Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Serviço de TV da Telefônica
sofre com ação de hackers


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


TV PAGA


TV via satélite da Telefônica é alvo de piratas


Elvira Lobato


‘Inaugurada no ano passado, a Telefônica TV Digital -transmitida via satélite, com 280 mil assinantes no Estado de São Paulo- é alvo de piratas. Os códigos que liberam o acesso aos canais pagos foram decifrados por hackers.


A empresa soube da ação dos hackers há seis meses, mas vinha tratando o problema em sigilo. Há cerca de três semanas, a informação chegou à ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) e ao Seta (Sindicato das Empresas de TV por Assinatura).


O serviço de TV por satélite da Telefônica é protegido pelo sistema de criptografia (codificação de sinais) Nagra 2, desenvolvido pela empresa Nagravision, da Suíça. Os hackers violaram o Nagra 2 e, em conseqüência, os canais distribuídos pela Telefônica puderam ser acessados gratuitamente.


O diretor do serviço da Telefônica para a América Latina, Pedro Luis Planas, disse à Folha que a empresa e a Nagravision já conseguiram dificultar a ação dos piratas, mas esperam ter uma solução definitiva para o problema em um mês.


Ele poderia ser solucionado com a troca dos cartões inteligentes -que contêm a senha para acesso aos canais pelo satélite- existentes dentro dos receptores, nas casas dos assinantes. Mas a empresa avalia que o problema ainda é pequeno e está sob seu controle e decidiu esperar que a Nagravision chegue a um software que feche a porta para os hackers.


Os canais são captados gratuitamente pelo receptor Azbox, de fabricação supostamente coreana, lançado recentemente. O equipamento tem alta capacidade de processamento e memória e foi projetado para receber os canais abertos de televisão disponíveis nos satélites. Os hackers divulgam pela internet os códigos de acesso aos canais pagos, que estão no satélite Amazonas. Os dados são transferidos para o receptor por pen drive.


A equipe antipirataria da Telefônica descobriu o problema por acaso. A Nagravision não informou a empresa sobre a violação, porque contava em solucionar o problema rapidamente, o que não aconteceu. Segundo Planas, o código de acesso aos canais está sendo trocado uma vez por semana, para dificultar a ação dos piratas. Nas primeiras mudanças, os novos códigos eram decifrados pelos hackers em poucas horas. Na semana passada, precisaram de dois dias.


A Telefônica calcula que a proporção de acesso pirata em sua base de assinantes seja ainda pequena. Ela tem rastreado a importação dos receptores na América Latina e concluiu que 10 mil caixas da marca Azbox entraram no Brasil por intermédio do Uruguai.


Venda


A reportagem da Folha conversou com vendedores nas cidades de Santos e de Barretos, ambas no Estado de São Paulo. Os receptores são oferecidos a partir de R$ 500, com promessa de entrega pelos Correios.


A quebra dos códigos afetou todas as operadoras de TV via satélite usuárias do sistema Nagra, e não só a Telefônica. Entre as afetadas, está a segunda maior operadora de TV via satélite dos EUA, a Echostar.


A DirecTV (atual Sky) teve seu sistema de codificação, conhecido pela sigla NDS, concorrente do Nagra, violado por piratas em 2000. Na época ela trocou os cartões inteligentes de todos os assinantes.


Alguns operadores temem que a Justiça considere o receptor desbloqueado como inovação tecnológica, e não como produto pirata. A ilegalidade estaria na ação dos hackers e no uso indevido do receptor.


Para o advogado Marcos Bitelli, que assessora programadores estrangeiros, não há dúvida de que tanto fabricantes quanto usuários podem ser processados por pirataria.


No pacote de programação da TV Telefônica Digital há canais de televisão abertos, e a lei brasileira do direito autoral protege as emissões dos radiodifusores. Também o Código Brasileiro de Telecomunicações, segundo Bitelli, qualifica como crime a interceptação de sinais de telecomunicações, o que abrange os sinais de transmissão da TV paga.


O diretor da Globosat, Alberto Pecegueiro, disse confiar em que a Telefônica e a Nagravision encontrem um antídoto. ‘Para cada gênio que desenvolve um sistema de segurança, há outro que descobre um meio de quebrá-lo. O importante é as operadoras reagirem logo.’’


 


 


MÍDIA & JUSTIÇA


Fernando de Barros e Silva


O vazio e a fúria


‘Caroline Sustos (sobrenome de guerra) está presa há mais de 50 dias. Ela integra o grupo que pichou um dos andares do pavilhão do Ibirapuera na abertura da Bienal de São Paulo. Aquela que ficou conhecida como Bienal do Vazio virou, enfim, um caso de polícia.


A prisão desta jovem me parece um exagero absurdo e cruel. Sim, há a lei. Mas imagine o leitor se os ‘artistas’ da especulação imobiliária fossem em cana a cada predação do bem público que patrocinam, não raro em conluio com o poder público, para construir esta cidade tragicamente horrorosa e desumana.


Isso não redime outros vandalismos, claro que não. As artes da pichação podem fazer sentido como ritual de grupo, catarse, terapia, mas o resultado é regressivo social e esteticamente. Não há nenhum valor artístico associado à transgressão gravada nas paredes sujas. Trata-se, antes, da irrupção em língua cifrada de um mal-estar pouco digerido na cultura brasileira.


‘Nas paredes surgem pichações monótonas, cuja única mensagem é o autismo: elas exorcizam o eu que não mais existe. (…) Nas ações espontâneas expressa-se a raiva das coisas em bom estado, o ódio por tudo o que funciona e que forma um amálgama indissolúvel com o ódio por si mesmo’, escreveu Hans Magnus Enzensberger no ensaio ‘Visões da Guerra Civil’, de 1993.


Como se viesse confirmar o diagnóstico do alemão, a garota, com a voz infantilizada, disse o seguinte: ‘Eu me identifico com o vazio. Sentia falta de alguma coisa na minha vida, fazia coisas e nada cobria aquilo. Sentia um buraco. Comecei a pichar, foi tapando aos poucos…’


Entre o vazio existencial da jovem Sustos e o vazio conceitual da Bienal há menos identificação do que antagonismo: a fúria da primeira é um impulso desesperado de vida que traz à luz o espírito burocrático e mortificante da segunda.


O templo da arte contemporânea (a Bienal) faz aqui o papel (ou papelão) de museu do que há de pior na tradição nacional. Ou esse qüiproquó artístico-policial não é um sinal das nossas iniqüidades de sempre?’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Não deixe de consumir’


‘Abrindo os telejornais de Band e Record, nos feirões de carros, ‘é só baixar o preço que o consumidor comparece’. Na manchete do ‘Jornal Nacional’, ‘No primeiro sábado após as medidas contra os efeitos da crise, concessionárias ficam lotadas’.


E ontem, meio da tarde, Zeca Camargo espalha que ‘o domingo está agitado’ na 25 de Março. ‘Só um terço das lojas planejava abrir, mas depois de sábado, quando um milhão de pessoas passaram aqui, decidiram que era um bom dia para vender. O comércio já sonha com bom Natal, apesar da crise.’


Para reforçar, a manchete do ‘Jornal da Band’ de sábado foi para o populista José Luiz Datena. ‘Exclusivo. Presidente Lula diz que vai anunciar novas medidas contra crise e pede mais uma vez que brasileiro não deixe de consumir. Contratação de Ronaldo pelo Corinthians também foi assunto…’


APAVORANTE


Na manchete da Folha Online, ‘Banco Mundial prevê desemprego em 2009’. E a nova edição da ‘Fortune’ ouve Nouriel Roubini e outros com ‘previsões realmente apavorantes’ para o ano que vem -de uma ‘bolha’ nos títulos do Tesouro americano até a falta de comida.


PRIMAVERA


Já o investidor de imóveis e mídia Sam Zell, que dias atrás pediu falência para a cadeia Tribune, surgiu na Reuters com a previsão de que o mercado imobiliário se recupera já na primavera americana. E dizendo que ‘Brasil, China e Oriente Médio’ seguem boas áreas de investimento.


ÀS FAVAS


No topo das buscas de Brasil por Google News, Yahoo News e Inform.com, agências noticiavam que o dono da Vale pediu ‘pessoalmente’ a Lula que ‘alivie as leis trabalhistas’ para evitar mais demissão. No enunciado da entrevista de Roger Agnelli ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’, ‘É hora de medidas de exceção’.


RAÚL & LULA & OBAMA


Do ‘New York Times’ ao argentino ‘La Nación’, a cobertura segue o dirigente cubano Raúl Castro por Venezuela e Brasil. A primeira parada mostra o quanto Cuba se fia no petróleo de Hugo Chávez, diz o ‘NYT’. Já a viagem a Salvador pode iniciar ‘um diálogo indireto com o futuro governo Barack Obama’. Na avaliação da instituição Americas Society, Lula ‘tem o crédito internacional e ideológico para ser interlocutor nesse processo’.


‘CÃO’


O ‘NYT’ postou a imagem na home, mas logo tirou. O ‘WSJ’ nem chegou a dar a cena. Mas os canais de notícias CNN e Fox News e sites noticiosos como Huffington Post e Drudge Report (acima) exploraram a não mais poder


CONTINUA…


O vespertino ‘Evening Standard’ deu ainda na sexta e ‘Guardian’, ‘Sun’ e outros destacaram no sábado o ‘veredicto aberto’ no caso Jean Charles, que representou derrota para a polícia londrina que matou o brasileiro.


Mas ontem o ‘Telegraph’ já veio com colunas em defesa da ação policial -e o ex-prefeito Ken Livingstone saiu por BBC e tablóides defendendo o líder da operação para novo chefe da polícia. Em reação, no ‘Times’, ‘Família Menezes cobra 300 milhões’ de libras de indenização.


MÉRITO INDUSTRIAL


Gilmar Mendes recebeu elogios e a comenda Ordem do Mérito Industrial da Fiesp, postou o site Consultor Jurídico. Ontem, estava no ‘Canal Livre’, da Band. Hoje, recebe prêmio de Direitos Humanos da OAB-SP. E vai ao ‘Roda Viva’, da Cultura.


E NA CAPA


Protógenes Queiroz surgiu nas bancas e nos blogs, no final da semana, em longa entrevista à ‘Caros Amigos’ -com novos alvos, inclusive a longa descrição de uma investigação que ele teria realizado nos anos 90, sobre suposto crime financeiro.’


 


 


JORNALISMO & CULTURA


Raquel Cozer


Seminário em SP discute o futuro da crítica literária


‘‘Resolva sempre sem entrar no mérito da questão’, anotava Roberto Schwarz em 1970, dentro de seus ‘19 Princípios para a Crítica Literária’, que descreviam, em tom irônico, vícios da vida intelectual no país.


Embora marcado pelos debates da época, o manifesto levanta uma discussão ainda relevante sobre os caminhos da crítica literária. É sobre o papel e as formas dessa área após suas metamorfoses no século 20 que trata o Seminário Internacional Rumos Literatura – Crítica Literária, de amanhã a quinta, no Itaú Cultural (veja quadro).


‘Partimos da idéia de que, por vários ângulos, a crítica literária tem de se redefinir. Como ela se posiciona, por exemplo, diante dos estudos culturais, em voga nos anos 90, que questionaram inclusive a literatura’, diz o curador Samuel Titan Jr., professor de teoria literária da USP.


A questão sobre a ‘tentação’ do crítico literário de se pronunciar sobre temas além da arte verbal abre o ciclo, na mesa ‘Crítica Literária e Crítica Cultural’, com José Miguel Wisnik, músico e professor de literatura brasileira na USP, e Martín Kohan, professor de teoria literária na Universidade de Buenos Aires. A mediação é de Natalia Brizuela, da Universidade de Berkeley (EUA).


‘As Formas da Crítica’, com Silviano Santiago e Flora Süssekind, trata do modo como a crítica passou a existir dentro da própria criação literária. Discussão similar ocorre em ‘Crítica e Poesia’, em que Marco Lucchesi e Marcos Siscar falam da poesia como exercício de crítica, sob mediação do argentino Gonzalo Aguilar, autor de ‘Poesia Concreta Brasileira: as Vanguardas na Encruzilhada Modernista’ (Edusp).


Completam o ciclo, que encerra o Rumos Literatura 2007/08, as mesas ‘Atualidade de Erich Auerbach’ e ‘Atualidade de Machado de Assis’.’


 


 


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Amy Harmon


Pelo computador, uma visita aos avós


‘DEER PARK, Nova York – Seu avô queria brincar de tomar chá, mas Alexandra Geosits, 2, disse que só tinha suco de maçã. Ela estendeu a ele um copo de plástico e riu, esperando para ver se o avô aceitaria a substituição.


Avô e neta estavam separados por mais de mil quilômetros. Suas visitas acontecem diante do computador em suas respectivas casas, mas isso não parece incomodá-los. Como muitos outros netos e avós que vivem distantes, Alex e Joe Geosits, 69, apelaram à webcam.


Previstos há anos pela ficção científica, os videotelefonemas estão virando parte do cotidiano. E dois grupos demográficos que não são especialmente conhecidos por sua adesão à alta tecnologia estão entre os primeiros a fazer uso constante deles. De uma maneira que nem mesmo fotos enviadas por e-mail são capazes, a webcam promete transcender tanto a distância quanto a incapacidade de crianças muito pequenas de conversar ao telefone.


Avós entusiasmados dizem que essa forma mais recente de comunicação virtual torna ainda mais difícil a separação real. Outros se sentem tão alimentados por visitas feitas via webcam, com a ajuda de serviços como Skype e iChat, que eles fazem menos visitas em carne e osso. E ninguém sabe exatamente o que significa para uma geração de crianças de dois anos o fato de ter versões levemente pixeladas de seus avós como presenças regulares em suas vidas.


Mas num momento em que milhões de pessoas em todo o mundo se comunicam pelo ciberespaço, as aventuras de crianças e seus avós com suas webcams oferecem um vislumbre do que pode ser ganho ‘e perdido’ por quase estar lá.


‘Se não tivéssemos a webcam, nossos netos nos veriam como estranhos’, comentou Susan Pierce, 61, da Louisiana, falando de seus netos que vivem em Nova Jersey.


Ao longo do último ano, Pierce e seu marido acompanharam pela webcam Dylan, 17 meses, quando começou a andar e falar, e viram os desenhos de pessoas feitos por sua irmã Kelsie, 4, evoluírem de manchas indistintas para figuras que têm braços, mãos e dedos.


Entretanto, a ilusão poderosa da proximidade física também intensifica sua saudade da presença real dos netos. ‘A gente gostaria tanto de poder pegá-los no colo’, disse Pierce, professora de enfermagem. ‘O fato de vê-los nos faz sentir ainda mais saudade.’


Segundo a Associação Americana de Aposentados, quase a metade dos avós americanos vivem a mais de 320 quilômetros de distância de pelo menos um de seus netos. Merril Silverstein, socióloga da Universidade do Sul da Califórnia, descobriu que cerca de dois terços dos netos só vêem seus avós paternos ou maternos algumas vezes por ano, quando muito.


Por isso, muitos avós acham que a webcam facilita a transição nas visitas em pessoa, quando os netos podem rejeitá-los porque não os reconhecem.


A família pode ter razões próprias para incentivar o uso da webcam. Quando Martha Rodenborn descobriu que Elena, agora com 4 anos, ficava tranqüila diante do computador em seu apartamento em Nova York enquanto sua avó, em Ohio, lhe lia histórias infantis, a webcam rapidamente fez da avó uma baby-sitter à distância. ‘Aquilo salvou minha vida’, disse Rodenborn.


Como a conexão da webcam é gratuita, os pais freqüentemente a deixam ligada por muito tempo. A inclusão recente de webcams na maioria dos laptops ajuda a explicar o aumento em 20% no número de videoligações no último ano, disse a analista Rebecca Swensen, da empresa de pesquisas em tecnologia IDC.


Segundo ela, cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo fizeram uma videoligação no último mês para fins de comunicação pessoal. Soldados americanos no Iraque usam webcams para serem vistos por suas famílias; pais em viagens de trabalho (incluindo o presidente eleito Barack Obama) dão boa noite a seus filhos, cara a cara com eles na tela.


Barbara Turner, de Ottawa, Canadá, uma vez cantou para ninar seu neto recém-nascido. Ela disse que quase pôde sentir o bebê se aconchegando contra seu ombro. Recentemente, porém, ela e seu marido viajaram às pressas para o Indiana, EUA, para acompanhar pessoalmente o nascimento do segundo neto. ‘Há certas coisas que não dá para fazer pela webcam’, disse ele. ‘É preciso viajar.’’


 


 


Anne Eisenberg


Novas tecnologias vão além da conversa fiada


‘Os interessados em melhorar suas habilidades comunicativas poderão algum dia contar com um auxílio incomum: programas de software que analisam seu tom de voz, seu comportamento diante do interlocutor e outras características de uma conversa. Os programas então dirão a seus usuários se eles tendem a interromper seus interlocutores, por exemplo, se dominam reuniões com monólogos ou se aparentam descaso quando outras pessoas estão falando.


O inventor da tecnologia é Alex Pentland, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que desenvolveu aparelhos semelhantes a celulares para ouvir pessoas enquanto conversam, além de programas de computador que observam os sinais de comunicação escondidos sob as palavras.


Se forem comercializadas, essas ferramentas podem ajudar seus usuários a lidar melhor com as muitas sutilezas das interações cara a cara e em grupo – ou, no mínimo, a portar-se melhor em reuniões.


Pentland vem equipando pessoas em bancos, universidades e outros lugares com smartphones customizados ou aparelhos finos, de aparência semelhante a distintivos, repletos de sensores presos a suas roupas, por dias ou meses. Enquanto essas pessoas conversam, os sensores coletam dados sobre o timing, a energia e as variações de seu diálogo.


As ferramentas que ele desenvolveu podem ajudar as pessoas a modificar suas táticas de comunicação, incluindo as que geram dinâmicas contraproducentes no trabalho, disse David Lazer, professor de política pública na Universidade Harvard.


Lazer elogiou a ‘riqueza das informações’ captadas no processo. ‘Os dados sutis, registrados minuto a minuto, revelam se você está falando, com quem prefere falar, qual é seu tom de voz e se você tem o hábito de interromper seu interlocutor.’


Muitos dos estudos feitos por Pentland com smartphones e distintivos com sensores embutidos são descritos em seu novo livro, ‘Honest Signals’ (Sinais Honestos), lançado recentemente pela MIT Press. Os distintivos utilizam sensores infravermelhos que detectam quando as pessoas estão cara a cara, acelerômetros ‘para registrar gestos’, microfones e processamento de sinais de áudio para captar o tom de voz.


Com os sensores, os distintivos são capazes de detectar o que Pentland chama de ‘sinais honestos, ou seja, sinais inconscientes transmitidos quando se está cara a cara com alguém’ e que sugerem, por exemplo, se a pessoa está ouvindo ativamente o que seus interlocutores estão dizendo e quando não o está. Pentland argumenta que esses sinais subjacentes freqüentemente são tão importantes para a comunicação quanto as palavras e a lógica.


Por exemplo, os distintivos registram quando os ouvintes reagem com acenos positivos da cabeça ou pequenas palavras de reconhecimento, como ‘certo’. Esse tipo de reação, diz ele, é uma espécie de comportamento espelhado que pode ajudar a criar empatia entre a pessoa que fala e aquela que ouve.


Ele também examina como as pessoas viram o corpo ao conversar, além de gestos e outros sinais freqüentemente inconscientes emitidos pela pessoa que fala.


Smartphones futuros que usem sua tecnologia poderão atuar como assistentes pessoais prestativos, fazendo o telefone tocar automaticamente quando as ligações forem de familiares e amigos, mas enviando outras ligações diretamente à secretária eletrônica.


‘O telefone poderá ser como um mordomo que conhece você muito bem’, disse Pentland, decidindo tocar forte no caso de uma ligação urgente, mesmo que seu proprietário tenha se esquecido de ligar o som do aparelho.


Na pesquisa, muitas medidas foram tomadas para manter anônima a identidade dos participantes, disse Anmol Madan, aluno de pós-graduação de Pentland. O microfone colhia os dados de áudio e registrava o tom e o tempo de conversa, mas não as palavras proferidas.


Madan constatou que os dados registrados pelos celulares são muito mais precisos do que relatos feitos pelos participantes das mesmas conversas. ‘Quando se recordam de seu comportamento, os humanos não são nada imparciais’, explicou.’


 ************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


 ECOS DA DITADURA


Alberto Dines


Uma história para não esquecer


‘Não é apenas uma data redonda: o 40º aniversário do AI-5 transcende a efeméride. A rememoração antecede o sábado, 13 de dezembro, e pelas revelações está fadada a reativar um debate prematuramente arquivado ou confinado à esfera acadêmica. O que vem dar na mesma.


O AI-5 atingiu o Estado brasileiro, afrontou os poderes constituídos, arrasou a República, feriu direitos individuais e coletivos, deu suporte à repressão dos Anos de Chumbo. Mas a fúria maior de seus inspiradores dirigiu-se contra a imprensa. Aliada e coadjuvante da quartelada que derrubou João Goulart em 1964, a imprensa funcionou sem grandes constrangimentos ao longo dos quatro anos e meio da primeira fase do regime militar.


É verdade que os grandes jornais nunca chegaram a exibir plenamente a vocação fiscalizadora e seu potencial de veemência. Exceção feita ao Correio da Manhã, do Rio, que comandou o apoio ao golpe e logo passou a criticá-lo e também a Tribuna da Imprensa, hoje fora de circulação.


Registraram-se reparos pontuais contra as arbitrariedades dos atos institucionais, contra a escolha de Costa e Silva como sucessor de Castelo Branco e contra a ausência de debates antes da promulgação da nova Constituição (a de 1967). Com prudência noticiaram-se prisões, cassações e as primeiras ações de militantes armados. As manifestações estudantis foram cobertas com destaque. A Frente Ampla – surpreendente aliança entre três ex-adversários, Carlos Lacerda, JK e Jango – foi acompanhada de perto.


Perto demais. A linha dura percebeu que a mesma imprensa responsável pela mobilização da classe média a favor da quartelada convertia-se ostensivamente em porta-voz da primeira tentativa de resistência política à ditadura. Detestou.


A Frente Ampla foi extinta formalmente pelo ministro da Justiça, Gama e Silva, em 5 de março de 1968 e nove meses depois era promulgado o AI-5, o golpe dentro do golpe: os falcões desfaziam-se dos parceiros que já não poderiam controlar.


Mordaça no Estadão, livro-reportagem de José Maria Mayrink, conta a história da censura imposta ao Estado de S. Paulo e desvenda importantes questões relacionadas com o cisma que marcou a segunda fase do regime militar.


A primeira medida censória deu-se antes mesmo do anúncio do AI-5, quando a Polícia Federal apreendeu parte da edição da sexta-feira, 13 de dezembro de 1968, que noticiou a recusa da Câmara Federal em conceder a licença ao governo para processar o deputado Márcio Moreira Alves (MDB-RJ).


Nem havia base ‘legal’ para a apreensão do jornal, mas os órgãos de segurança já estavam preparados doutrinariamente para recorrer à violência. A censura formal começou horas depois, naquela noite, quando funcionários da Divisão de Diversões Públicas da Secretaria de Segurança de São Paulo entraram na redação e começaram a examinar o noticiário político.


Mais ou menos à mesma hora, no Rio, encerrada a leitura pelo rádio e TV da íntegra do texto do AI-5, chegavam à redação do Jornal do Brasil quatro capitães e um major do Exército, uniformizados, aparentemente desarmados. Na condição de editor-chefe pedi autorização ao diretor do jornal, M.F. do Nascimento Brito, para informar o leitor de alguma maneira que o jornal estava sendo manipulado. Como jornalistas era nosso dever mostrar que o jornal estava controlado por não-jornalistas.


Nascimento Brito autorizou e advertiu – ‘não quero bagunça’. Não houve bagunça: os censores, inteiramente despreparados, examinavam na minha sala as provas de todas as páginas (inclusive da seção de esportes), mas na oficina tipográfica faziam-se outras. E estas eram as que seguiam para a impressão.


Não houve bagunça: no sábado pela manhã o Rio sabia que o jornal estava sob censura. Na tarde seguinte, quase ocorreu uma cena de pugilato porque o major se sentiu ferido nos seus brios, mas foi contido pelo novo chefe, um tenente-coronel. Agora sabiam como operar: eram sete, parte fazia os cortes na minha sala, os outros verificavam na oficina se suas determinações estavam sendo cumpridas.


Inútil: o JB não saiu no dia 15 de dezembro, domingo. O outro diretor, o embaixador Sette Câmara, primeiro governador da Guanabara, muito ligado a JK (de novo a Frente Ampla) estava sendo procurado pela PF e a direção da empresa, diante desta ameaça, considerou não haver condições para circular. Decisão de grande efeito: estávamos em plena temporada natalina, ficou evidente a anormalidade da situação. Os anunciantes demonstraram inesperado espírito público e transferiram todos os anúncios para os dias seguintes.


Importante rever estes episódios não para valorizar desempenhos pessoais e empresariais, nem emular a audaciosa iniciativa editorial deste Estadão magnificamente executada por Mayrink. Nossa imprensa deve ser estimulada a se examinar, rever-se, individuar-se, competir.


Os versos de Camões e as receitas culinárias para substituir as matérias censuradas nas páginas do Estadão e do Jornal da Tarde não foram bravatas ou simples exibições de criatividade. Foram recusas frontais à aviltante autocensura. Manifestações de soberania moral. Se durante o Estado Novo nossos jornais tivessem exercitado igual determinação, a primeira mordaça não teria vingado ao longo de 8 anos (1937-1945). Antes de empresas, jornais são instituições, representam compromissos sociais que não podem ser fraudados.


O pretexto do AI-5 foi o discurso de Moreira Alves e a recusa da Câmara em entregar seu mandato ao governo militar. A verdadeira intenção era emascular a imprensa, diminuí-la. Conseguiram em alguns casos, em outros não.


O mais grave é que quatro décadas depois, pesquisa publicada pelo jornal Folha de S. Paulo revela que 82% dos entrevistados ignoram o que foi o AI-5. Culpa do ensino ou culpa da mídia? Culpa de outra mordaça, esta invisível, tenaz, letal: a banalização. Podem chamá-la de esquecimento.’


 


 


O Estado de S. Paulo


Livro que relata censura ao ‘Estado’ será lançado hoje


‘O livro-reportagem Mordaça no Estadão será lançado hoje, às 19 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2.073). A obra, de 216 páginas, traz um relato da censura no jornal e a reprodução de páginas com textos, fotos e charges vetados após a edição do AI-5, em 13 de dezembro de 1968.


Para escrever o livro, o jornalista José Maria Mayrink ouviu mais de 40 personagens. A censura no Estado começou dia 13, quando a edição foi apreendida. O general Sílvio Andrade não gostou do editorial Instituições em frangalhos, no qual o então diretor do jornal, Julio de Mesquita Filho, criticava o presidente Costa e Silva. O Jornal da Tarde também foi apreendido.


Como o Estado resistia à censura, a ditadura colocou censores no prédio do jornal. Em maio de 1973, ao ser proibido de noticiar uma demissão no governo, o Estado trocou a foto censurada pelo anúncio de um programa da Rádio Eldorado, Agora é samba. Publicou depois trechos de Os Lusíadas. No JT, o diretor Ruy Mesquita publicou receitas de bolos.’


 


 


EUA


O Estado de S. Paulo


Bush escapa de sapatada durante visita a Bagdá


‘AP e Efe, Bagdá – Um jornalista iraquiano arremessou seus sapatos ontem contra o presidente americano, George W. Bush, durante entrevista coletiva no Iraque, onde ele fez uma visita-surpresa ontem. Mostrando agilidade, Bush desviou dos sapatos, que o jornalista da TV Al-Baghdadi lançou um a um, enquanto chamava o líder americano de ‘cachorro’. Bush não deu importância ao ocorrido: ‘Esses atos não me preocupam, quem faz isso quer chamar atenção.’ Segundo a cultura árabe, atirar um sapato contra alguém é uma das piores ofensas.


Durante a visita, Bush defendeu a ocupação americana e saudou pacto de segurança assinado entre EUA e Iraque. ‘Ainda há muito trabalho a ser feito’, afirmou após se reunir com o premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, em Bagdá. Os dois líderes ratificaram o acordo que prevê a retirada gradual dos soldados americanos até o fim de 2011. ‘A guerra ainda não acabou’, afirmou Bush, alegando que o combate está em seu caminho ‘decisivo’ para a vitória. ‘O trabalho não é fácil, mas é necessário para a segurança dos EUA, para a esperança iraquiana e para a paz mundial.’’


 


PUBLICIDADE EM CRISE


Marili Ribeiro


Com crise, agências começam a fazer demissões


‘O Grupo Eugênio, que abriga a maior agência de serviços de marketing imobiliário do Brasil, demitiu 60 dos seus 200 empregados na semana passada. Os cortes são reflexo direto da retração no mercado imobiliário, um dos primeiros no País a sentir os efeitos da crise global. ‘É lamentável fazer demissões e nós poderíamos ter contornado a situação se a legislação trabalhista não fosse tão obsoleta’, diz Maurício Eugênio, presidente do grupo.


Para atravessar esse período conturbado, a empresa propôs aos funcionários uma redução salarial de 30% a partir deste mês, com a gradual retomada aos níveis anteriores após fevereiro, quando ele acredita que os lançamentos imobiliários devem voltar. Mas a proposta, diz, não teve acolhida.


‘Nós dobramos de tamanho nos últimos dois anos acompanhando o desenvolvimento do mercado imobiliário’, conta. ‘Mas ele sofreu uma redução drástica do ritmo de negócios, algo em torno de 50% ante o ano anterior, o que nos obrigou a repensar o modelo de atuação.’


O presidente do Sindicato dos Publicitários do Estado de São Paulo, Benedito Antonio Marcello, que esteve na agência Eugênio depois que uma denúncia chegou à entidade, explica que a redução salarial só seria possível mediante acordo feito em assembléia dos empregados, com a devida participação do sindicato, assim como a abertura do balanço da empresa para se comprovar a queda dos resultados. ‘Além dos 30% de corte salarial, eles propuseram pagamento em quatro parcelas do 13.º salário e redução de 15% no valor do vale-refeição. Os funcionários não concordaram com isso’, explica Marcello.


COLUCCI


Outra agência que enfrenta problemas é a Colucci, que demitiu nove pessoas, reduzindo a equipe à metade. Com 35 anos de atividade, a empresa vive o seu pior momento, como admite o seu próprio dono, Oscar Colucci. ‘Penamos muito este ano com perda de clientes e receita’, diz. ‘Vamos fechar no dia 19 e reabrir em janeiro com outra configuração. Seremos uma agência pequena.’’


 ************