Em 2004, 22 jornalistas dos EUA receberam intimação para comparecer a tribunais e revelar fontes confidenciais. Tudo em nome da colaboração com investigações federais. Repórteres que se recusaram a fazê-lo, como Judith Miller, do New York Times, e Matthew Cooper, da Time, enfrentam agora ameaça de cadeia. Em 9/12, Jim Taricani, da TV WJAR-TV, de Providence, foi condenado a seis meses de confinamento domiciliar por se recusar a divulgar a identidade de uma fonte.
De 1991 a 2001, menos de nove repórteres por ano eram convocados a tribunais do país para revelar suas fontes. O aumento deste número é preocupante, diz o senador democrata Christopher J. Dodd, de Connecticut, em artigo no Washington Post [28/12/04]. ‘O público tem direito à informação, e o papel da imprensa é preservar este direito’, ressalta, dando como exemplo uma situação hipotética de uma pessoa que trabalha numa grande corporação e descobre que a empresa está despejando lixo tóxico e contaminando o reservatório de água. Este funcionário pensa em chamar a polícia, mas tem medo de que sua ação chegue ao conhecimento dos chefes e isso o leve a perder o emprego. Ele decide entrar em contato com algum repórter de noticiário local e contar o que sabe, deixando claro que seu nome não pode ser divulgado. O jornalista investiga e publica o caso, os responsáveis são punidos e vidas são salvas.
A histórinha com final feliz, afirma Dodd, não terminaria da mesma forma se acontecesse nos EUA de hoje. ‘Se os jornalistas não podem prometer confidencialidade para suas fontes, muitos cidadãos conscientes irão optar por não compartilhar a informação que detém por medo de perderem seu emprego, sua reputação, e até sua vida’.
Ameaça à democracia
Pressionados por promotores a revelar suas fontes, os repórteres não podem se dar ao luxo de garantir-lhes a segurança de suas identidades. Se o fazem, são punidos simplesmente por realizar seu trabalho. Desta forma, a disposição de denunciar irregularidades é comprometida. Quando isso acontece, diz o senador, todas as outras liberdades asseguradas por uma sociedade democrática são também ameaçadas.
Ele dá como exemplo o caso Watergate, da década de 1970, quando os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein denunciaram a rede de ilegalidades que chegava ao presidente Richard Nixon, com ajuda de um informante conhecido até hoje apenas como Deep Throat (Garganta Profunda). ‘Alguém realmente acredita que Deep Throat revelaria aos repórteres os segredos do governo se não tivesse a garantia de permanecer anônimo?’, questiona.
Hoje, 31 estados americanos e o Distrito de Columbia têm leis que protegem o direito do jornalista a não revelar a identidade das fontes. ‘É preciso que haja uma lei federal forte e abrangente que proteja as fontes confidenciais’, defende o senador.