Na mesma semana em que a Suprema Corte dos EUA rejeitou pedido de revisão do caso Valerie Plame, que pode levar à prisão os repórteres Matthew Cooper e Judith Miller, um tribunal federal de apelações concluiu que outros quatro jornalistas americanos desrespeitaram a lei ao se recusarem a revelar a identidade de suas fontes de informação. O caso em questão é movido pelo cientista nuclear Wen Ho Lee contra o governo, que ele acusa de ter violado sua privacidade.
Lee, que trabalhava no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, foi demitido em 1999 depois de ser apontado como suspeito num possível caso de roubo de segredos nucleares para a China. O cientista afirma que foi vítima de vazamentos de informação ilegais do governo e entrou na justiça com a justificativa de que sua reputação foi arruinada. Os repórteres Josef Hebert, da AP, James Risen, do New York Times, Robert Drogin, do Los Angeles Times, e Pierre Thomas, na ocasião na CNN, publicaram reportagens sobre as acusações sofridas por Lee. Intimados a depor, se recusaram a responder questões sobre suas fontes. Um quinto jornalista, Jeff Gerth, do NYT, foi liberado por não ter demonstrado conhecimento de informações relevantes para a justiça.
Sem privilégio
No ano passado, um tribunal de Washington havia condenado os jornalistas ao pagamento de multa diária de US$ 500 por não revelarem as fontes. A multa foi suspensa depois que eles apelaram. Na semana passada, painel formado por três juízes concluiu que, neste caso, o privilégio dos jornalistas em proteger suas fontes anônimas foi ofuscado por dois fatores: os repórteres detinham informações essenciais para o processo, e o advogado do cientista havia esgotado todos os esforços para descobrir, sem sucesso, a identidade dos responsáveis pelo vazamento.
As decisões da justiça americana contra a proteção de fontes anônimas por jornalistas alarmou organizações defensoras da liberdade de imprensa. O publisher do NYT, Arthur Sulzberger Jr., declarou que elas contradizem a Primeira Emenda e comprometem a livre circulação de informações para o público. Aly Colon, professora de ética jornalística no Poynter Institute, na Flórida, afirmou que ‘qualquer jornalista que ofereça confidencialidade deve considerar que a cadeia é uma possibilidade real agora’. Já Lucy Dalglish, do Comitê de Repórteres para a Liberdade de Imprensa, resumiu o desapontamento no meio: ‘Foi uma semana realmente ruim para repórteres’. Informações de Carol D. Leonnig [The Washington Post, 29/6/05] e Adam Liptak [The New York Times, 29/6/05].