O empresário Rupert Murdoch, dono do grupo de mídia News Corporation, compareceu pela primeira vez, nesta quarta-feira (25/4), a uma sessão do Inquérito Leveson, aberto a pedido do primeiro ministro britânico para investigar os padrões éticos da imprensa no país. A comissão, liderada pelo juiz Brian Leveson, foi criada após o escândalo dos grampos telefônicos no tabloide News of the World, do grupo de Murdoch.
Em seu depoimento, o magnata disse ser um “mito” a ideia de que recebe “tratamento preferencial” de políticos por conta do poder de seus jornais – e afirmou que mitos como este são disseminados por jornais rivais, como o Independent e o Guardian. “Depois de um tempo, se essas mentiras são repetidas sem parar, elas acabam pegando”, completou.
Durante quase quatro horas, Murdoch foi desafiado com perguntas sobre a influência política da News Corp, mas negou qualquer tipo de poder excessivo e classificou sua relação com políticos britânicos como “uma parte importante do processo político”.
Debate político
O empresário disse ainda que a decisão do primeiro-ministro, David Cameron, de interromper um feriado em família para encontrá-lo em uma ilha grega, em 2008, reflete a necessidade dos políticos, e não a dele. “Políticos desviam de seu caminho para impressionar as pessoas na imprensa, e eu não lembro de ter discutido nenhum assunto político pesado [com Cameron]. Algumas questões podem ter sido discutidas brevemente, mas não foi um encontro longo. E eu realmente não lembro dele”, respondeu, completando que “isso faz parte do processo democrático” e que todos os políticos são assim. “Certamente eles gostariam que nós apoiássemos seus pontos de vista de maneira favorável. E eu acho isso totalmente normal. Isso vale para todos os partidos. Somos muito sortudos neste país porque temos 10 jornais nacionais vibrantes para manter aceso o debate político”.
Murdoch declarou que ele e Cameron não debateram a contratação, pelo primeiro-ministro, do ex-editor-chefe do News of the World Andy Coulson para o cargo de diretor de comunicações do Partido Conservador, em 2007. O empresário disse ter ficado “surpreso como todo mundo” com a contratação de Coulson, que havia deixado o tabloide quatro meses antes, quando o editor responsável pela cobertura da família real admitiu ter ordenado grampos telefônicos para conseguir furos jornalísticos. Coulson deixou o governo no início de 2011, afirmando que o crescente escândalo dos grampos havia tornado impossível que continuasse a ocupar o cargo. O ex-editor, no entanto, continua a negar que tenha participado ou que soubesse da prática de grampos ilegais no News of the World.
Apoio da Cultura
Na terça-feira (24/4), o filho de Murdoch, James, ex-presidente da News International, unidade de jornais britânicos da News Corp, também prestou depoimento no Inquérito Leveson. Ele insistiu – como vem fazendo desde que o escândalo veio à tona – que nunca teve conhecimento dos grampos.
James admitiu, no entanto, ligações com David Cameron. Ele contou que, em 2009, chegou a dizer ao líder do Partido Conservador que o tabloide The Sun apoiaria suas ambições eleitorais – mas refutou a ideia de que o apoio político o teria ajudado a conseguir aprovação para a compra da operadora de TV por satélite BSkyB. “Eu jamais faria este tipo de cálculo grosseiro”, afirmou. James deixou a presidência da BSkyB no início do mês.
O ministro da Cultura, Jeremy Hunt, passou a sofrer pressões para deixar o cargo, esta semana, depois de alegações de que teria passado informações sigilosas à News Corp quando o grupo tentava comprar a BSkyB – da qual já possui 39%. Hunt era o encarregado do governo para avaliar a operação de compra e decidir se ela seria aprovada. A pressão teve início depois que o Inquérito divulgou um dossiê com mensagens de email detalhando a relação entre o ministro e um executivo do alto escalão da News Corp. Em uma das mensagens, é dito que Hunt “compartilha dos objetivos” do grupo.
James reconheceu que teve conversas com o ministro sobre seus negócios e a indústria midiática, mas negou que ele tenha sido seu aliado na operação da BSkyB. A News Corp acabou desistindo da compra por conta do escândalo dos grampos.
Império
O grupo de Murdoch é dono de diversos jornais britânicos – 8% de sua receita vem do Reino Unido. Nos EUA, a News Corp é dona dos jornais Wall Street Journal e New York Post, da rede de TV Fox, do estúdio cinematográfico 20th Century Fox e da editora Harper Collins, entre outros veículos de comunicação.
O Inquérito Leveson já ouviu mais de 100 testemunhas desde o início de suas audiências, em novembro passado. Com informações do Guardian, da ITV News e da ABC News [25/4/12].
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