Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Seymour Hersh na Venerdi

O embaixador americano no Brasil, John Danilovich, além de sua simpatia pessoal, parece não se esquivar de perguntas embaraçosas que lhe são feitas pela imprensa. Outro dia, ao ser perguntado se o conhecimento das torturas de Abu Ghraib (prisão dos Estados Unidos no Iraque) teria aumentado o antiamericanismo no mundo, concordou imediatamente, mas acrescentou que o mundo também devia entender que tinham sido eles a divulgar o fato. Dito desta forma, parece que ‘eles’ são o governo americano. Não foi bem assim: a divulgação das atrocidades cometidas pelos soldados estadunidenses no cárcere iraquiano foi feita pelo semanário New Yorker e assinada por Seymour Hersh.

Hersh, hoje com 70 ano, é considerado, sem favor algum o mestre mundial dos repórteres investigativos. Em 1969, quando era um desconhecido correspondente da United Press International, divulgou a história do massacre de My Lai, o vilarejo vietnamita, onde os infantes da 11ª brigada americana mataram sem 347 pessoas, em sua maioria anciãos, mulheres e crianças. Este trabalho lhe valeu a consagração, com o Prêmio Pulitzer.

Passados todos estes anos, continua acreditando nesses instrumentos tradicionais do jornalismo: curiosidade, tenacidade e ceticismo. Hersh concedeu em 5/11 entrevista a Giampaolo Cadalanu, de Vernedi (inserção do jornal la Repubblica). Suas respostas são uma aula. Para ele, todo jornalismo é investigativo e todos os jornalistas deviam sempre indagar, encontrar uma história e verificá-la, escrevê-la e fazê-la publicar. Esta última é a parte mais difícil. As regras são simples: o lado do governo é manter as coisas secretas, o dos jornalistas, revelá-las.

Duas partes de sua entrevista merecem reprodução:

Pergunta – O ponto mais sensível no jornalismo investigativo talvez seja a habilidade de convencer que as pessoas falem. Como conseguiu que os militares lhe contassem sobre Abu Ghraib?

Resposta – Soldados, agentes de informação, funcionários administrativos sempre se abriram comigo, desde os tempos do Vietnã. Acredito que tenham confiança, porque sou muito claro naquilo que faço. Não tenho projetos escondidos ou histórias ambíguas. Faço sempre saber aquilo que quero às pessoas que entrevisto, mesmo que possa ser duro para elas. A maior parte dos militares que conheço não pensa que existam jornalistas de direta ou de esquerda, liberais ou conservadores, falcões ou pombas. Querem somente um repórter que mantenha reservado o nome das fontes, recolha informações e as passe de maneira acurada. É o que procuro fazer, deixando anônimas minhas fontes.

(…)

P – Qual será a próxima grande história do jornalismo investigativo?

R – Na América, nos outros países não sei, a grande história será sobre George W. Bush. Quem é? Que necessidade o levou à loucura de distrair-se do Afeganistão, de Osama bin Laden, e lançar-se à guerra contra o Iraque, sem informação concreta alguma da inteligência sobre as armas de destruição em massa ou as ligações com a al-Qaeda? Sem dúvida foi a decisão mais estúpida em 150 anos de presidência americana, e veja que houve muitas outras decisões estúpidas.

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Jornalista