O advogado Anatoly Kucherena, que representa Edward Snowden, informou durante uma coletiva de imprensa televisionada em Moscou, na quinta-feira [7/8], que o ex-funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional americana) recebeu uma prorrogação de três anos para permanecer na Rússia. Desta vez, inclusive, Snowden terá autorização para viajar para outros países – contanto que seu tempo de permanência no exterior seja inferior a três meses.
Em 2013, Snowden foi acusado pelas autoridades americanas de espionagem e roubo de propriedade do governo após divulgar importantes relatórios oficiais, alguns deles comprovando que os Estados Unidos faziam espionagem não autorizada de cidadãos, empresas e até mesmo de chefes de Estado.
A permissão concedida pela Rússia, no entanto, não equivale a asilo político. Kucherena disse que Snowden só se torna elegível para tentar a cidadania russa a partir de 2018, porém não sabe se seu cliente tem a intenção de fazê-lo.
Sem acordo com os EUA
De acordo com a Casa Branca, a extensão da permanência de Snowden na Rússia não muda o desejo do governo dos EUA para que ele retorne e responda formalmente às acusações criminais. Ned Price, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, garantiu que, caso Snowden volte aos EUA, ele terá todas as proteções legais às quais tem direito.
Kucherena afirmou que os representantes do Snowden estão abertos para um encontro com o novo embaixador dos Estados Unidos na Rússia, mas que não há razões para que seu cliente retorne a seu país natal.
Iniciativa para a liberdade de imprensa
Nos últimos meses, Snowden tem transitado entre os países que não têm relação amigável com os EUA, como China, Cuba e Rússia, já que seus documentos de viagem foram cancelados pelo governo americano.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, concedida em julho de 2014, Snowden disse que está financeiramente seguro no momento, pois possui economias substanciais (resultantes de seu cargo na NSA) e recebeu inúmeras premiações e remunerações por palestras lecionadas no mundo todo desde que denunciou a espionagem do governo americano. Ele também está em processo de obtenção de financiamento parar criar uma fundação ligada à liberdade de imprensa, onde pretende desenvolver ferramentas que permitam que jornalistas se comuniquem de forma segura.
Durante a coletiva de imprensa, Kucherena revelou que Snowden estava estudando russo e que possuía um emprego relacionado à área de TI, mas não forneceu mais detalhes. Ele negou que Snowden estivesse vivendo em uma habitação fornecida pelo governo russo ou sob a proteção de agentes do governo, ou mesmo que estivesse trabalhando para o governo de Putin.
Inspiração perigosa
Agências de inteligência dos EUA temem que Snowden tenha alcançado o status de celebridade na posição de delator e que ele possa inspirar outros indivíduos a divulgar informações confidenciais que afetem a segurança nacional (o que de fato parece já estar ocorrendo).
A ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton comentou o caso de Snowden em uma entrevista à revista alemã Der Spiegel: “Creio que ele poderia ter provocado o debate [sobre segurança da informação] em nosso país sem roubar e distribuir material que era propriedade do governo e que geraria consequências”, disse ela. “Ele é um mensageiro ruim para esta suposta mensagem pela qual está querendo receber crédito”.