Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Senado cobra explicações do Pentágono

O presidente do Comitê das Forças Armadas no Senado intimou funcionários do Pentágono a explicar, em uma sessão fechada na sexta-feira (2/12), a campanha militar secreta que estaria pagando pela publicação de matérias elogiosas à missão do exército americano no Iraque. Segundo informações de Eric Schmitt e David S.Cloud [The New York Times, 02/12/05], a Casa Branca também teria expressado profundas preocupações sobre o assunto.

Os funcionários do Pentágono afirmaram que ainda não tinham recebido nenhuma explicação sobre o programa por parte dos generais no Iraque, incluindo os generais John P. Abizaid, George W. Casey Jr. e o tenente-general John R. Vinese, os três comandantes mais antigos nas operações no país.

Depois que o assunto foi divulgado na semana passada, o general Casey inicialmente protestou que o tema não poderia ser discutido publicamente, pois era secreto. Um funcionário do Pentágono afirmou, no entanto, que o general Casey foi informado de que sua resposta havia sido inadequada. O funcionário pediu anonimato para evitar possíveis represálias por revelar a reação do general.

O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, declarou que a sede do governo ficou preocupada com a informação e pediu ao Departamento de Defesa maiores esclarecimentos.

Matérias plantadas

A empresa americana de relações públicas Lincoln Group, que possui escritórios no Iraque, teria sido contratada para traduzir artigos escritos por soldados americanos para a língua árabe e, em muitos casos, distribuir os textos para agências de notícias a fim de serem publicados na mídia iraquiana. Em um momento no qual o Departamento de Estado investe milhões de dólares para promover uma mídia independente e profissional no país, a campanha militar parece acabar com os princípios básicos de liberdade e ética profissional tão enaltecidos pelo jornalismo ocidental.

Quando questionado sobre o assunto, o porta-voz do exército em Bagdá, major-general Rick Lynch, defendeu a prática, sem se referir especificamente às atividades da firma americana. Ele teria afirmado que o militante mais procurado no Iraque, Abu Musab al-Zargawi, também usava as notícias para avançar em seus objetivos terroristas. ‘Ele estava realizando seqüestros, explosões, e com isso atraia cobertura internacional dos jornais que davam a entender que ele era mais capaz do que é na verdade. Ele estava mentindo para o povo iraquiano’, disse Lynch.

Um funcionário do Pentágono afirmou que é possível que o programa tenha começado como um esforço para comprar espaço nas publicações iraquianas para artigos identificados como vindos do governo dos EUA e apenas depois ter evoluído para uma atividade obscura, onde a fonte dos textos passou a ser omitida.

As atividades do Lincoln Group foram divulgadas em primeira mão pelo Los Angeles Times na quarta-feira (30/11). A denúncia provocou um debate em Washington sobre como os EUA deveriam promover a mídia independente e livre no Oriente Médio e em outras partes do mundo.