas que os cantores’, diz Ta-Nehisi Coates, blogueiro e colunista da revista Atlantic. Talvez por isso a revista tenha conseguido atrair leitores jovens, tão desejados por anunciantes.

No contexto atual, no entanto, a necessidade de haver uma publicação como a Vibe parece ter diminuído: os EUA têm um presidente negro, estrelas de rap alcançaram o estrelato e hoje fazem parte do mainstream. Além disso, o declínio de novos artistas e a instabilidade da propriedade da Vibe contribuíram para o seu fechamento. Há rumores de que Jones tem planos de comprá-la do Wicks Group para transformá-la em uma revista online. Sem a Vibe no mercado, só existem duas grandes revistas de grande circulação focadas na cultura hip hop e R&B nos EUA: a XXL e a Source. Informações de David Carr [New York Times, 2/7/09].